| 02/07/2010 12h07min
Em dia de jogo da Seleção, quem é apaixonado por futebol sempre dá um jeito de assistir à partida, mesmo que esteja trabalhando. Em uma rua do bairro Itaguaçu, na parte Continental de Florianópolis, um grupo de 11 funcionários da empresa Conpesa, que faz capeamento asfáltico, montou uma espécie de sala de TV na rua Capitão Savas, para não perder um lance da partida.
A árvore frondosa de uma casa ajudou o grupo a se proteger do sol. Pedaços de um armário velho viraram os assentos do sofá, e o papelão, um colchão na rua. Até um carrinho de mão, usado na obra, transformou-se em poltrona.
A televisão de 14 polegadas, pequena para tanta gente, foi ligada na tomada de uma das casas da rua. A moradora cedeu até a extensão.
Mesmo com a imagem sintonizada na Rede Globo falhando, o grupo não desgrudava os olhos da telinha. Ansiosos, gritavam em cada lance perigoso, do Brasil ou da Holanda. Estavam tão concentrados, que mal olhavam ao conversar com a reportagem, sem se incomodar se não havia conforto ou uma TV maior.
— O jeito é improvisar — diz Charles de Souza, 30 anos, deitado em um pedaço de madeira para não se sujar no piche do chão.
Sai o primeiro gol, e o grupo comemora, mas não valeu. Robinho estava impedido mesmo, dizem.
O craque do Santos, para alguns, é o melhor da Seleção, mas, para a maioria, não há favoritos. E todos acreditam no técnico Dunga e na garra do time.
Mas não é o time dos sonhos. Para Paulo Pereira, de 35 anos, a Copa do Mundo perdeu um pouco da graça sem o "Fenômeno".
— Ronaldo é o melhor jogador e deveria estar em campo — diz, enquanto brinca com uma vareta, batendo no poste, alerta a cada lance da partida.
Eles não se preocupam em serem flagrados vendo TV na rua. Trouxeram até o lanchinho: pão com mortadela. Na marmita, arroz com feijão.
— A empresa dá uma folguinha para a gente quando os jogos são de manhã. Voltaremos a trabalhar às 13h. Quando os jogos são à tarde, somos dispensados e voltamos para casa — diz Dauri Valdir Cardozo, 26 anos.
A casa, aliás, é o local favorito do grupo para assistir ao jogo. Paulo brinca que não tem muita saída, na verdade:
— A mulher não deixa a gente sair, né? — brinca o trabalhador, pai de quatro filhos, de 2, 4, 5 e 7 anos.
O grupo não se importa em como verá os jogos. O que vale é torcer para a Seleção. A aposta do placar? Brasil 3 x 1 Holanda.
E quem seria o adversário ideal para a final da Copa do Mundo, se o Brasil chegar lá?
— Argentina! — gritaram em uníssono, entre gargalhadas.
E Ricardo Pereira, de 27 anos, que ficou quieto o tempo todo, não se conteve e completou:
— Tem que pegar o Maradona e fazer o cabelo dele levantar!
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