| 08/11/2009 10h32min
Não sei se Paulo Autuori fica em 2010. Nem ele sabe ao certo, a julgar por suas últimas entrevistas. O que eu, você, todos nós sabemos é o seguinte: será o mico do ano se o técnico do Grêmio voltar exatamente para o lugar de onde veio, no Catar, o Al-Rayyan, depois da novela que foi contratá-lo.
Não que Autuori não possa retornar: é claro que pode. Assinou um contrato com o Grêmio, este contrato tem multa rescisória e, portanto, basta alguém pagá-la para tirá-lo de Porto Alegre. É assim que funciona.
Mas, ainda que seja assim que funcione, aonde ficam aquelas juras de amor ao projeto de longo prazo e o regresso ao Brasil motivado mais pelo prazer de empreender algo inovador desde as categorias de base do que pelo dinheiro?
Repito: nada errado na conduta profissional de Autuori. Mas aí está algo que me incomoda
no mundo do futebol: esta mania que jogadores e treinadores
têm de fazerem promessas e declarações apaixonadas aos seus novos empregadores. Quando os árabes pediram para Autuori voltar, fiquei esperando dele a seguinte resposta:
— Não volto. Se fosse por dinheiro teria ficado lá. Já disse: o projeto de unificar as categorias de base do Grêmio é estimulante e vou tocá-lo até o fim, a menos que a direção me demita antes.
Era o que se esperava depois do anunciado encantamento pelo “projeto inovador e de longo prazo”. Mas o técnico do Grêmio ainda não disse isso. Ao contrário: admite que a proposta do Catar o faz “balançar".
Compreendo que um técnico ou jogador queira se identificar com o torcedor logo na chegada ao novo clube. Como o torcedor é movido a paixão, é razoável admitir algumas frases de efeito. Faz parte do show. Tudo bem, mas a prudência recomenda alguns limites.
A vinda de Autuori ganhou contornos de folhetim. Era um capítulo por dia na novela para
convencer o sheyks. Até treinador interino o Grêmio designou em
plena Libertadores para esperá-lo. Tratava-se do homem certo para um projeto longo e duradouro. Melhor esperar um mês e trazer alguém por muito tempo, quem sabe um Alex Fergusson brasileiro, do que optar por outro e demitir logo ali. Era o que diziam os dirigentes.
Mas e agora, se ele for embora seis meses depois de chegar? Como ficam o projeto de longo prazo, a convicção de um novo jeito de fazer futebol, as declarações recíprocas de relação duradoura? E a revolução em andamento no Olímpico, o que fazer com os soldados desta revolução?
Se Paulo Autuori voltar exatamente para o local de onde veio, no Catar, depois daquela lenga-lenga histórica para tirá-lo de lá, o Grêmio vai pagar o mico do ano.
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