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 | 19/09/2009 08h10min

O incrível Gre-Nal esquecido pela artilharia do Brasileirão

Diogo Olivier, colunista online  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

O carisma. Aí está um elemento fascinante do ser humano. Há pessoas que estão sempre cercadas de gente, enquanto outras parecem invisíveis. É algo tão misterioso que transcende o talento. Roger Federer, por exemplo. É genial, não resta dúvida. Mas não tem carisma. O nosso Gustavo Kuerten não ganhou uma terça parte dos títulos do suíço, mas o mundo do tênis o amou como poucas vezes se viu.

Não há explicação racional para o carisma. Ou tem ou não tem.

Agora mesmo, há Gre-Nal em andamento que se fosse pleno de carisma seria uma atração diária nos debates, nos noticiários, nas arquibancadas, na mesa do bar, no acampamento farroupilha, em todos os lugares. Ganharia as manchetes.

Há um Gre-Nal pela artilharia do Campeonato Brasileiro.

Jonas tem 12 gols. É o primeiro, ao lado de Adriano Imperador. Alecsandro é o segundo, com 11, ao lado de outros. Um gremista e um colorado. Dependendo do que acontecer na rodada, o Inter em Salvador contra o Vitória, neste sábado, o Grêmio no Olímpico diante do Fluminense, domingo, a ordem pode se inverter. Ou não.

Há quanto tempo o futebol gaúcho não assiste a algo parecido?

Dois bons jogadores, corretíssimos, disciplinados, sempre dispostos a colaborar e, como mostra a realidade, goleadores. Só que ninguém fala desta contenda. Ninguém guarda na memória uma comemoração inesquecível de Jonas ou de Alecsandro. O ilustrador argentino Gonzalo Rodríguez, que assina o desenho — este sim, carismático — da coluna, sugere que Jonas e Alecsandro façam como os grandes goleadores do seu Boca Juniors. Eles escalavam a tela, quando havia tela separando o campo da torcida na Bombonera. Hoje não é mais assim, mas a sugestão ainda vale: criem, inventem algo marcante. O certo é que a mídia não se empolga em alimentar o Gre-Nal. E tampouco a torcida mostra ou exige empolgação que obrigue a mídia a mudar de ideia.

É o carisma. Nenhum dos dois têm.

Agora imagine esta mesma briga pela artilharia tendo como personagens Nilmar e Maxi López. O losango assimétrico de meio-campo do Inter se transformaria em mera questão geométrica. Os problemas psicológicos do Grêmio fora de casa retornariam para onde nunca deveriam ter saído: o baú das banalidades. Tudo ficaria menor diante de um debate empolgante: Nilmar ou Maxi, Inter ou Grêmio, quem vencerá o Gre-Nal pela artilharia do Brasileirão? Mais ainda: quem será o campeão no embalo dos gols do seu goleador?

É injusto com Jonas e Alecsandro. Eles fazem gols como qualquer outro goleador. E nem vale argumentar que não são golaços espetaculares. Dario, o Dadá Maravilha, só fazia gols feios nos anos 70 e era um deus aos olhos dos colorados. Jardel nunca foi reconhecido como um camisa 9 de habilidade com as bola nos pés nos anos 90, mas os gremistas o idolatravam.

É injusto, mas é assim.

Seja qual for o vencedor da disputa, Jonas ou Alecsandro, ele será reconhecido no país inteiro e laureado na festa de fim de ano da CBF com os melhores do Brasileirão. Menos mal. Mas logo ali adiante ninguém mais lembrará deles. Nem da temporada em que houve um Gre-Nal pela artilharia do campeonato.

Carisma. Ou falta de. Este é o ponto. 



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