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Eleições  | 16/08/2010 03h35min

Vida Real: os desafios para a implementação do turno integral no Estado

Com o selo Vida Real, criado na campanha de 2008, ZH volta a fazer com que os candidatos se posicionem sobre assuntos controversos e não tergiversem

Fábio Prikladnicki  |  fabio.pri@zerohora.com.br

Um dos poucos pontos de concordância entre os candidatos ao Piratini, a implementação do turno integral nas escolas estaduais tem entraves que vão além da boa vontade dos discursos.

Embora haja consenso de que os alunos precisam de mais horas de aula por dia, a questão é como colocar a ideia em prática diante das carências que já cercam a educação no Estado.

Apenas 26 das 2.573 escolas estaduais funcionam em turno integral. As primeiras experiências de colégios que funcionam em dois turnos são relativamente recentes. Começaram na década de 1980, no Rio de Janeiro, no governo Leonel Brizola, com os Cieps. Em 1987, o então prefeito de Porto Alegre, Alceu Collares (PDT), transferiu a ideia para a Capital, dando continuidade ao projeto em sua gestão como governador, a partir de 1991.

No bairro Lami, em Porto Alegre, os 121 alunos da escola São Caetano têm aula das 8h10min às 16h35min. Fazem quatro refeições e participam de oficinas de informática, artes e esportes. São três salas de aula (além do refeitório e do laboratório de informática) em um prédio, e outras quatro salas num contêiner, estrutura apelidada pelo Cpers de escola de lata.

Victor, nove anos, aprova o sistema:

_ Ficar todo esse tempo na escola não enjoa. Gosto do futebol e da aula de educação física.

Mas a implementação do turno integral requer alguns cuidados, avisa Helena Sporleder Côrtes, professora da Faculdade de Educação da PUCRS:

_ As escolas têm inúmeras carências. Se o tempo na escola for ampliado e as carências permanecerem, nenhum problema será solucionado.

Coordenadora diz que faltam recursos e profissionais

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) _, os alunos dos ensinos Fundamental e Médio na rede estadual gaúcha ficam 4,2 horas por dia na escola, enquanto a média nacional das escolas estaduais é de 4,6 horas no Fundamental e 4,3 horas no Médio.


Independentemente do modelo, o aumento da carga horária esbarra em pelo menos dois obstáculos: a falta de pessoal e de recursos. A coordenadora estadual do projeto Escola de Tempo Integral, Hilda Liana Diehl, observa:

_ A ideia sempre foi aumentar as escolas de turno integral. O maior entrave são recursos humanos. O projeto prevê professores com um nível de capacitação, e na rede, às vezes, não há profissionais para atender a demanda.

As diferenças
— Enquanto as escolas de turno único no Estado custam, em média, R$ 3.479,17 aluno/ano, as de tempo integral custam R$ 4.346 aluno/ano*

— Das 26 escolas de tempo integral, 12 têm taxa de aprovação maior que a média estadual de 80,8%, e 13 têm taxa de abandono abaixo da média de 2%**

*Dados de 2009. Fonte: Secretaria de Educação.
**Dados de 2008, relativos ao Ensino Fundamental. Fonte: Secretaria de Educação, com números do Inep.

Vai implantar escola de turno integral? Qual seria o modelo?

TARSO GENRO - PT
Sim. Temos de começar de maneira pausada, para ter boa previsibilidade, um contraturno. Criar condições para que as crianças que não possam ir para casa porque os pais trabalham fiquem protegidas. Gradativamente, quando tivermos condição financeira, abrir a possibilidade de os pais optarem pelo segundo turno.

JOSÉ FOGAÇA - PMDB
Sim. Assumi compromisso com o PDT. Na Capital, introduzi o Cidade Escola. Quero respeitar desejo do PDT de que se crie escola de tempo integral, que é diferente. O aluno fica dois turnos na escola. Nosso compromisso é chegar ao final do governo com nove novas escolas integrais, espalhadas em nove regiões.

YEDA CRUSIUS - PSDB
Sim, gradativamente. É um piloto que quero implementar nas regiões onde existe o pior rendimento escolar, o menor nível de renda e o maior nível de violência. Se no local houver equipamentos de esportes de outra entidade, a escola aproveitará os equipamentos e fará segundo turno, até eu construir uma quadra para a escola.

PEDRO RUAS - PSOL
Sim. No modelo de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola. É uma escola onde a criança chega, toma café e estuda. Depois, tem almoço, vai fazer seus deveres, assistida, vai ter assistência médica e odontológica, ter educação física e aprender pelo menos mais um idioma, além de informática. Vai ter lanche e janta.

AROLDO MEDINA - PRP
Sim. Vou usar como modelo a rede Tiradentes da BM, um colégio com disciplina militar. O aluno vai para estudar, não para bagunçar. Sou contra o governo interferir na minha relação com meu filho. Se meu pai não tivesse me passado o laço umas cinco vezes, eu não seria o homem educado e civilizado que sou hoje.

CARLOS SCHNEIDER - PMN
Sim, é um dos nossos projetos. A parte educacional e a parte ocupacional, com atividades pedagógicas e esportivas. É mais barato incentivar políticas públicas de crianças com saúde, ocupá-las, tirá-las da rua, fazer parcerias com escolinha de futebol. O Estado tem de valorizar mais seu cidadão.

HUMBERTO CARVALHO - PCB
Sim, mas respeitado limite de horário de trabalho dos professores. Professores devem trabalhar num determinado horário, turno. No outro, permanece na escola corrigindo provas, planejando aulas, atendendo alunos e estudando. E para o estudante teria, no turno inverso, possibilidades de estudo, esporte, educação musical.

JULIO FLORES - PSTU
É uma possibilidade, não se pode descartar. Desde que fosse produto de um plano consistente de mudanças na educação. Muitas vezes, o fato de o aluno estar na sala de aula num turno e no outro ter outras atividades complementa a educação e a coloca em outra perspectiva. Hoje, as crianças ficam reféns do tráfico.

MONTSERRAT MARTINS - PV
Implantaria o turno integral em regiões de famílias mais vulneráveis. Turno integral pode ser necessário em determinadas áreas urbanas onde há mais dificuldade das famílias de suprir a função de levar a criança para a escola. Em outros locais, onde não há essa dificuldade, é menos oneroso fazer o turno inverso.

Jean Schwarz / 

Na escola São Caetano, na Capital, alunos estudam em turno integral, mas têm aulas em contêiner
Foto:  Jean Schwarz


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