Eleições | 20/10/2010 22h14min
Segundo reportagem exibida no Jornal Nacional nesta quarta-feira, o despachante Dirceu Rodrigues Garcia admitiu ter recebido dinheiro do jornalista Amaury Ribeiro Júnior para agir como intermediário no esquema de quebra de sigilo fiscal na Receita Federal.
Dirceu trabalha como despachante na porta de uma unidade da Junta Comercial, local onde recebeu a encomenda do jornalista Amaury Ribeiro Júnior. No dia 8 de outubro, o jornalista recebeu a encomenda que havia feito ao despachante em um bar no Centro de São Paulo. De acordo com Dirceu, o encontro no local durou pouco mais de meia hora. Ele afirma que o jornalista reagiu com satisfação quando viu as cópias do Imposto do Renda e teria dito que a missão estava cumprida.
— Esperei ele conferir a documentação e ele me passou o valor combinado. Conferi o valor e fui embora — disse o despachante.
Questionado sobre quanto cobrou por cada quebra de sigilo, respondeu: "R$ 700 cada uma". Como eram 12, o total foi de R$ 8,4 mil.
Um mês depois da entrega, Dirceu e o jornalista voltaram a se encontrar. Amaury deu ao despachante mais R$ 5 mil. Segundo ele, dois depósitos foram feitos nos dias 9 e 17 de setembro deste ano.
A PF já fechou praticamente todo o caso. Resta saber agora de onde saíram os R$ 12 mil e quem é a pessoa do PT que pagou a hospedagem do jornalista.
Entenda o caso
Investigação da Polícia Federal (PF) aponta que o jornalista Amaury Ribeiro Jr. encomendou a quebra dos sigilos fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, da filha de José Serra, Verônica, do genro dele, Alexandre Bourgeois, e de outros tucanos entre setembro e outubro de 2009, época em que trabalhava no jornal Estado de Minas. Em depoimento que durou 13 horas na semana passada, Amaury confirmou que pagou R$ 12 mil ao despachante Dirceu Rodrigues Garcia, que trabalha em São Paulo. No entanto, não contou de onde saiu o dinheiro.
No ano passado, a encomenda de Amaury foi repassada pelo despachante Dirceu Rodrigues Garcia ao office-boy Ademir Cabral, que pediu ajuda do contador Antonio Carlos Atella. Este usou uma procuração falsa para violar os sigilos fiscais de Verônica e seu marido, Alexandre, numa agência da Receita Federal em Santo André (SP).
Amaury participou do grupo de inteligência da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT) este ano, já sem vínculos com o jornal mineiro. Esteve, inclusive, numa reunião em abril com a coordenação de comunicação da campanha petista para supostamente discutir a elaboração de um dossiê contra os tucanos. Entre setembro e outubro de 2009, o Estado de Minas teria custeado as viagens de Amaury a São Paulo para buscar os documentos.
Ele disse à PF que decidiu fazer a investigação depois de descobrir que o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) estaria comandando um grupo de espionagem a serviço do presidenciável José Serra (PSDB) para devassar a vida do ex-governador de Minas e senador eleito, Aécio Neves (PSDB).
Amaury afirmou que deixou o jornal no fim de 2009, mas deixou um relatório completo de toda a apuração, levando uma cópia consigo para futura publicação de um livro. Na sua versão, a inteligência do PT teria tomado conhecimento do conteúdo de sua investigação e o convidou para trabalhar na equipe de campanha de Dilma. Depois de deixar o emprego no jornal, Amaury participou de uma reunião em abril com integrantes da pré-campanha de Dilma.
Presente ao encontro, ocorrido num restaurante em Brasília, o delegado Onésimo de Souza afirmou à polícia que foi chamado para cuidar da segurança do escritório do jornalista Luiz Lanzetta, responsável até então pela coordenação de comunicação da campanha de Dilma. Lanzetta deixou a campanha em junho após a revelação do caso. Amaury confirmou que durante o período em que ficou em Brasília, em abril deste ano, negociando com a equipe da pré-campanha de Dilma, a despesa do flat onde ficou hospedado foi paga por "uma pessoa do PT", ligada à candidatura governista.
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