| 17/09/2009 05h30min
Vippcomm
Passou batido. Ou não teve a repercussão que merecia o desabafo do Fabiano Eller (foto) ontem. Em linhas gerais, o zagueiro campeão da Libertadores e do Mundial pelo Inter condenou o oba-oba que envolveu o jogo com o Cruzeiro. O ambiente teria prejudicado o rendimento da equipe. Para ser mais exato, o raciocínio do Capitão Nascimento, como Eller adora ser chamado por conta do sonho de um dia ser soldado do Bope, como no filme Tropa de Elite:
— Esse clima prejudicou um pouco.
Estavam achando que o Inter é imbatível, e esqueceram de ver que o adversário tem qualidade. Não podemos entrar no oba-oba do torcedor ou da
imprensa.
Ao admitir que o otimismo exagerado entrou no vestiário — do contrário, não teria "prejudicado" a atuação do time —, Fabiano Eller presta um enorme serviço ao clube que defende. Tem acontecido isso mesmo, com poucas vozes dissonantes. Já escrevi nesta coluna e disse no Bate-Bola, da TV COM: esta história de melhor grupo do Brasil é nefasta. Não apenas por ser inverídica. São Paulo, Palmeiras, o próprio Cruzeiro, têm grupos de nível tão bom como o do Inter.
O Cruzeiro ganhou no Beira-Rio sem Kleber e Wellington Paulista, só para citar os dois desfalques mais expressivos. Isso não é prova de reposição em nível razoável? Não é evidência de elenco forte, como o do Inter? Ou o argumento do grupo forte só vale quando é um time gaúcho que ganha com reservas?
Precisou chegar alguém de fora para perceber que esta avaliação está prejudicando o trabalho no Beira-Rio. E não é de hoje. Desde o ano passado os elogios são exagerados,
tornando a expectativa demasiada e quase
impossível de ser atendida.
Está faltando humildade no Beira-Rio.
O Real Madrid, que é o Real Madrid, fracassa, alcança finais e perde, esta temporada mesmo viu o Barcelona ganhar tudo. O Inter tem sido tratado — e não só pela imprensa ou torcida, mas também e especialmente pelos dirigentes — como o melhor time das galáxias. Este ano mesmo, jogadores medíocres foram considerados bons a certa altura. Lembram quando Kleber foi para a Copa das Confederações na reta final da Copa do Brasil?
Entrou Marcelo Cordeiro e o discurso era de que tratava-se de trocar seis por meia dúzia. Sem Bolívar, suspenso, Danilo Silva o substituiu. Glaydson jogou na primeira função do meio-campo. Hoje, todos sabemos: são jogadores medianos. O problema da lateral-direita segue, por exemplo. Vou além: jovens com futuro promissor foram chamadas de craque antes do tempo. Taison, por exemplo. Com a saída de Nilmar, foi-se o único craque do time.
Hoje, o Inter tem vários bons jogadores. Um deles é
ótimo, bem perto da condição de craque quando está no auge da forma: D'Alessandro.
Fabiano Eller tocou no centro da ferida. Quando o Inter engata duas ou três vitórias, "se acha". Relaxa. Vem aquele sentimento de que a justiça não deixará o destino tomar outro rumo que não o apontado pelos deuses: vitórias e mais vitórias. E aí, cai do cavalo. Foi assim contra o Cruzeiro.
Se o Inter encarar a realidade e se assumir como um time bom — bons jogadores, bom grupo — em vez desta esquadra invencível sugerida há dois anos, vai ficar mais fácil a caminhada pelo título brasileiro. O negócio é seguir o conselho de Fabiano Eller, um campeão do mundo que ajudou a fazer da humildade a arma para vencer, por exemplo, o Barcelona na final de Yokohama, quando até Fernandão tornou-se volante para marcar o meio-campo de Ronaldinho e Cia.
Sem oba-oba, tudo fica mais fácil. O Inter precisa calças as sandálias da
humildade.
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