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Crack nem pensar  | 26/05/2009 19h26min

"Se o diabo inventou um inferno na terra, esse inferno é o crack"

Considerada a pior das drogas, pedra tem feito um número cada vez maior de vítimas

Nádia de Toni  |  nadia.detoni@pioneiro.com

Toda vez que um viciado em crack acende seu cachimbo assina uma nova sentença de morte. Com o poder de escravizar às primeiras tragadas, a pedra à base de cocaína arrasta o usuário à sarjeta em pouquíssimo tempo. A droga, que avança como uma praga pelo território gaúcho, faz mais vítimas do que qualquer outra porque afunda o dependente numa degradação física e psicológica que o empurra ao crime para saciar o vício devastador.

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A estimativa oficial é de que haja 50 mil usuários de crack no Rio Grande do Sul. O dado é alarmante, mas a realidade pode ser ainda pior, uma vez que a estatística se baseia em pessoas que procuram ajuda em centros de reabilitação, o que exclui uma imensa parcela que convive com a droga e o tráfico diariamente.

O estrago social provocado pelo crack tem impacto nítido em Caxias, a começar pela violência. Desde que a droga aportou na cidade, há duas décadas, os índices de criminalidade só aumentaram. Até março deste ano, a droga já motivou 51% dos 31 assassinatos. 

— Na fissura por mais droga, muitos usuários se envolvem em assaltos, furtos, se endividam com traficantes. Terminam pagando com a própria morte — diz o delegado Marcelo Grolli, do 3º Distrito Policial (3º DP) de Caxias.

O crack, assim denominado porque a pedra emite pequenos estalos quando queimada, leva fama de ser uma droga barata desde que seu consumo explodiu nas periferias brasileiras, nos anos 1990. Mas o baixo custo da pedra, em torno de R$ 5, é uma ilusão. Da mesma maneira que não se tem notícia de alguém que tenha experimentado crack uma única vez, um dependente não se satisfaz com uma pedra. Na fissura, o usuário fuma 20, 30 pedras ao dia. Para custear vício, primeiro se desfaz do que tem, depois parte para o crime.

No Estado, as apreensões de crack se multiplicam a cada ano, um indício claro de que mais gente está consumindo e precisa de dinheiro para tal. Entre janeiro e março, a Brigada Militar (BM) de Caxias realizou 52 operações de combate ao tráfico e apreendeu 697 pedras (264,14 gramas), quase o dobro das 378 (326,47) recolhidas no mesmo período do ano passado. Em 2008, 10.293 pedras (2,6 quilos) foram apreendidas.

A polícia calcula que, em Caxias, haja pelo menos 160 pontos de venda de crack e outras drogas, como maconha e cocaína, ainda mais consumidas do que o crack. Ano passado, a Polícia Civil responsabilizou 126 pessoas por tráfico. De janeiro a março de 2009, 36 pessoas já foram indiciadas. Nos pontos de venda, traficantes costumam aceitar de tudo dos viciados em desespero, de laptops a bonecas. 

— É comum encontrar todo tipo de material nos pontos de tráfico. Qualquer coisa serve como moeda de troca – revela o tenente-coronel Júlio César Marobin, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), de Caxias. 

— Num Natal, meu filho conseguiu trocar por crack até o peru da nossa ceia. Toda noite eu tinha que colocar o botijão de gás no meu quarto senão meu filho vendia por pedra – conta a caxiense Everly de Jesus Rodrigues, 45 anos, mãe de um garoto de 18 anos morto a tiros em consequência do vício, mês passado.

O drama que o crack leva para dentro das famílias não aparece nas estatísticas policiais, mas é gravíssimo. Nos últimos tempos, casos de mães que acorrentam seus filhos na tentativa de conter o vício têm aparecido com frequência na imprensa. Entretanto, a maioria das famílias silencia, por medo ou vergonha, enquanto dinheiro e objetos são levados de casa. 

— O usuário não se penaliza com barbaridades que comete, com parentes ou desconhecidos, porque o crack anestesia o afeto — diz Maria Virgínia Agustini, coordenadora da política de saúde mental da Secretaria Municipal da Saúde.

A lotação de instituições de reabilitação e ambulatórios de desintoxicação é uma demonstração dessa epidemia que atinge centenas de lares gaúchos, ricos e pobres. Só em Caxias, 514 pessoas em atendimento, sendo que 90% são dependentes de crack. 

— Se o diabo inventou um inferno na terra, esse inferno é o crack — ressalta Roberto Faleiro, coordenador da Casa de Passagem São Francisco.

Do total de usuários em tratamento, 35% abandonarão tudo no meio do caminho. Entre os que concluírem o processo, 90% vão recair na pedra. 

— O crack provoca muitas sequelas no organismo e é difícil conseguir algum resultado de longo prazo — revela o psiquiatra Celso Luís Cattani, especialista em dependência química.

Quando o assunto é crack, não há motivos para otimismo.

SÉRIE DO JORNAL PIONEIRO PUBLICADA EM ABRIL DE 2009

Comentários

Ney  - 

Denuncie este comentário21/02/2012 02:42

Galera fui viciado em crak por 6 anos,todo dia tinha que fumar pelo menos uma pedra,procurei fugir fumando mesclado ,ai a coisa ficou pior,estava destruindo-me eu e minha esposa,ela sofria muito em me vr naquela situaçaoparecendo um zumbi.Caindo na real parei para analisar minha vida como estava, e senti a necessidade de parar, ou eu apagava o crak da minha vida ou ele me matava. Pedi a Deus a libertaçao e graças a ele estou me recuperando. O que o viciado precisa e de apoio da familia,da sociedade,moro em um lugar que esta infestado desta droga mas estou superando. O crak a primeira coisa que ele tira de vc e a moral,deixa a pessoa desacreditada e a sociadade ve o viciado como um marginal,


carlos alberto de sousa  - 

Denuncie este comentário31/10/2009 20:50

o crak é o rei ea cocaina a rainha mas eu um es viciado em crak e cocaina e alcoll mas deus melibertou da escravidao e hoje sou uma pessoa bem sucedida na sociedade deus e mais na minha vida

Daniela Xu / 

Droga tem feito um número cada vez maior de vítimas
Foto:  Daniela Xu


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