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Eleições  | 01/10/2010 03h41min

Alvo do PT durante anos, Neuza Canabarro diz estar sendo valorizada pelos antigos algozes

Relação de ódio aconteceu durante o governo Collares

Paulo Germano

Quinze anos atrás, seria impensável a senhora de bolsa caramelo – na foto que ilustra esta reportagem – posando e sorrindo no meio de tanto petista. Mulher do ex-governador Alceu Collares, Neuza Canabarro (PDT) agora se orgulha de apoiar o PT, partido que lhe despejou as mais duras críticas de sua carreira política.

Neuza era secretária de Educação durante o governo de seu marido, entre 1991 e 1994. Criou o calendário rotativo e, nos deputados petistas, enfrentou uma oposição feroz que lhe rendeu ostracismo durante anos. Dizia ter alergia ao PT. Agora, alinhada a Collares, virou uma dissidente do próprio partido para defender o antigo algoz: em vez de apoiar José Fogaça, peemedebista coligado com o PDT, faz campanha para Tarso Genro (PT). Por que essa relação mudou tanto?

– A gente vai ficando mais velha e vai aprendendo. Construí uma amizade com o PT, que várias vezes reconheceu ter exagerado naquela época – diz.

Época em que o então deputado estadual Flavio Koutzii (PT) exigia que Collares demitisse a própria mulher. Afirmava que seria a única forma de o governador “viabilizar sua administração e resgatar o valor da educação no Estado”, conforme publicado em 6 de setembro de 1991, em ZH.

– Nos criticar é um direito dos deputados que precisam fazer oposição e, não tendo trabalho, exploram o trabalho dos outros.

Os tempos mudaram, diz ela. Depois que assumiu na Câmara de Porto Alegre, em 2004, ela afirma que foi o PT quem lhe apoiou. Embora ela fizesse parte da base do então prefeito Fogaça, não teve apoio da própria bancada nem da maior parte dos aliados para aprovar projetos que defendia.

– Quem me ajudou e votou comigo foi o PT. Quando o inimigo te fere, está no papel dele. Era o papel do PT 20 anos atrás. Agora, ser ferido pelos próprios companheiros dói muito mais – analisa a ex-vereadora.

Diz que sua inspiração foi o comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990):

– Prestes foi jogado na prisão por Getúlio Vargas. Quando saiu, depois de tanto sofrimento, que bandeira ele empunhou? A bandeira do Getúlio. “Mas depois de tudo o que você sofreu?”, perguntaram para ele. Prestes respondeu: “As pessoas passam, as bandeiras eu persigo”.

Collares foi alvo de colegas do PDT, que chegaram a arquitetar sua expulsão quando decidiu apoiar Tarso. Conselheiro de Itaipu – cargo concedido pelo governo federal –, o ex-governador se aproximou do PT em 2002, quando Lula assumiu. Neuza, até então, se mantinha mais distante.

 

"Era uma baixaria"

Neuza Canabarro reconhece que sofreu nas mãos do PT:

Zero Hora – No governo Collares, o PT foi o seu maior crítico?

Neuza – Com certeza. Era uma baixaria. Quando o médico perguntava se eu tinha alguma alergia, eu respondia: “Tenho alergia ao PT”.

ZH – Não há contradição em agora apoiar o PT?

Neuza – Não. Em primeiro lugar, vai completar 20 anos disso. A gente vai ficando mais velho e vai aprendendo. O PT era oposição, e estávamos saindo da ditadura, disputando espaço.

ZH – A senhora está mais próxima do PT do que do PDT?

Neuza – Não vamos sair do PDT.Queremos resgatar as bandeiras. Mas quem tem nos valorizado é o PT.

ZH – Sem rancores, então?

Neuza – Eu sofri muito. Nós perseguimos bandeiras. Somos extremamente coerentes, não temos olhos na nuca para ficar olhando só para trás.

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