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Eleições  | 29/05/2010 21h08min

Após os escândalos: O temor de ser tesoureiro

Três das quatro principais chapas ao Piratini ainda não têm quem cuide do cofre. Denúncias tornaram a função inglória

Paulo Germano  |  paulo.germano@zerohora.com.br

Tradicional símbolo de cobiça na política, a chave do cofre agora põe todo mundo para correr. — Ninguém quer ser tesoureiro — resume o deputado federal Ruy Pauletti, vice-presidente do PSDB gaúcho.

Em síntese, a política brasileira colhe os frutos de uma série de escândalos que, nas últimas décadas, expôs o financiamento de campanha como o embrião da corrupção. O ícone desta prática é o caixa 2, que, recolhido às vésperas da campanha, ajuda a irrigar bolsos, meias e cuecas após a eleição. As gravações do mensalão do DEM em Brasília iluminaram ainda mais esse universo escuso.

A legislação estabeleceu limites ao financiamento, e os partidos assumem que a Justiça Eleitoral iniciou uma patrulha incessante. Mas o pior dos castigos percebe-se agora: acuados com o nome de colegas expostos à lama, empresários admitem desânimo em contribuir para as campanhas. Essa overdose de tensão faz da tesouraria o pavor dos políticos.

Secretário-geral do PMDB, o deputado federal Eliseu Padilha chegou a aconselhar o tesoureiro da sigla, Rospide Neto, a evitar qualquer envolvimento financeiro com a campanha de José Fogaça ao governo do Estado.

— Não vamos nos envolver com isso, não temos nada a ver com isso — adianta Padilha.

Tesoureiro de Tarso é o único confirmado

Sem tesoureiro para a campanha, interlocutores de Fogaça assumem que o braço direito do ex-prefeito, Clóvis Magalhães, pode ser convidado para o cargo. Magalhães tem repetido que se considera inapto para pedir dinheiro. Não é o único a fugir. Por conta da aversão à função entre os peemedebistas, a equipe de Fogaça pensa em montar uma junta de captação, diluindo o peso do cargo entre mais de uma pessoa. Para assumir as funções burocráticas, a ideia é contratar um contador profissional, desvinculado do partido.

Especialmente pela resistência do empresariado, é generalizada a previsão de orçamentos menores neste ano. O PMDB e o PSDB já concordam sobre o alvo para iniciar os cortes: a remuneração dos marqueteiros.

— Não entendo por que endeusar algumas pessoas que, na verdade, são simples mortais. Deve haver milhares no país que poderiam fazer a mesma coisa cobrando menos. Essa distorção tem de acabar agora — diz o deputado federal Claudio Diaz (PSDB), que coordenará a campanha da governadora Yeda Crusius à reeleição.

Entre as principais candidaturas ao Piratini, apenas a de Tarso Genro (PT) tem tesoureiro confirmado: o ex-deputado Estilac Xavier. Estilac diz que a escolha é fruto de sua lisura como político, além da confiança de Tarso. Um colega de partido tem outra visão:

— Ele foi assessor da Dilma Rousseff (ex-ministra da Casa Civil e candidata à Presidência pelo PT), está próximo das empresas lá de cima.

Denúncias de corrupção afugentam empresários

Mais robusto pilar das campanhas políticas, o empresariado agora se encolheu. Boa parte dos líderes do setor produtivo tem receio de ajudar um candidato e, logo adiante, avistar sua firma afundando em escândalo.

— Os empresários estão evitando fazer parte disso, não querem se envolver — diz o presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços (Federasul), José Paulo Cairoli.

Ele ressalta que a maioria dos empresários apoia uma candidatura por acreditar no projeto, não para barganhar benefícios. Mas os casos de corrupção acabam nivelando por baixo os interessados em contribuir.

Para escapar de eventuais retaliações, os demais empresários ouvidos por ZH pediram sigilo de identidade. Um deles, do setor petroquímico, doou mais de R$ 150 mil para duas candidaturas na última eleição ao Piratini. Para o próximo pleito, não vai liberar um centavo:

— A gente topa ajudar um candidato quando o projeto dele vai ao encontro de nossas convicções. Mas todos os partidos revelaram problemas com financiamento de campanha. Não preciso estar no meio disso.

Cairoli discorda: para ele, o empresariado peca ao se omitir diante da política. Segundo ele, uma classe tão importante para a economia precisa enfrentar eventuais frustrações pelo futuro do país.

O proprietário de uma rede gaúcha de supermercados garante que continuará contribuindo para campanhas. No entanto, tomará algumas precauções. A principal delas será receber apenas o candidato em pessoa, sem nenhum assessor junto:

— E precisa ser um candidato que eu já conheça. Uma relação de extrema confiança vai ser necessária.

Figurão no ramo calçadista, outro empresário diz que evitará qualquer combinação por e-mail. O objetivo é evitar registros que provoquem constrangimentos futuros.

Partidos penam para bancar pré-campanha

Embora a campanha comece oficialmente em julho, a pré-campanha já tem custos. Candidatos já peregrinam Estado afora em busca de apoio e exposição pública. Sem muito dinheiro em caixa, o resultado é a queixa abaixo:

— Estou apavorado — resume Rospide Neto, tesoureiro do PMDB.

Depois que a campanha começar, Rospide deve sair de cena para a equipe de captação que a legenda pretende criar. Até lá, no entanto, para ele seria bom que alguma empresa socorresse o partido com doações. As dívidas se acumulam.

Quando José Fogaça iniciou a pré-campanha, decidiu-se que São Borja seria o ponto de partida. Dada a distância de Porto Alegre, a opção foi locar um avião, especialmente para evitar desgaste aos mais velhos — o presidente do PMDB, Pedro Simon, tem 80 anos. Com táxi aéreo, em apenas um mês, a legenda gastou R$ 10 mil. Agora, viagem só de carro.

Mas enquanto o PMDB recebe R$ 70 mil por mês do fundo partidário (verba federal repassada pela direção nacional do partido), o PT ganha menos, R$ 42 mil. Não vive uma situação confortável: três locações aéreas do candidato Tarso Genro, marcadas sem o planejamento adequado, acabaram custando R$ 15 mil, segundo um dirigente do partido.

Já o tesoureiro do PT, Sérgio Nazário, prega o uso do transporte terrestre:

— O nosso candidato tem viajado de ônibus. Não há como fazer as caravanas de outra forma.

Fundo partidário do PSDB está suspenso

Em uma primeira análise, parece mais tranquilo o caso da governadora Yeda Crusius (PSDB). Além da natural exposição que o cargo lhe oferece, a tucana aproveita agendas de governo no Interior para, na sexta-feira, emendar com a pré-campanha em municípios próximos. Mas o fundo partidário da sigla, de R$ 29 mil, foi suspenso pela Justiça em 2009, após uma falha na prestação de contas.

Secretário-geral do PSDB, Carlos Callegaro diz que a equipe banca as viagens do próprio bolso. Deputados, Claudio Diaz (presidente da sigla) e Ruy Pauletti (vice), têm à disposição verba da Câmara para combustível e alimentação.

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