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Crack nem pensar  | 26/05/2009 18h04min

Prostituição para comprar crack

Nádia de Toni  |  nadia.detoni@pioneiro.com

Jéssica, 15 anos, é filha de pai traficante e mãe usuária de cocaína. Nasceu em uma família pobre da periferia. Começou a fumar maconha aos 10 anos. Por causa do vício, parou de estudar aos 12. Ano passado, iniciou um tratamento para dependência química, mas desistiu um mês depois. Grávida de quatro meses, Jéssica está de volta à mesma clínica há um mês.

Eu comecei roubando cigarro da minha mãe. Depois, conheci a maconha. Com 13 anos, fui numa festa com uma amiga. Ela tem dinheiro, sabe, daí gastamos uns 150, 200 pila em cocaína. Cheirei lá na festa mesmo. E assim começou. Sabe, meu pai era traficante, daí puxou tudo aquilo. Sempre foi mais fácil conseguir a droga. Meu pai morreu na cadeia. Agora meu padrasto tá preso por tráfico. Tem meus tios que são traficantes, meu primo, os namorados das minhas irmãs... Então, tudo vem dessa convivência. O crack eu conheci quando tive uma briga feia com a minha mãe. Fui lá pro meu primo, daí ele pediu se eu queria experimentar alguma coisa mais forte. Daí eu tava chorando, tava muito nervosa e falei: ‘vô me jogar de vez’. Daí eu experimentei. Nossa! Tu fica muito louco, a sensação é de que todos os problemas somem. Mas aí, depois que passa, vem a frustração. Tu lembra que tu vendeu tuas coisas pra fumar. Nossa! Daí, sabe o que tu faz? Vai lá, vende mais uma coisa e fuma para esquecer disso. E assim tu vai indo até um ponto em que tu não tem mais nada, ninguém mais confia em ti. É tu e tu. Não tem essa de fumar uma pedra só. Tu passa dois, três dias dando estouros (fumando). Uma vez me prostitui por R$ 50 pra comprar crack. O problema não é só a droga, o problema é... ai, esqueci a palavra, como é... a, sim, o comportamento. O problema é o comportamento que faz usar droga. Já fiquei internada ano passado. Mas quem é que, na minha idade, vai querer ficar sem rádio, sem música, sem festa, sem namorar, sem nada? Imagina! Eu fugi. Agora tô grávida e minha mãe me largou de mão. Daí eu pensei que não quero dar pro meu filho a vida que eu levo. Tô começando tratamento e quero sair de cara limpa. Todas as manhãs me prometo: ‘só por hoje não vou usar droga’.

SÉRIE DO JORNAL PIONEIRO PUBLICADA EM ABRIL DE 2009

Comentários

andrea

Denuncie este comentário04/08/2009 15:14

Sª Raimunda jamais desista de seus filhos.Eu não vou desistir do meu sobrinho e o que tem me dado forças eo Deus que aprendir a amar e sei que ele vai libertar o meu sobrinho, e a todos que passam pela mesma situação que não a nada neste mundo que libertar do vicio se não for o Senhor da Glória. Que Deus conforte todas as familias na mesma situação.E as vezes passamos pór situações para nos chegarmos a Deus.


Paulo Leopoldo França da Costa

Denuncie este comentário02/08/2009 21:26

Fiquei triste quando li esse texto, uma menina com 15 anos...Melhor dizendo com a minha idade se prostituindo,vendendo o seu próprio corpo,vendendo a sua dignidade, por uma "pedra" de crack, meu pai sempre me encinou a me cuidar com drogas e cigarros, e eu vejo que hoje em dia tem crianças de 9,10,12 anos de idade fumando, me da um aperto no coração.

Daniela Xu / 

"Eu comecei roubando cigarro da minha mãe. Depois, conheci a maconha"
Foto:  Daniela Xu


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