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Eleições  | 29/08/2010 00h26min

Sobrenome surge como aposta de campanha para grupo de herdeiros

Candidatos também fazem questão de divulgar a força de suas bandeiras

Paulo Germano  |  paulo.germano@zerohora.com.br

Até podem ter uma montanha de propostas, bem-intencionados parecem todos, mas o trunfo maior para a eleição de outubro nenhum deles lutou para alcançar. Patrimônio capaz de atrair uma enxurrada de votos, o sobrenome irrompe como aposta de campanha entre um grupo de postulantes ao parlamento.

Todos eles reconhecem as vantagens que um Brizola, um Goulart ou um Pretto podem provocar na sequência do primeiro nome, no dia do pleito. Mas fazem questão, também, de divulgar a força de suas bandeiras. Na maioria dos casos, no entanto, são exatamente as mesmas que o pai ou o avô defendiam, o que reforça ainda mais o vínculo com os ascendentes.

>>Em memória de Jango



Christopher vive em Porto Alegre, mas durante a campanha mora em São Borja – porque só em São Borja, terra natal do avô João Goulart (1919-1976), Christopher é recebido assim:

– As pessoas choram.

Candidato a deputado estadual pelo PDT, ele sabe que, no município da Fronteira Oeste, há quem queira retribuir as realizações de Jango, presidente deposto pelo golpe de 64. Na quarta-feira passada, Christopher pedia votos e topava com fotografias do avô aferradas em geladeiras da Vila Goulart.

– Essa vila foi uma fazenda do Jango. Ele doou o terreno para as famílias que moram aqui até hoje. Eu vou batendo de casa em casa, para saberem que estou bem-intencionado, que a minha candidatura é de raiz, ela sai de São Borja – conta ele, que nasceu há 33 anos em Londres, onde os pais se refugiavam da perseguição militar.

Advogado e presidente do Memorial João Goulart, Christopher enfrentará o seu primeiro pleito, e diz que a “sensibilidade para se aproximar das pessoas” é do que precisa o bom político. Seja quais forem essas pessoas.

– O trabalhismo concilia os interesses do trabalhador com os dos grandes empresários. Ele não é radical – analisa o candidato, interpretando a doutrina do avô.

>>A bandeira de Brizola



Juliana recém completara 18 anos quando foi chamada pelo avô na casa dele, em Copacabana, no Rio.

- Agora tu vais te filiar ao PDT - decidiu Leonel Brizola, governador daquele Estado.

Era o primeiro impulso na carreira da neta, que se formaria em Direito - uma sugestão de Brizola - e hoje, aos 35 anos, é vereadora de Porto Alegre e candidata à uma vaga na Assembleia. Foi quando o avô morreu, em 2004, que começaram a requisitá-la: convites para inaugurar pontes e bustos, todos queriam por perto "a netinha do Brizola". Mas algo a incomodava.

- Na hora do partido ouvir minha opinião, aí ninguém dava bola. Por isso resolvi me candidatar. Quem não tem voto, não tem vez em partido nenhum - avalia Juliana.

Sagrou-se a vereadora mais votada do PDT no último pleito. Ela credita sua eleição a uma homenagem da população à memória do avô. Ícone do trabalhismo brasileiro, Brizola administrou Porto Alegre (1956-1958) e foi o único homem eleito para governar dois Estados - o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro em dois mandatos.

Na luta para honrar o sobrenome, Juliana promete enfrentar quem for pela escola de turno integral, bandeira clássica do brizolismo.

>>Ao estilo Redecker



Mais do que um pai ou ídolo, o ex-deputado Júlio Redecker assume um papel canônico quando Lucas (PSDB) – seu primogênito que concorre à Assembleia – começa a falar.

Aos 29 anos, ele demonstra orgulho dos votos que recebe apenas por ser filho de Júlio. E garante seguir à risca o estilo e as bandeiras do pai, morto em 2007 no acidente aéreo do voo 3050, da TAM.

– Não sou filho dele só para ganhar votos. Meu desafio é mostrar que sou filho dele no jeito de trabalhar – afirma Lucas, que concorreu à prefeitura de Novo Hamburgo em 2004, e perdeu.

Desde a infância, o único jeito de matar a saudade do pai era acompanhá-lo nos roteiros pelo Interior, durante os finais de semana – Júlio Redecker passava a semana em Brasília, na Câmara Federal.

Em uma ocasião, o parlamentar pediu que o filho, na época com 16 anos, o representasse em um comício:

– “Mas eu vou discursar o quê?”, perguntei para ele.

Meu pai então respondeu: “Tu sempre me escutas falar, vai lá e diz o que eu falo”. Fiquei nervoso demais, mas adorei – conta o candidato.

>>Voz da família Pretto



Tentando corrigir a voz embargada, João Edegar Pretto (PT) canta uma trova gaudéria – canção que marcou sua entrada na política aos oito anos de idade.

Adão Pretto, seu pai, que morreu em 2009 após seis mandatos na Câmara, compôs a música enquanto articulava a fundação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, ainda no final dos anos 70.

No interior de Miraguaí, região campeira no noroeste gaúcho, Adão tocava a gaita e dividia com o filho versos de protesto durante romarias, reuniões de sindicatos e comícios eleitorais.

Tratava-se de uma crítica ao êxodo rural da juventude, obrigada a deixar o campo devido à falta de terra para a agricultura.

– Eu cantava assim: “Tenho dois braços fortes e já posso lhe ajudar. Quero um pedaço de terra onde eu possa plantar”.

Meu pai, então respondia: “Perdoe, meu filho amado. Tu vais ter que ir para a cidade trabalhar de empregado” – recorda Edegar, 39 anos, candidato à Assembleia ungido pelos mesmos movimentos sociais que compunham a base do pai.

Sua primeira luta, garante ele, será pela retomada do seguro agrícola estadual – uma criação de Adão Pretto, o primeiro colono gaúcho que assumiu cadeira no parlamento.

>>O retorno do sobrenome Chiarelli às urnas



Filho do ex-senador Carlos Chiarelli, já faz tempo que Matteo Chiarelli, 43 anos, atua na política. Recente é apenas sua disposição para participar de disputas eleitorais.

Matteo foi um dos fundadores do PFL (hoje rebatizado de DEM) no Rio Grande do Sul, em 1985. E, após concorrer à prefeitura de Pelotas, dois anos atrás, agora disputa uma vaga na Câmara Federal.

É o retorno do sobrenome às urnas – o Chiarelli pai deixou a vida pública em 1992, após comandar dois ministérios no governo Collor.

Aos 70 anos, o político comanda agora a campanha do filho, cujo foco maior é na região sul do Estado.

Matteo, professor de Direito Constitucional da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), prega justamente uma revisão geral na Constituição. Considera absurdo que, a cada ano, seja preciso um novo penduricalho na legislação suprema.

–É urgente concentrarmos todos os esforços nisso. E proponho que, a cada cinco anos, seja feita uma nova revisão, com o Congresso parando para discutir a Constituição.

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