| 07/09/2009 05h30min
Aí está o Inter, 43 pontos, que acaba de enfileirar três vitórias seguidas com atuações convincentes. Pode ser líder no próximo domingo, quando enfrenta o Cruzeiro em casa enquanto o Palmeiras, 44, vai a Bahia pegar o Vitória, os dois jogos às 16h. Não resta mais dúvidas, me parece, que o time engrenou. A vaga na Libertadores, ao menos, está muito bem encaminhada.
Então, pensei: e se a direção tivesse demitido Tite antes daquela viagem ao Japão para a Copa Suruga, quando tudo parecia mesmo um amontoado de jogadores sem
orientação? Atirar a cabeça do treinador aos cães famintos teria resolvido os problemas de campo e de vestiário?
Enfim,
o Inter estaria aonde está se tivesse trocado o trabalho no meio do campeonato? A resposta: é não.
Sem Tite, provavelmente hoje o Inter estaria envolvido em se ambientar com uma nova filosofia de trabalho. O que implica preferências individuais diferentes, novos métodos de treinamento, sugestões de reforços. É muita melancia para acomodar no caminhão durante a viagem — longa, por sinal.
Não há como afirmar com 100% de certeza se o Inter não poderia estar nesta mesma condição sem Tite. Aí, só com bola de cristal mesmo.
Mas há um fato incontestável: o Inter está a um ponto da liderança sob o comando de Tite. E Tite só não foi demitido por que a direção o segurou. O grito da torcida pedia o contrário há menos de um mês.
Não sou daqueles que aponta o treinador como o centro de tudo no futebol. Há casos de treinadores apenas medianos que erguem taças e outros, muito melhores, de
currículos incompatíveis com suas grandezas. Rinnus Michels, o gênio
inventor da Laranja Mecânica com a Holanda, em 1974, nunca ganhou uma Copa do Mundo. Com a seleção de seu país, foi faturar uma Eurocopa só em 1988, com Van Basten, Gullit, Rijkard, Vanenburg e Koeman. Enquanto isso, Marcello Lippi pode se jactar de ser campeão com o futebol conservador e chato da Itália em 2006.
Quem prestou mais contribuição ao esporte chamado futebol? Rinnus Michels ou Marcello Lippi?
Então, treinador tem importância. Há quem defenda a seguinte tese: Dunga só faz bom trabalho na Seleção porque dispõe de material humano farto para convocar, algo impensável para alguns colegas seus mundo afora. Mas e o que dizer de Maradona? Ele tem Messi, Aguero, Tévez, Mascherano, Verón, Zanetti. E nada.
O Inter acertou em manter Tite. Se fosse para livrar o time da zona do rebaixamento, quando é preciso um fato novo para ganhar alguns jogos, seria compreensível a mudança. Nestes casos, o fator racional é o menos
importante. Mas para pensar em título não
adianta ficar trocando a toda hora.
É só ver os clubes campeões no sistema de pontos corridos. Todos foram do começo ao fim com seus treinadores. O Corinthians de 2005, que substituiu Márcio Bittencourt por Antônio Lopes não conta. A anulação dos 11 jogos em razão das denúncias de fraude na arbitragem alterou tudo. Não há como saber quem teria sido o campeão de fato.
Não sei se o Inter vai ser campeão, mas se alcançar o tetra um motivo terá sido decisivo, entre outros: não ter entregue a cabeça de Tite aos leões.
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