clicRBS
Nova busca - outros

Notícias

 | 23/10/2010 15h28min

Lembranças de um presidente

De suntuosas joias árabes às mais variadas camisetas de futebol, imagine a quantidade de presentes acumulada por um presidente ao longo de oito anos de mandato. Pois não é preciso imaginar. O acervo de 1,3 milhão de itens, incluída toda a correspondência recebida por Lula, está catalogado e é preparado para deixar Brasília

Até o final de dezembro, um comboio irá cruzar os portões do Palácio do Alvorada, em Brasília.

Na carroceria dos 13 caminhões, uma carga de valor inestimável: o maior acervo já colecionado por um presidente da República na história do país.

Entre os mais de 1,3 milhão de itens recebidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em oito anos de mandato estão desde apetrechos gaúchos, como cuias e bombas, a joias incrustadas de pedras preciosas. Cada objeto é fotografado e identificado por uma equipe de 50 servidores, antes de ser despachado para um depósito de 120 metros quadrados no Alvorada.

O trabalho é chefiado pelo historiador Cláudio Soares Rocha, 49 anos, um goiano de Catalão que, desde 1988, cuida dos acervos presidenciais. Diretor de Documentação Histórica da Presidência, Rocha trabalhava no Arquivo Nacional quando aportou no Planalto a pedido do então presidente José Sarney. Preocupado em preservar a memória do cargo e inspirado no modelo das bibliotecas presidenciais dos EUA, Sarney também queria extinguir uma prática soturna mantida pelos seus antecessores.

– Sempre que chegava ao final do mandato, uma fogueira imensa ardia no Palácio do Alvorada. Eram os presidentes queimando tudo aquilo que não queriam que fosse divulgado – lamenta Rocha.

Quando Sarney se despediu do Planalto, levou 400 mil documentos registrados pelo historiador. Nos últimos anos, contudo, a carga de trabalho tem sido ainda maior para Rocha. Guardião do baú de Lula, do dia da posse até meados de setembro ele havia catalogado 1.266.945 correspondências, entre postais e eletrônicas, 15.239 presentes e 21.158 documentos e audiovisuais.

Botas de Bush, arte de Obama

As remessas ocupam oito salas divididas por compensados e um exíguo corredor no subsolo do Planalto. Lula recebe os mais inusitados objetos. Já ganhou um torno mecânico, devolvido a pedido do antigo dono, um saco de banha de porco para usar contra a bursite, descartado por causa do mau cheiro, e até dois cavalos, doados para fazer equoterapia. Dos gaúchos, só nas recentes viagens ao Estado, o petista recebeu uma mateira, botas, bombacha, chapéu, lenço vermelho e guaiaca, além de camisetas de futebol como as do Avenida, do Santa Cruz e do Guarani de Venâncio Aires. Se quiser sorver um chimarrão, Lula já tem 13 cuias.

Os itens mais preciosos, contudo, são os recebidos de chefes de Estado. No depósito da Presidência, há uma maquete em ouro do Palácio Imperial do Marrocos e um colar também em ouro, com cerca de um metro de comprimento e quatro centímetros de largura, adornado por 24 esmeraldas e 20 rubis, oferecido pelo rei da Arábia Saudita, Abdullah Bin Abdulaziz Al Saud. Nem todos os agrados dos colegas são tão suntuosos. O ex-presidente americano George Bush costumava enviar botas e cintos de cowboy. Barack Obama, por sua vez, prefere peças assinadas por artistas plásticos. Já remeteu uma árvore de cristal e uma caixa acrílica com os primeiros artigos da Constituição dos Estados Unidos gravados em ouro.

Lula estuda criar uma entidade para manter sua memória à frente da Presidência, mas ainda não se definiu pela sede.

– Sempre digo que sou o encarregado do maior presente de grego da história de Brasília. Chego para os presidentes e falo: “agora você cuida disso tudo, às suas expensas” – brinca Rocha.

É LEI

Ao final do mandato, cada presidente deve arcar com os custos do transporte e armazenamento de seu acervo e depois permitir consultas públicas. Sarney mantém sua coleção na Fundação Memória Republicana, no Maranhão. Fernando Collor recém está organizando seus documentos. Itamar Franco dispõe de um fundo, em Minas Gerais, e Fernando Henrique Cardoso, cuja carga encheu oito caminhões, guarda seus pertences no instituto que leva seu nome, em São Paulo.

fabio.schaffner@gruporbs.com.br

FÁBIO SCHAFFNER  -  Brasília
Nuvem Esperança

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.