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 | 06/05/2010 03h45min

Afirmações de arcebispo de Porto Alegre repercutem pelo país

Dom Dadeus Grings afirmou em conferência da CNBB que a "sociedade atual é pedófila"

Itamar Melo  |  itamar.melo@zerohora.com.br

As afirmações sobre pedofilia feitas pelo arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, durante assembleia do episcopado brasileiro, dividiram especialistas em direitos da criança e do adolescente. Na terça-feira, na abertura da assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília, dom Dadeus afirmou que a “sociedade atual é pedófila”. Segundo ele, os ataques sofridos pela Igreja Católica por causa de casos envolvendo abuso sexual de crianças por sacerdotes teriam como motivação o desejo de prejudicar a instituição.

– A Igreja tem 0,2% de culpa nesses casos, mas, ainda assim, os outros 99,8% não têm o mesmo destaque que a Igreja. Acho que isso é uma forma de querer prejudicar a Igreja que promove a castidade – disse o bispo.

Entre os que consideram que dom Dadeus tem razão em parte de suas afirmações está o advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). Ele sustenta que o arcebispo está certo ao sugerir que a pedofilia é parte da sociedade.

– Existe uma cultura muito arraigada tanto de violência quanto de abuso sexual contra a criança e o adolescente no país. As denúncias feitas aos conselhos tutelares mostram que metade dos acusados são os próprios pais. Os principais abusadores são pais, não padres. Entendo que existe um excesso de exibição desses casos que envolvem a Igreja, em comparação com os demais. Os abusos que envolvem padres geram mais comoção, mais especulação midiática e até mesmo um sensacionalismo maior, por dizerem respeito a pessoas que supostamente estariam acima do bem e do mal – afirma.

Alves ataca, no entanto, uma das declarações feitas por dom Dadeus, na qual o prelado relacionou a pedofilia com a homossexualidade. O arcebispo afirmou na assembleia da CNBB que, assim como hoje se fala em direitos do homossexual, “daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos”.

– Não há relação entre pedofilia e homossexualismo. O machismo é que sempre foi ligado à pedofilia. Além disso, a pedofilia, quando o abuso se concretiza, é crime, enquanto a homossexualidade é uma questão de liberdade sexual – contrapõe Alves.

Sociólogo diz que religioso se expressou mal mais uma vez

O juiz da Infância e da Juventude José Antônio Daltoé Cezar reconhece que dom Dadeus está certo ao considerar que os padres representam um parcela ínfima dos pedófilos.

– Não digo que a sociedade seja pedófila, mas colocar a culpa nos padres é um exagero. Pedofilia é um problema da natureza humana, não da Igreja. Dos dados que colhemos em Porto Alegre, 50% envolvem pais e padrastos. Noventa por cento são pessoas que estão próximas, como vizinhos, irmãos ou amigos – diz Daltoé.

O sociólogo Léo Voigt, diretor-financeiro da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), considera equivocadas as afirmações de dom Dadeus. Ele entende que o arcebispo se expressou mal ao afirmar que a sociedade é pedófila:

– Acho que ele teve a intenção de dizer uma coisa e disse outra. Mais uma vez, pronunciou uma má frase, porque não é correto dizer que a sociedade é pedófila. Acho que a intenção dele era dizer que a pedofilia está presente na sociedade. Historicamente, dom Dadeus é infeliz nas suas frases, mas é uma pessoa séria e bem-intencionada.

A principal critica do Voigt às posições do religioso diz respeito à afirmação de que há uma tentativa de prejudicar a Igreja quando se critica sua atuação no caso dos padre pedófilos:

– A vitimização da Igreja é um erro. Vítima é a criança abusada. A crítica que se faz à Igreja é correta, porque a instituição acobertou os casos de pedofilia. O problema não é ter pedofilia na Igreja, o problema é ter pedofilia e não tomar iniciativas em relação a isso.

Silêncio no dia seguinte a declarações

Um dia após causar polêmica ao dizer que a sociedade brasileira é pedófila, o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, se recolheu ao silêncio.

Ontem, mesmo procurado pela imprensa durante a assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pediu para não se manifestar.

Também não recebeu apoio de seus colegas reunidos em Brasília. Após a polêmica em torno de declaração de dom Dadeus, o porta-voz da assembleia, dom Orani Tempesta, disse ontem que a frase era opinativa, e não refletia o pensamento da CNBB e dos bispos que participam do encontro.

A pedofilia é uma das temáticas do evento que reúne mais de 300 bispos e religiosos até o dia 13.

A questão entra na pauta da CNBB no momento em que a Igreja Católica enfrenta acusações de ter acobertado casos de pedofilia em todo o mundo.

No Brasil, escândalos atingiram recentemente padres em Franca (SP) e Arapiraca (AL).


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