| 03/03/2010 06h11min
Walter não emergiu do seu silêncio ainda, e nem quero aqui dar razão a ele por antecipação. Até por que ele não tem razão. Sumir dos treinos por três dias não é um comportamento profissional sob qualquer ângulo de análise. Passar a mão na cabeça também não vai ajudar em nada.
Mas o Caso Walter merece uma reflexão mais ampla.
Sempre defendi que não se pode tratar os diferentes como iguais. Nada de privilegiar este ou aquele. Falo de diferenças. Algumas extremas e gritantes de tão óbvias.
Walter é uma vítima do Brasil. Não pode ser tratado como se tivesse sido criado na racionalidade da letrada Dinamarca. Ele merece, sim, uma nova chance. Vou
além: talvez sem todas as sanções que o Inter promete.
Walter vem de uma família pobre. Mal
sabe ler. Não teve o privilégio que nós tivemos de ser alfabetizado. A leitura, como se sabe, abre os horizontes e faz evoluir em todos os sentidos. Walter tem problemas familiares que não vêm ao caso discutir. Mas os têm, como milhões de brasileiros desassistidos.
Nem todas as pessoas com origem miserável agiriam como Walter diante da mesma situação, alguém dirá. Concordo. Mas é justo tratar uma crise que chega a ser engraçada de tão insólita como se o personagem principal tivesse sido criado nas melhores escolas escandinavas e desfrutado da mais sólida estrutura familiar?
E tem o outro lado. Pergunto: fala-se em Walter em noitadas ou algo do gênero? Não. O seu comportamento na recuperação da cirurgia no joelho foi absolutamente exemplar e profissional.
Não engordou durante o tratamento. Cumpriu com disciplina espartana o cronograma médico e fisioterápico. Ronaldo Fenômeno nunca faltou a treinos
ou teve crises como a de Walter, mas
apresentou-se para disputar a Copa do Mundo de 2006 com 100 quilos.
Vi Walter ontem à tarde, chegando ao seu prédio. Zero Hora o fotografou. Não pode estar cinco quilos acima do peso, como chegou a ser dito. É só olhar a imagem. O que indica algum zelo pela forma física, mesmo no meio da confusão toda. Não me pareceu estar devorando cachorro-quente e pizza calabresa de hora em hora.
Está na cara que Walter não tem elementos pessoais para avaliar corretamente o que se passa com ele e com o complexo mundo do futebol que o cerca. Não agiu com maldade ou arrogância. Não quis desrespeitar ninguém, embora tenha desrespeitado Fossati.
Dito isso, vamos aos fatos: um adolescente quase analfabeto do Recife, cercado de dificuldades em casa, ouve o seu nome na voz de um estrangeiro com sotaque estranho, no caso o uruguaio Fossati. Que o critica depois de ser salvo por ele no gol da vitória de Alecsandro
sobre o Emelec. Sem entender nada, dispondo
das ferramentas emocionais e intelectuais que o mundo lhe ofereceu, Walter surta.
O Inter deve encontrar a punição certa para Walter, mas jamais desistir dele. Seria uma injustiça. Walter é uma vítima do Brasil.
ZERO HORAGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2010 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.