Eleições | 08/05/2010 20h28min
Às vésperas da eleição, cada vez mais “ideologia” parece esnobismo fora de moda. Entre todos os principais partidos, uma prioridade evidente é atingir o poder, seja com quem for, seja como for. Escancara-se um pragmatismo político no qual direita se abraça na esquerda, tempo de TV engole utopias e, para piorar, os que se dizem éticos emudecem frente aos desonestos. A intenção é a mesma: evitar ficar na oposição.
Maior legenda brasileira, o PMDB é o professor do birutismo. Tem o biruta de aeroporto e o agulha de bússola. São dois tipos de políticos, segundo teoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). O primeiro, o biruta, vai sempre na direção do vento. Para onde o poder soprar, lá vai o biruta, não importa se para a esquerda ou para a direita. Já o agulha de bússola tem um norte definido, ele mira suas convicções e avança com elas.
– Mas, no Brasil, estamos todos virando birutas de aeroporto – resume o senador.
Quando a ditadura militar (1964-1985) acabou, o PMDB chegou à Presidência em 1985 com Tancredo Neves e José Sarney – este, um vice que havia apoiado o regime militar e, após a morte do primeiro, acabou assumindo o comando do país.
Foi o abre-alas para todas as correntes participarem do governo, classificado pela expressão “é dando que se recebe” até por apoiadores.
Geddel critica “má vontade” contra PMDB
Hoje senador pelo Amapá, Sarney e a cúpula do PMDB apoiam a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse grupo já faz parte do governo federal. Uma outra ala, atualmente menos influente, prefere a candidatura de José Serra (PSDB). Um dos seus líderes é o ex-governador Orestes Quércia, líder do partido em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país. Mas ninguém briga com Quércia. Ao contrário, líderes da legenda reconhecem vantagens na postura dele. Afinal, se Serra for o vitorioso em outubro, será o paulista quem ajudará a reconduzir o partido ao poder.
– É um escândalo, é uma vigarice, mas o PMDB estará no governo com quer que seja. Agora apoia a Dilma, mas se ganhar o Serra, vai para o lado dele. E se der Marina Silva, estará com Marina, é óbvio – protesta o senador Pedro Simon, que, para agradar ao PDT e assegurar a aliança em torno de José Fogaça para o governo gaúcho, fez elogios à candidata petista.
Ele afirma que “a desgraça do PMDB é a direção nacional”, e aí se refere a Sarney, ao senador Renan Calheiros (AL), ao deputado federal Jader Barbalho (PA) e ao candidato ao governo baiano Geddel Vieira Lima. Por telefone, Geddel defende a sigla:
– Sinto uma má vontade imensa com o PMDB. E não é uma má vontade do povo, afinal continuamos sendo um grande partido nos parlamentos por todo o país.
Cristovam aponta falta de rumo na política
Outras grandes legendas como PP, PT, PSDB e PDT seguem inchadas de votos, mas sem uma unidade ideológica que diferencie claramente uma sigla da outra.
– Houve uma aceitação da falta de rumo, uma tolerância sobre a falta de princípios. Fomos contaminados pelo birutismo – completa Cristovam Buarque.
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