| 24/09/2009 14h30min
Tatiana Lopes
Este jogo do Grêmio contra o Goiás, no Serra Dourada. Me faz lembrar De Sordi, o lateral-direito da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Dono da posição no São Paulo e titular absoluto do time do técnico Feola, De Sordi vinha fazendo um bom Mundial até a final contra os donos da casa. Então, o drama.
Na véspera da decisão, sentiu uma fisgada na coxa direita. A lesão muscular o tirou da foto da nossa primeira vez como senhores do futebol. Até hoje, se você
perguntar que foi o lateral-direito da Copa da Suécia a resposta será: Djalma Santos. Que teve um desempenho soberbo e merece todas as homenagens. Mas De
Sordi restou quase esquecido.
Pois o Serra Dourada pode ser o De Sordi do Grêmio.
Se o time de Paulo Autuori (foto) ganhar, a campanha horrorosa fora de casa, que conta uma mísera vitória sobre o Náutico nos Aflitos e nada mais, vai para a vala profunda do esquecimento. A lembrança da virada rumo ao título ou o assentamento definitivo no G-4 será justamente uma vitória longe do Olímpico.
Mais que isso, na verdade. Se assombração existe, é o fantasma do Goiás que faz barulho nas imediações da Azenha arrastando correntes.
Além de ser duro de lembrar a última jornada feliz no Serra Dourada, no ano passado tudo era um lindo sonho para Celso Roth quando os homens de verde apareceram. O campeonato estava perto do Grêmio, ainda líder. Era setembro, como será setembro no domingo. O zagueiro Leo abriu o placar, mas o Goiás virou para 2 a 1. Até
hoje, toda vez que encontro um gremista visceral e o assunto descamba para o campeonato
do ano passado, a sentença é sempre a mesma, com pequenas variações:
— Deixamos o título escapar ali.
Pode ser que eu esteja errado, mas este jogo do Serra Dourada tem todos aqueles componentes que o torcedor do Grêmio adora classificar como o ''inacreditável'' que sempre acompanha o time. Algo na linha da Batalha dos Aflitos, entende? Não bastasse o drama de não ganhar do Goiás, última equipe a vergar o Grêmio no Olímpico, há ainda Fernandão e Iarley.
Dois campeões da América e do Mundo pelo Inter. Não fossem por eles, até hoje os gremistas seriam os únicos a se orgulhar de conquistas deste tamanho. Graças e eles, não mais. Então, é claro que vencer o Goiás de Fernandão e Iarley tem um sabor especial no imaginário azul.
Para sorte do Grêmio, o enfrentamento chega no melhor momento do ano.
Não há lesões. Willian Magrão já nem pode mais ser
considerado desfalque, de tanto tempo que está fora. A evolução do conjunto, ainda que gradual
, é nítida. O planejamento para 2010, com as dispensas acertadas de Joílson, Makelele e Jadílson, já começou.
Não poderia haver hora mais apropriada para exorcizar o fantasma do Serra Dourada.
Tem o outro lado, é claro: nova derrota, dependendo de como for, pode significar o retorno ao divã para tratar o trauma dos fracassos fora de casa. Mas pelo que se vê no ambiente do Olímpico, que inclui até churrasco em Eldorado o Sul e sorrisos como o de Autuori na foto, é um jogo com cara de DVD.
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