| 26/08/2009 13h30min
Mauro Vieira
Estávamos todos ouvindo a entrevista de Paulo Autuori (foto) aqui na Redação da Zero Hora pela Rádio Gaúcha ontem quando, lá pelas tantas, o técnico do Grêmio soltou uma frase intrigante no meio de uma resposta sobre o treino em dois turnos do dia:
— Exercitamos muitas coisas, como a compressão de bola.
Compressão de bola. Pensei um pouco e imaginei que pudesse ser algo como instruir os jogadores sobre a força exata na hora do
chute. Se for cruzamento do flanco, mais forte. Se for da intermediária, como Tcheco para os gols de Réver de cabeça, com mais carinho. E assim por diante.
Faz algum
sentido. Mesmo assim, perguntei para quem estava nas proximidades se alguém tinha certeza absoluta do significado de "compressão de bola". Ninguém apostou um centavo nas suas convicções. Então me dei conta que volta e meia Autuori nos brinda com uma expressão diferente, às vezes um novo vocábulo. O que é interessante, já que as entrevistas de futebol raramente excedem a um certo limite de palavras. Neste pouco tempo de Grêmio já dá para montar um Pequeno Dicionário de Autuoriês. Quer ver?
— Nós procuramos objetividade ofensiva, eficiência defensiva e densidade no meio-campo, entendendo-se densidade como a resultante entre velocidade e força.
Esta última parte — densidade no meio-campo, entendendo-se densidade como a resultante entre velocidade e força — é mesmo intrigante. Não parece uma equação de física? O time que tiver esta densidade toda nunca mais há de perder. Se o Grêmio encontrar a resultante entre velocidade e força no meio-campo
fora de casa vai ser campeão
brasileiro. Outra muito boa é a imagem do balanço. Assim:
— Pedi mais balanço, de um lado para o outro.
Esta não é tão difícil. É óbvio que trata-se de virar o jogo da direita para esquerda e vice-versa, de modo a encontrar espaços no adversário. Mas a expressão "balanço de um lado para o outro" é uma maneira criativa de dizer isso, ainda mais no futebol, um universo de jargões aborrecidos. Posso imaginar os treinadores, em um futuro próximo, gritando na beira do campo:
— "Balanço, pô, cadê o balanço"!
E, para completar, uma expressão nem tão incomum assim. Não vejo ninguém usá-la mais do que Autuori. Quando esta imagem se disseminar, a paternidade será dele. Falo da velha e boa aproximação entre as linhas. Falar em reduzir a distância entre defesa, armação e ataque não tem muita graça mesmo. Aproximar as linhas, além de muito mais chique, é mais resumido. Nestes
tempos de comunicação em tempo real, é até moderno. Mais enxuto. Cabe no
twitter.
Imaginemos uma orientação demolidora, capaz de virar qualquer jogo:
— Além de densidade no meio-campo, entendendo-se densidade como a resultante entre velocidade e força, quero mais balanço pelos lados e aproximação entre nossas linhas.
Que tal? O importante nisso tudo é que estas expressões complicadas, aparentemente fora do lugar, na boca de Autuori não soam esnobes. É o jeito dele: mais requintado, menos simplório, com riqueza de vocabulário. Um inimigo do óbvio. Assim ele foi campeão brasileiro (com o Botafogo!), da Libertadores (duas vezes) e do Mundo.
Com este currículo, é o caso de publicar um Dicionário de Autuoriês. Como se vê, tem dado certo.
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