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Eleições  | 17/08/2010 20h30min

Lula culpa olho gordo por atraso de obra

Transnordestina, considerada a redenção do nordeste em 2006, não ficará pronta antes de dezembro de 2012

Perto de terminar o mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pôs a culpa na Justiça, no Ministério Público, nos ambientalistas e nas pessoas de "olho gordo" por deixar no papel boa parte do trecho da ferrovia Transnordestina, projetada para ligar Eliseu Martins, no Piauí, ao Porto de Suape, em Pernambuco.

— É um verdadeiro inferno concluir um projeto desta magnitude — reclamou hoje, num canteiro de obras em Salgueiro, a 518 quilômetros de Recife.

Foi a quarta viagem de Lula para participar de festa de "início" de obras da ferrovia. Ao lançar o projeto em Missão Velha (CE), em plena campanha pela reeleição, em junho de 2006, ele disse que a Transnordestina seria a "redenção" do Nordeste. Hoje diretores do consórcio de construção da ferrovia informaram ao presidente que apenas 30% das obras de terraplenagem foram concluídas.

A obra não ficará pronta antes de dezembro de 2012. No ano passado, ele chegou a afirmar que iniciaria as obras de todos os lotes ao longo dos 2.278 quilômetros de ferrovia. O maior atraso está no trecho final em Pernambuco, entre Belém de Maria e Escada (55 quilômetros) e de Escada a Suape (64 quilômetros). Nestes dois lotes, os contratos para início das obras não foram assinados. Durante a visita, o presidente conheceu uma máquina importada que produzirá os dormentes de concreto para dar suporte aos trilhos.

A visita de "inauguração da fábrica de dormentes", como o Planalto divulgou, estava programada para março último, mas foi cancelada porque a máquina não chegou a tempo. A uma plateia formada por trabalhadores do canteiro em Salgueiro, o presidente se queixou de juízes, que teriam aceito pedidos de interrupção das obras por parte de quem reclamava indenização de terras.

— Não pensem que é fácil fazer as coisas — disse.

— Vocês não sabem que a inveja é uma doença — completou.

— Não tem nada pior do que olho gordo.

Mais tarde, ao visitar uma escola técnica em Salgueiro, Lula aproveitou para criticar os tucanos e até dom Pedro II. Sem poder inaugurar a obra dos seus "sonhos", como ele mesmo chama a ferrovia, Lula disse que os governantes anteriores não priorizarem obras na região.

O presidente afirmou que o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) não investiu em ensino profissionalizante. Já dom Pedro II foi atacado por não levar à frente a obra da transposição das águas do São Francisco.

— Por que dom Pedro II, o todo poderoso, não conseguiu fazer o canal e um torneiro mecânico conseguiu? — esbravejou Lula.

As obras de transposição também estão com cronograma atrasado. Saia-justa Criticado pelo governo por não ter se "empenhado" nas obras da ferrovia Transnordestina, o executivo Benjamin Steinbruch, que comanda o consórcio do projeto, enfrentou saia-justa na viagem com o presidente Lula ao canteiro no semiárido pernambucano. Em cima de um trecho de trilho montado apenas para a produção de fotografias, Lula olhou para Steinbruch e perguntou:

— Você sabe quem me disse que pode fazer trilhos?.

E emendou:

— O Roger Agnelli, da Vale. Ele disse que vai fazer trilhos na siderúrgica que está construindo em Marabá.

Depois de ouvir o nome do rival no mundo dos negócios, Steinbruch, desconcertado, disse:

— Aí, é covardia.

Lula não esconde o desapontamento com Steinbruch, a quem acusa de ser um dos principais responsáveis pelo atraso das obras da ferrovia. O presidente foi num ponto fraco do executivo, observaram integrantes da comitiva. Há mais de uma década, Steinbruch vive às turras com Agnelli.

A rivalidade de Steinbruch, da Companhia Siderúrgica Nacional, e Agnelli, da Vale, é famosa no mercado do aço. A briga começou em 2000, com o descruzamento de ações da Vale e da CSN. Steinbruch, que comandava o grupo, foi substituído por Agnelli. Vaidosos, eles travaram brigas até nos tribunais. Há uma série de processos judiciais por causa de minas e negócios das duas empresas. Com a última crise financeira internacional, os dois deram uma trégua.

Agência Estado
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