Eleições | 09/06/2010 03h42min
Se o Brasil ganhar a Copa do Mundo, vai ter festa na Rua Araruama, em Porto Alegre: a governadora Yeda Crusius pretende fazer uma homenagem ao dono da casa ao lado da dela, o capitão Lúcio.
– Vou pedir autorização dos vizinhos para fechar a rua e comemorar – avisa.
Yeda lamenta não poder ir à Copa, como não pôde fazer outras viagens nestes três anos e meio de mandato, por conta dos problemas de relacionamento com o vice-governador Paulo Feijó. É por conta dessa experiência que ela agora não abre mão de participar da escolha do vice.
Pela primeira vez, a governadora falou ontem sobre o perfil do companheiro de chapa que deseja: alguém que tenha participado do governo e feito gestão. Ninguém se encaixa melhor nesse perfil do que o ex-secretário da Agricultura João Carlos Machado, que esteve ao lado dela do começo da administração até o início de abril deste ano, mas a governadora também se desdobra em elogios ao ex-chefe da Casa Civil Otomar Vivian.
Ontem pela manhã, Yeda recebeu Zero Hora em sua residência no bairro Vila Jardim, a casa que foi alvo de uma das principais polêmicas do seu mandato.
– Esta é a famosa mansão – ironizou, mostrando as salas de estar e de jantar, o muro que precisou construir depois das manifestações do Cpers, o pátio onde brincam o vira-lata Rex e a lhasa apso Mel e que abriga a gaiola de duas calopsitas.
Yeda diz que está pronta para entrar em campanha, animada com o carinho que recebe nas visitas ao Interior e convencida de que no Estado vai se repetir a polarização PT-PSDB.
A seguir, trechos da entrevista:
Zero Hora – A senhora pediu ao PP para participar da escolha do seu vice. Qual é o perfil do candidato dos seus sonhos?
Yeda Crusius – O que eu disse a eles é que, depois de ter feito um governo de resultados, com o apoio decisivo do PP, queria um vice que nos permitisse, já no dia 1º de janeiro, dar continuidade a esse governo. Gostaria de ter alguém que participou do governo como gestor, como secretário, num perfil que eu combinei com o Pedro Bertolucci (presidente estadual do PP) que devo dar a eles.
ZH – Há dois secretários com quem a senhora sempre demonstrou facilidade de relacionamento: João Carlos Machado e Otomar Vivian. A escolha será entre os dois?
Yeda – O agronegócio é uma locomotiva do RS. O PP está associado a essa modernidade que nos garantiu quatro supersafras e políticas de apoio à extensão. O João Carlos tem esse perfil de homem ligado ao agronegócio, à inovação, à tecnologia. E o Otomar tem esse brilho no relacionamento político, da condução da Casa Civil. São dois grandes nomes. Me parece que o PP se encaminha para discutir internamente e escolher um dos dois.
ZH – As pesquisas mostram a senhora em terceiro lugar, ainda com uma alta taxa de rejeição. Como a senhora imagina dobrar as resistências ao seu nome?
Yeda – Quando a campanha começar será zero a zero. A partir do começo da campanha, cada candidatura vai mostrar qual é o seu projeto, como trabalha politicamente, se veio para a guerra, se veio para dar solução. Eu venho com as minhas circunstâncias, as circunstâncias de um governo que a história vai escrever que sofreu uma pressão, uma oposição que não honra muito o Rio Grande.
ZH – O foco da sua campanha será a gestão ou a discussão deve ser mais ideológica?
Yeda – Uma coisa nunca vem sozinha. O que eu tenho a mostrar é que nós fizemos o que os outros não fizeram. Isso daí ninguém tira da realidade. Agora, uma campanha é política, e a linha que vamos desenvolver é uma linha que nos identifica e que nos diferencia na maneira de fazer política. Será uma batalha ideológica, sim, muito forte. A gente sempre ouve um certo grunido “vai ser guerra, vai ser guerra”. Olha, é guerra política.
ZH – A senhora tem medo da guerra?
Yeda – Não, a guerra não me assusta. O que me assusta são certas coisas da natureza humana.
ZH – O que lhe assusta na natureza humana?
Yeda – Conviver politicamente, socialmente, sempre querendo a destruição. Há pessoas que só sabem destruir. Não conseguem construir.
ZH – A senhora acredita que pode ser poupada de ataques do PT porque, em tese, José Fogaça seria um adversário mais difícil para Tarso Genro no primeiro turno?
Yeda – Eu busco entender a cabeça deles, mas todo candidato é difícil. Eles que não se espantem. Na boca de urna (em 2006) eu estava em terceiro lugar. Quando se abriram as urnas eu disparei. As urnas é que vão demonstrar se um candidato é mais ou menos difícil.
ZH – A senhora está convencida de que a polarização aqui no Estado será entre o PT e o PSDB?
Yeda – Sim, há tempos. Ela não é de agora.
ZH – Tarso Genro diz que o foco da campanha dele será a comparação entre as gestões do PT no município, no Estado e no Brasil com os outros partidos. Essa comparação interessa à senhora?
Yeda – Comparar é mostrar diversas faces da verdade. Agora, não vale comparar com uma coisa que está lá na Lua. Se é no mundo concreto, o Estado evidentemente melhorou, e a comparação entre governos me interessa, sim.
ZH – Em 2006, o foco da sua campanha foi o ajuste fiscal. Qual será a sua bandeira agora?
Yeda – O ajuste das contas por si não é nada. Gastar apenas o que se arrecada deveria ser norma. O ajuste que nós fizemos foi para mudar uma realidade que fazia com que os poderosos recebessem e os outros não.
ZH – Qual seria a marca para um eventual segundo mandato?
Yeda – O Rio Grande como um Estado verde. O Rio Grande é vocacionado, diferenciado do restante do Brasil. Eu batalhei muito para ter a fábrica de plástico verde da Braskem. Depois nós fomos atrás, com toda a bancada gaúcha, para plantar cana e produzir etanol. O Rio Grande tem de ser o Estado verde, incorporando a mais alta tecnologia, que incorpora valor, renda, trabalho.
ZH – O que a senhora faria para não repetir os conflitos do primeiro mandato?
Yeda – Acabou o conflito com os prefeitos, acabou o conflito do transporte escolar, dos precatórios, de um orçamento em que cada um puxava para o seu lado. Os verdadeiros conflitos políticos foram equacionados. O rótulo que tentaram me colocar e a provocação que fizeram encontraram a determinação de seguir naquele compasso, de não ceder. Não fui eu que provoquei brigas. O conflito está em quem atirava.
ZH – Nestes três anos e meio, a senhora praticamente não viajou ao Exterior por conta do conflito com o vice. Sente-se frustrada por não ir à Copa?
Yeda – É meio como me sinto em relação a meu filho, nora e netas. (que moram nos EUA). Ainda bem que tem TV e internet. Entro na sala deles, eles entram na minha. Como esportista e governadora, tenho que me conformar por não poder ir à Copa. Mas que vou estar ligadona, isso vou. Vamos estar lá no Centro Administrativo com telão e com pipoca, torcendo pelo time do Dunga.
ZH – A senhora confia na seleção de Dunga?
Yeda – Muito, muito. No início do governo me diziam que a política é a arte de enganar. Para mim não é. O Dunga também não está enganando. Nós temos o melhor dos times, não precisa ficar jogando purpurina por aí. Confio que o Dunga vai trazer a taça para o Brasil.
ZH – Se o Brasil ganhar, a senhora fará festa para o capitão Lúcio, seu vizinho?
Yeda – Fecho a rua. Pedindo licença para os vizinhos, claro. Não é como aquela demonstração aqui na porta da minha casa, que ninguém pediu licença (manifestação organizada pelo Cpers em 2009). O Lúcio é meu lindeiro. Sem dúvida, vou homenageá-lo, é um homem espetacular e que o Dunga foi buscar, merecidamente, para nos conduzir.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.