Fábio Prikladnicki  |  fabio.pri@zerohora.com.br

Em contraste com a disputa para cargos majoritários, a corrida para a Assembleia Legislativa e para a Câmara dos Deputados está em segundo plano na cabeça dos gaúchos.

Faltando menos de uma semana para as eleições, no próximo domingo, 60% dos eleitores do Estado (o que equivaleria a 4,86 milhões de pessoas) não escolheram candidatos para essas vagas, segundo pesquisa do Ibope (veja a ficha técnica na página 14). Apenas 32% sabem em quem votarão para deputado estadual e 31% para federal.

Embora seja um número alto, não é um fenômeno novo, alertam especialistas. Mesmo com a proximidade do dia do pleito, a corrida para o parlamento parece menos relevante para a maioria dos eleitores – não apenas no Rio Grande do Sul, mas no país inteiro.

– Os dados refletem a falta de interesse do eleitor comum e, ao mesmo tempo, a ignorância sobre o que faz o Poder Legislativo, suas atribuições e responsabilidades. O presidencialismo tem essa característica de personalizar o exercício do poder, ao passo em que o Legislativo é uma instituição colegiada, sem rosto – observa Paulo Kramer, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

A pesquisa revela que o índice de indecisão é mais alto entre eleitores com escolaridade até a 4ª série do Ensino Fundamental (70% para deputado estadual) e com renda familiar de até dois salários mínimos (68% para deputado federal). Para Murillo de Aragão, consultor da empresa de análises Arko Advice, é um fenômeno natural:

– Pessoas com menos escolaridade têm acesso mais restrito à informação e menos consciência política.

É possível que os 60% de indecisos não estejam demorando mais para ponderar sobre os candidatos: possivelmente deixarão a escolha para a última hora, sendo influenciados por fatores aleatórios, como a sugestão de algum amigo ou a lembrança de um nome de candidato familiar – não necessariamente por confiança política.

– Ao contrário do que muitos pensam, os eleitores que já têm candidatos são pessoas mais politizadas ou conhecem algum deputado de sua região. É difícil buscar nomes na propaganda eleitoral, pois os candidatos a deputado falam pouco e, na maioria das vezes, dizem as mesmas coisas: defendem segurança, saúde e educação – avalia Céli Pinto, cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Segundo ela, os altos índices de mulheres indecisas (65% para deputado federal e 64% para estadual) em comparação com os homens (55% nos dois casos) são dados “impressionantes”.

– Apesar de as mulheres estarem cada vez mais presentes no mercado de trabalho, de forma geral ainda participam menos da vida pública do que os homens – explica Céli.

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