| 19/03/2011 18h16min
Vai falar alguém que nunca criticou Renato Portaluppi desde a sua volta ao Grêmio. Minto: uma única vez, quando ele insinuou que não queria treinar em jogos do Interior, discordei. Uma criticazinha de nada, portanto. Nem conta.
No momento mais conturbado do seu retorno, o da renovação de contrato, cheguei a dizer que o Grêmio deveria pagar o que ele pedisse, ainda que fosse um devaneio. Murmuravam que R$ 400 mil ou meio milhão era caro demais.
Errado: era barato, pelo milagre de evitar o rebaixamento e pelo que poderia representar a sua figura emblemática no Olímpico. Renato não é o maior ídolo do Grêmio. Ele é o Grêmio.
Dito isso, mereço quase um salvo-conduto para afirmar o que vem a seguir.
Renato vive o seu pior momento no Grêmio, e isso está acontecendo por um único motivo: o Fator Kajuru.
Kajuru errou. Renato pediu sigilo. Off, como diz na gíria jornalística, não se discute. Cumpre-se. A menos que subverta deveres de cidadania: saber que fulano matou beltrano, por exemplo. De resto, é para ser cumprido.
Mas há um fato irrevogável aí: a voz de Renato dizendo que a chance de deixar o Grêmio rumo ao Fluminense é grande. Trote ou não, é a voz dele.
Há uma inequívoca repercussão no imaginário do torcedor. Ficou uma vírgula, um "mas". Antes, na hora de analisar Renato, o universo gremista enxergava tudo pelo lado positivo. Agora, há o Fator Kajuru puxando para o outro lado.
Depois do fator Kajuru, o presidente Paulo Odone critica o time. Surgem alguns — não são muitos, são poucos, mas antes contestar Renato era caso de condenação na cadeira elétrica — emails de torcedores contrariados.
Gílson na lateral-esquerda passa a ser teimosia, e não convicção. A troca de Carlos Alberto por Bruno Collaço em meio aos jogos não significa mais coerência tática e sintoma de que todos são iguais no vestiário, e sim falta de imaginação.
Do Peru, Renato sentiu-se no dever de afagar a torcida. Pergunto eu: quando houve necessidade de Renato Portaluppi mandar abraço para os gremistas, se os dois nunca se desgrudaram?
Como se explica esta leve mudança? O Fator Kajuru.
A simbiose jogadores-técnico-direção-torcida é um trunfo de Renato no Grêmio. Raros técnicos trabalham com um ambiente tão indivisível jogando sempre a favor.
O Fator Kajuru tisna este encanto. Dependerá do talento — desmedido, imensurável, eterno — de Renato atravessar o mar revolto até encontrar novamente águas tranquilas.
Depois de o primeiro lugar do grupo na Libertadores ficar longe após o empate com o limitado Leon, não duvido que apareçam vaias em caso de dificuldades contra o Porto Alegre, no domingo.
É o Fator Kajuru.
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