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Eleições  | 18/09/2010 04h06min

"Não vim como aventureiro", afirma candidato a vice-presidente pelo PV

Guilherme Leal se apresenta como exemplo vivo da união entre defesa ambiental e poderio econômico

Paulo Germano e Rosane de Oliveira

Fundador da Natura Cosméticos, Guilherme Leal comanda uma fortuna avaliada em US$ 2,1 bilhões. É a 463ª pessoa mais rica do mundo, segundo a revista americana Forbes, e desde maio também é candidato a vice-presidente do Brasil pela chapa do PV, liderada por Marina Silva. Leal, que ontem visitou a Redação de Zero Hora, se apresenta como exemplo vivo da união entre defesa ambiental e poderio econômico. Na Capital, conheceu o Acampamento Farroupilha, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, e conversou com empresários na Fiergs e na Fecomércio. Nesta entrevista, afirma que o segundo turno se tornou indispensável após os escândalos na Casa Civil. E assumiu “incompetência” de sua campanha por dificuldades em explicar à população o que é sustentabilidade.

Zero Hora – Por que um empresário bem-sucedido como o senhor resolveu se aventurar na política?

Guilherme Leal – Eu sou um empreendedor, e resolvi empreender na política. Comecei minha vida empreendendo no setor privado, e construí uma empresa em cima de valores. O principal deles é que, para cuidar da parte, é preciso cuidar do todo. Se eu quiser uma empresa próspera, preciso construir uma sociedade próspera, preciso cuidar do outro para cuidar do todo. Esse ímpeto de empreender na política, somado ao encontro com Marina Silva – que tem a mesma visão de país e futuro que eu – é que me fez aceitar esse convite.

ZH – O senhor concorda que foi escolhido como vice de Marina para tranquilizar o empresariado, resistente ao perfil ligado à esquerda que ela incorporou?

Leal – Acredito que a escolha esteja mais ligada à minha trajetória. Minha biografia mostra que há 30 anos, pelo menos, tenho envolvimento com esta visão de mundo, que enxerga a questão ambiental como uma oportunidade de geração de riqueza. Esta é a visão de Marina Silva, e acredito que esta conciliação de visões foi o principal motivo do convite. Agora, se isso tranquiliza o empresariado... Bom, na verdade, acho que a união da minha biografia com a dela ajuda a explicar o projeto.

ZH – O senhor tem demonstrado preocupação com a educação no país. Como o governo federal poderia retirar o Brasil dos últimos lugares nas avaliações internacionais?

Leal – A desigualdade existe por definição, mas o impossível de tolerar é a desigualdade de oportunidades. Não se pode aceitar que um brasileiro nasça predestinado a ser menos desenvolvido do que outro, como ocorre hoje. Marina Silva conseguiu, por meio de uma fresta na sociedade brasileira, se educar e, hoje, tem o apoio de 15 milhões de pessoas para virar a presidente da República. Ela é um símbolo de como a educação pode ser uma oportunidade transformadora na vida das pessoas. Definindo a educação como prioridade, é fundamental alocar mais recursos para esta área. Marina foi a primeira a dizer concretamente que ampliaria de 5% para 7% do PIB os recursos para a educação. Isto é suficiente? Não, ainda é pouco.

ZH – O senhor acredita que, com o recente escândalo envolvendo a Casa Civil, Marina Silva ainda poderia chegar ao segundo turno atraindo votos de indecisos?

Leal
– Um segundo turno nesta eleição é absolutamente fundamental. Estamos presenciando episódios muito sérios, que atingem os cargos mais importantes da República, segundo palavras do próprio presidente Lula ao apresentar sua candidata. O presidente destaca, inclusive no programa de Dilma, que ela ocupou o cargo mais importante do governo, a chefia da Casa Civil. E dois ocupantes deste cargo (Erenice Guerra e José Dirceu), nos dois mandatos do presidente Lula, deixaram a Casa Civil sob acusações sérias.

ZH – O discurso da sustentabilidade não está um pouco distante ainda do grande público?

Leal – Não gosto de culpar a vítima, prefiro assumir a responsabilidade. Talvez a gente precise aperfeiçoar a nossa forma de se comunicar. Se soubermos demonstrar para as pessoas que sustentabilidade está essencialmente na cidade... Oitenta por cento da população mundial estará vivendo em cidades nos próximos 20 anos. Estamos falando da vida dos cidadãos, de uma vida de qualidade, de um transporte coletivo de qualidade, de uma habitação de qualidade com saneamento, saúde, lazer e segurança integrados. Talvez a gente não tenha tido a competência de mostrar o que é sustentabilidade para o cidadão comum. Prefiro atribuir a nós essa incompetência de comunicação do que evitar tratar deste assunto.

ZH – Por que a candidatura de Marina não emplacou?

Leal – É uma briga difícil. Temos um minuto e 20 segundos de TV contra 10 minutos deles. Não ter caído em um primeiro momento já é motivo de celebração. Honestamente, minha expectativa é de que pudesse haver uma certa queda, porque é muito desigual o tempo de exposição. As pesquisas indicavam que Marina era desconhecida por 50% do eleitorado até o início do horário eleitoral. Com apenas um minuto e 20 segundos, a gente sabe que o eleitor tende a desligar a TV, ou assistir com muito pouco interesse àquele tempo pouco significativo.

ZH – O senhor sustenta que a defesa ambiental nunca se opõe ao desenvolvimento econômico. A sua empresa gasta muito dinheiro com reflorestamento, arquiteturas sustentáveis das fábricas, testes sem animais que só podem ser realizados na França. Para um microempresário, isso é impossível.

Leal – A Natura começou em um fundo de quintal. Ela só cresceu e se diferenciou porque acreditou nisso. Responsabilidade social e ambiental é para megaempresário e dono de padaria. Para o dono de padaria, que está ele mesmo no caixa, com um único funcionário servindo café, a responsabilidade social é pagar seu funcionário em dia, tratar bem seu cliente, varrer a calçada, regar a árvore ali na frente. É ter cidadania no seu espaço de atuação e com suas limitações. Porque isso vai aumentar seu resultado, sua clientela, vai fazer o dono de padaria prosperar. Ambiente não é a Floresta Amazônica, são as circunstâncias no qual ele está inserido.

ZH – Perdendo a eleição, o senhor prosseguiria na política?

Leal – Não vim como aventureiro. Eu pretendo seguir atuando politicamente. Se vou me candidatar a cargos públicos, aí o tempo há de dizer. Por enquanto, quero que haja um segundo turno nas eleições.

ZERO HORA
Adriana Franciosi / 

Ao lado do candidato do PV ao Piratini, Leal visitou Acampamento Farroupilha
Foto:  Adriana Franciosi


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