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Eleições  | 28/08/2010 20h37min

Com disputa concorrida para o Senado, candidatos brigam pelo segundo voto

Estratégia é apresentar-se como alternativa a quem já definiu o primeiro voto por afinidade com um candidato ou por simpatia a um partido

Moisés Mendes  |  moises.mendes@zerohora.com.br

A eleição para o Senado no Rio Grande do Sul este ano é uma das mais empolgantes da história. As pesquisas mostram que três candidatos lideram a preferência dos eleitores para as duas vagas em disputa. ZH acompanhou um dia de campanha de cada um deles — Ana Amélia Lemos (PP), Germano Rigotto (PMDB) e Paulo Paim (PT) — para mostrar como está a corrida pelo segundo voto.

O eleitor poderá escolher dois nomes, entre 11 que concorrem. Ao lado dos candidatos, ZH constatou que muita gente ainda não sabe que duas cadeiras estão em disputa. Este também é um desafio para os pretendentes: esclarecer que dois deles serão os eleitos. É assim que, ao mesmo tempo em que tentam o primeiro voto, buscam convencer os eleitores simpáticos a adversários de que merecem ser a segunda opção.

A estratégia é apresentar-se como alternativa a quem já definiu o primeiro voto por afinidade com um candidato ou por simpatia a um partido. Esse segundo voto ainda está bastante disperso entre os indecisos. É uma escolha em que o nome é levado mais em conta do que a sigla e pode definir a eleição.

Para renovar o Senado

Às 7h, tomando café da manhã com operários no refeitório de uma fábrica de Bento Gonçalves, Ana Amélia Lemos fez um gesto que repetiria durante todo o dia de campanha na Serra. Ergueu a mão e mostrou os dedos em V, mas não estava fazendo o sinal clássico de vitória. Estava pedindo voto de uma forma didática:

— Nessa eleição, são dois votos para o Senado. Fico feliz se me derem um. Pode ser o primeiro ou o segundo.

No roteiro pela Serra, a candidata do PP defrontou-se algumas vezes com caras de espanto. Num supermercado de Carlos Barbosa, uma senhora a abraçou e disse: 

— Te via na TV, mas de repente tu sumiu.

A jornalista esclareceu ali e depois de muitos outros abraços e beijos das caminhadas: 

— Saí da TV, sou candidata ao Senado.

Na campanha, a jornalista de 65 anos reencontra, como ocorreu em Carlos Barbosa e Garibaldi, pessoas com as quais conversou em palestras pelo Interior. Estreante na política, repetia que pretende fazer em Brasília o que fez como comunicadora: 

— Meu compromisso é com o Rio Grande, acima dos interesses partidários. Não tenho uma cara muito partidária. Sou suprapartidária.

Foi o que disse em visita à Cooperativa Santa Clara. Recebida pelo presidente, Rogério Sauthier, circulou de sala em sala. Ouviu comentários de quem abre o voto e fechou as respostas quase sempre com essas palavras: 

— Ótimo, que bom.

O esforço pela conquista do segundo voto é uma estratégia aparentemente simples. Mas é complexa, admite o ex-vice-prefeito Valmir Daniele (PP), que acompanha Ana na visita. Valmir ainda não sabe de quem será seu segundo voto. Se votar em outro candidato forte, pode comprometer a eleição da candidata.

Numa mercearia de Carlos Barbosa, Ana volta a falar do segundo voto e come salame e copas de todos os tipos, até de javali, oferecidos por Álvaro Guerra. Uma copa, explica Guerra numa demonstração performática, deve ser mastigada lentamente. É como uma campanha: sem pressa, para que se conquiste todo o sabor. A candidata aposta que o segundo voto vem ao natural, por decisão do eleitor, como o taxista Delvino Salvi, 45 anos: 

— Voto em Paim e na Ana Amélia. Eu voto na pessoa.

Em Garibaldi, Ana almoça com operários de uma fábrica no bandejão. Volta a mostrar os dois dedos. Ao seu lado, os presidentes do PP de Bento Gonçalves, Guilherme Pasin, e de Garibaldi, Carlos Mânica, admitem: também estão em dúvida sobre o segundo voto.

Depois, Ana Amélia visita outra fábrica. Conta a operárias que, na adolescência, foi artista de cinema, no filme Não Aperta, Aparício, de José Mendes. Diz que tem 40 anos de comunicação. Revela que, nos últimos 15 anos, acordou às 4h30min para trabalhar. E confessa, referindo-se ao senador Sérgio Zambiasi (PTB), que não concorre este ano:

– Quero ocupar a cadeira de Zambiasi.

Para a candidata, o desejo de renovação a favorece. Num supermercado de Carlos Barbosa, ao fazer pose para uma foto ao lado de funcionárias que limpavam o chão, pega o limpador e diz: 

— Vou usar uma vassoura como essa para limpar o Senado.

Além do corpo a corpo, do contato direto com o eleitor, curte o Twitter, onde tem mais de 3,5 mil seguidores. Entende que é bem mais do que a candidata identificada com o agronegócio, mas também com as cidades, a educação, a saúde, o emprego. Relata exemplos de empresários e estudantes que a procuram para reconhecer sua capacidade de mobilizar, como comunicadora, os políticos para resolver problemas.

No centro de Garibaldi, desce do carro e, ainda na calçada, renova a base no rosto e o batom, antes de voltar a cumprimentar eleitores. Considera-se revitalizada, depois de uma semana fora da campanha, para preservar a voz, ameaçada por uma faringite. Roteiros de até sete cidades num dia ainda a esperam.

Contra guerra fiscal

Num roteiro pela Região Sul, Germano Rigotto lembra que em 2002, quando disputou o governo, arrancou como azarão e venceu. Em 2006, liderava as pesquisas ao Piratini e perdeu: 

— Faltaram 17 mil votos para que eu chegasse ao segundo turno.

Na eleição para o Senado, uma diferença pequena como essa pode ser decidida pelo segundo voto. Num encontro com o prefeito de Pelotas, Fetter Júnior (PP), falavam de saúde, do polo naval e do polo florestal quando o celular do anfitrião tocou. Fetter atendeu, era a filha Fabiana:

— Estou em audiência com o governador Rigotto.

Desligou e logo o celular tocou de novo: 

— Filha, estou em audiência.

O candidato do PMDB ao Senado, ao lado de Fetter, pôde captar o que a advogada de 32 anos falou: 

— É só para dizer que eu vou votar nele.

Fetter, eleitor de Ana Amélia, anunciou:

– Meu segundo voto já está claro.

Rigotto sorriu. O segundo voto vai brotando. Em Pelotas, fez uma palestra sobre o momento econômico para empresários. Abordou seus temas preferidos, a reforma tributária, o pacto federativo, o fim da guerra fiscal. Elogiou Lula e Fernando Henrique. Lembrou que o polo naval saiu porque, quando governador, assegurou incentivos e venceu uma briga com o Rio. Depois, confessou que, meses atrás, esteve em dúvida: 

— Será que vale a pena ir para o Senado, uma casa tão desgastada?

Acha que pode contribuir para a reforma do Senado, como disse a frequentadores do famoso Café Aquários, no centro de Pelotas, onde foi reconhecido pelo ex-gerente de banco Jader Guarani de Souza como chefe da torcida do Caxias nos anos 70. Também esteve na Associação dos Aposentados e ouviu essa previsão do presidente, Salvador Ribeiro: 

— Não sou profeta, mas o senhor já está eleito, juntamente com Paim.

Caminhou pelo calçadão, de terno e gravata. Na estrada, na viagem para São Lourenço trocou de roupa e vestiu jeans e jaqueta. Rigotto, 60 anos, ex-vereador, ex-deputado, ex-governador, gosta de campanha sem muitas bandeiras e panfletos, porque aproxima mais o candidato do eleitor. Abraça, beija, é beijado.

Na cidade, encontrou-se com José Fogaça (PMDB) e outros candidatos. Caminharam pelo centro. Fogaça e seu vice, Pompeo de Mattos (PDT), iam na frente. Rigotto apertava mãos uma quadra atrás. Quando não conseguia se aproximar, acenava e repetia: 

— Um abraço. Um beijo.

Um casal de catadores de papel quis saber em quem votaria para presidente da República. Rigotto respondeu: 

— Somos independentes.

O vereador Rudinei Harter (PDT) confessava: o desencontro das coligações nacional e estadual vem confundindo o eleitor. Outro vereador, Raul Lourenço Crespo (PTB), diz que vota em Ana Amélia e que o segundo será em branco. Mas, ao receber um abraço do peemedebista, ergueu o punho e garantiu: 

— Vamos pegar juntos.

Rigotto visitou a Santa Casa de Misericórdia e, no caminho para o comitê de campanha, encontrou Ademar Silva, 66 anos, o primeiro gaiteiro de Teixeirinha. Silva abriu o voto para Rigotto, mas confessou estar indeciso em relação ao segundo.

À noite, Rigotto e Fogaça participaram em Rio Grande do jantar de lançamento da candidatura de Sandro Boka (PMDB) à Assembleia. O ex-prefeito Janir Branco (PMDB) foi recepcionar a comitiva. Branco dá o segundo voto para Ana Amélia e diz que em Rio Grande o confronto entre PMDB e PT é feroz. Mas Jonas Freitas, 24 anos, da coordenação da campanha de Boka, admite que votará em Rigotto e Paim.

Dobradinhas informais, antes aparentemente improváveis, se manifestam com naturalidade desta vez. Ou como diz o vereador trabalhista Rudinei Harter, de São Lourenço: 

— Sempre fui de esquerda. Voto em Rigotto, mas ainda não sei se o segundo será da Ana Amélia ou do Paim.

Pelos aposentados

O senador Paulo Paim faz questão de indicar o segundo voto. É para Abgail Pereira, candidata do PC do B. Dos três candidatos que lideram as pesquisas, Paim é o único com dobradinha formalizada ao Senado. Onde chega, o petista, ex-deputado federal e eleito senador pela primeira vez em 2002, deixa claro:

— E tem o voto para a companheira Abgail.

Paim vem concentrando a campanha na Região Metropolitana, na arrancada final. Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, sente-se bem na porta das fábricas. Na semana passada, às 6h30min, já distribuía panfletos na entrada de uma metalúrgica da cidade. Cumprimentava operários, funcionários de escritório e executivos. Sua saudação mais repetida: 

— É isso aí, guerreiro. Tudo bem, guerreiro?

Está na sexta eleição. Em 2002, quando era deputado e decidiu que tentaria uma cadeira no Senado, levou um susto das pesquisas. Era o quarto em preferência, mas ele e Sérgio Zambiasi (PTB) se elegeram. O petebista, que decidiu abandonar a política este ano, é hoje seu eleitor.

Nos contatos que mantém na porta das fábricas, Paim entrega um panfleto com um resumo dos projetos apresentados e diz: 

— São mais de mil projetos. Eu não vou para o Senado, estou no Senado, não tenho que prometer nada.

Os operários o interrogam sobre o veto do governo à queda do fator previdenciário para a aposentadoria. Paim diz que seu projeto ainda está vivo e arrisca: 

— O fator pode cair no ano que vem.

O político quer ser visto como um senador que não discrimina centrais sindicais nem preferências partidárias. No Interior, promove plenárias suprapartidárias. Mas são os aposentados os que mais se identificam com sua atuação. Numa reunião na Federação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas (Fetapergs), em Porto Alegre, foi recebido como ídolo. Cerca de 30 coordenadores regionais cantarolavam o bordão que usam quando abordam eleitores: 

— Não minta para mim, sou aposentado e sou Paim.

O senador falou dos projetos e disse: 

— Tenho autoridade para pedir o segundo voto.

Estava num reduto em que o primeiro voto é dele. O presidente da Fetapergs, Osvaldo Fauerharmel, lembra que há no Estado 2,16 milhões de aposentados e pensionistas:

— Somos apolíticos, mas apoiamos ostensivamente quem apoia os aposentados.

Darci Cerutti, presidente da Associação dos Aposentados de Soledade e coordenador regional da Fetapergs, observa que Paim é considerado senador de todos os aposentados do Brasil. Vota em Paim, mas ainda está em dúvida sobre o segundo voto. Talvez seja para Rigotto.

No dia em que começou com panfletagem em Canoas, Paim também esteve na Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs). Conversou com o presidente, Moisés Bauer Luiz, viu deficientes visuais digitando textos, conheceu o projeto de um centro de reabilitação e falou do Estatuto da Pessoa Portadora de Deficiência, que apresentou no Senado.

O principal encontro daquele dia na busca pelo segundo voto aconteceu com políticos de vários partidos em um hotel em Canoas. A vice-prefeita da cidade, Beth Colombo (PP), vota em Ana Amélia e no petista. O presidente do PDT municipal, Lademir Silveira, em Rigotto e Paim. O ex-deputado Ivo Lech (PMDB) fez as mesmas escolhas. Também estava na reunião e abriu voto o presidente do PP de Canoas, Francisco Biazus.

Os depoimentos de Beth, que relembrou a capacidade de mediação de Paim em meio a greves e conflitos, e de companheiros de partido, que falaram sua trajetória, abalaram o senador. Paim, 60 anos, chorou várias vezes e fez uma confidência: 

— Esta é minha última campanha. Depois, quero voltar para as ruas.

Pretende participar dos movimentos sociais, como fazia nos anos 70 e 80, antes de se eleger deputado constituinte em 1986.

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