Além de lucrar com o prestígio do sobrenome, filhos e netos de políticos têm ainda outra vantagem quando resolvem se candidatar. Herdam uma valiosa estrutura deixada pelos antepassados – e comemoram os cabos eleitorais que surgem à farta anunciando apoio. No Rio Grande do Sul, pelo menos 19 candidatos são filhos, netos ou sobrinhos de pessoas com reconhecida trajetória política.

O levantamento, realizado em conjunto com as assessorias dos partidos, considerou apenas os descendentes de quem foi deputado senador, governador ou presidente da República (veja quadro nesta página).

A lista se multiplicaria caso fossem computados os herdeiros de prefeitos – não menos beneficiados em suas regiões –, mas são tantos que nem as siglas garantem se todos seriam lembrados.

Candidata à Assembleia pelo PV, Gisele Uequed reconhece o empurrão que recebe por ser filha de Jorge Uequed (PMDB), que, durante 20 anos, foi deputado federal (entre 1974 e 1994). Ela integra um partido pequeno, não aparece no horário eleitoral na TV nem no rádio e, teoricamente, contaria com uma estrutura precária de campanha. Não é bem assim.

– Muitos eleitores antigos do pai me ligam pedindo material de divulgação. Dizem que gostariam de vê-lo na política de novo, mas, como ele está afastado das urnas, querem trabalhar pela minha eleição – conta Gisele, 29 anos, que tem o próprio pai como coordenador de campanha.

Mais conhecida do eleitorado gaúcho, a ex-secretária estadual de Cultura Mônica Leal (PP) reconhece a migração do envolvimento entre eleitores do pai, Pedro Américo Leal, para a própria candidatura. O patriarca foi quatro vezes deputado federal e outras quatro vereador.

– Quem admira o Pedro Américo passou a votar em mim. Perceberam que a nossa forma de atuar é igual – diz ela, que, após passar pela Câmara de Vereadores de Porto Alegre, agora busca uma cadeira na Assembleia.

Muitos herdaram estrutura e máquina política de parentes

O caso é semelhante ao do colega de partido Beto Moesch (PP), vereador em Porto Alegre e também candidato a deputado estadual. Ele é filho do ex-deputado Guido Moesch. Segundo o coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Paulo Moura, esses herdeiros de votos conviveram tanto com a política, desde a infância, que foram induzidos culturalmente a entrar no jogo:

– Muitos foram carregados no colo por cabos eleitorais do pai ou do avô. Herdaram, portanto, toda a estrutura e a máquina política. Mas, depois da primeira eleição, eles precisam confirmar essa liderança na prática, mostrar que têm luz própria.

Veja quem são os candidatos:

Alfredo Scherer (PSDB - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Gleno Scherer
Beto Moesch (PP - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Guido Moesch
Christopher Goulart (PDT - Deputado estadual): Neto do ex-presidente João Goulart
Edegar Pretto (PT - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Adão Pretto
Gerson Burmann (PDT - Deputado estadual): Sobrinho do ex-deputado Beno Orlando Burmann
Gisele Uequed (PV - Deputada estadual): Filha do ex-deputado Jorge Uequed
José Otávio Germano (PP - Deputado federal): Filho do ex-deputado Otávio Germano
João Pedro Grill (PSB - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Beto Grill
Juliana Brizola (PDT - Deputada estadual): Neta do ex-governador Leonel Brizola
Lucas Redecker (PSDB - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Júlio Redecker
Luciana Genro (PSOL - Deputada federal): Filha de Tarso Genro
Marcelo Moraes (PTB - Deputado estadual): Filho do deputado Sérgio Moraes
Márcio Biolchi (PMDB - Deputado estadual): Filho do ex-deputado Osvaldo Biolchi
Matteo Chiarelli (DEM - Deputado federal): Filho do ex-senador Carlos Chiarelli
Mendes Ribeiro Filho (PMDB - Deputado federal): Filho do ex-deputado Mendes Ribeiro
Mônica Leal (PP - Deputada estadual): Filha do ex-deputado Pedro Américo Leal
Nelson Marchezan Jr. (PSDB - Deputado federal): Filho do ex-deputado Nelson Marchezan
Sueme Pompeo de Mattos (PDT - Deputada federal): Sobrinha do deputado Pompeo de Mattos
Vieira da Cunha (PDT - Deputado federal): Sobrinho do ex-deputado Liberato S. Vieira da Cunha