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 | 02/12/2010 10h11min

D'Alessandro: "Eu assumo a responsabilidade. Gosto disso"

Dono da camisa 10 do Inter, argentino aceita o desafio de ser o cara do Mundial

Christiane Matos  |  christiane.matos@diariogaucho.com.br

Centenas de crianças usam o mesmo corte de cabelo. Pais batizam os filhos com o seu nome. A torcida, até mesmo nos momentos difíceis, nunca deixa de aplaudi-lo. É por tudo isso, e principalmente pelo que faz em campo vestindo a camisa 10 do Inter, que Andrés Nicolás D'Alessandro é ídolo dos colorados.

– Eu não tenho noção. Se sou ídolo no Inter é um orgulho. O carinho da torcida ninguém compra e isso é o que tenho de mais valioso. Não tem como não correr, não lutar por essa gente – afirma o argentino.

Gringo não foge da obrigação

Referência técnica do time, D'Alessandro sabe da responsabilidade que carrega na bagagem para Abu Dhabi. Conhecido no mundo inteiro pela sua habilidade ao fazer o drible "La Boba", o gringo é também sinônimo de raça e entrega. Ainda mais quando se trata de decisão. 

– Eu assumo a responsabilidade. Gosto disso. Cada um tem a sua e eu sei que tenho de fazer o melhor no Mundial – revela.

Para alcançar hoje "um dos melhores momentos da carreira", como ele define, D'Alessandro deu duro. Sua trajetória no futebol não ocorreu por sorte, e sim por merecimento. Aos quatro anos, já jogava futebol de salão, em Buenos Aires. Com oito, começou nas categorias de base do River Plate e já chamava a atenção pela sua canhotinha potente.

– Eu viajava 40 minutos de ônibus para treinar. Levava um pacote com sanduíche que minha mãe fazia, porque comprar comida todos os dias não dava – recorda.

Foto: Arquivo pessoal

Encanador e motoboy no currículo

Para ajudar os pais nas despesas da casa, D'Alessandro trabalhou até como encanador, ao lado do tio. De quinta à domingo, de noite, ainda fazia bico como motoboy:

– Eu entregava pizzas até uma meia-noite. Precisava de dinheiro para ir treinar e poder sair de noite.

O primeiro contrato como profissional, aos 18 anos, no River, foi a oportunidade de retribuir um pouco do esforço dos pais para apoiá-lo na carreira. A mãe, Gladys, trabalhava na administração de um colégio. O pai, Eduardo, foi mecânico por 15 anos e depois virou taxista. Hoje, é dono de uma loja de auto peças.

– A primeira coisa que fiz foi pagar as prestações atrasadas do táxi do meu pai. Depois aluguei uma casa maior para toda a família. Foi a primeira vez que eu e meu irmão, Marcelo, tivemos um quarto – relembra.
 
A dívida está paga

D'Alessandro é um jogador que não foge da obrigação. Quem o conhece um pouco mais, sabe também que é um homem de palavra. Cumpre tudo o que diz ou promete dentro e fora das quatro linhas.

Quando o Colorado perdeu a Copa do Brasil, em 2009, o argentino assumiu publicamente uma dívida com a torcida. A ideia era pagá-la com o título do Brasileirão e uma vaga na Libertadores. Veio mais que isso:

– Hoje, pela primeira vez, posso dizer que ela foi paga. Cumpri meu sonho de ganhar a Libertadores.

Criado no River Plate, "El Cabezón", como é conhecido, não esconde o seu amor pelo time branco e vermelho, onde jogou por 14 anos. Há mais de dois no Beira-Rio, ele admite:

– São os dois clubes mais importantes para mim. Tudo o que consegui dar a minha família foi graças ao River. Aqui, conquistei os títulos mais importantes. O Inter tem lugar especial no meu coração.
 
Um homem obstinado

Para quem foi gandula dos jogos do River Plate para poder assistir de perto seus ídolos jogarem, estar hoje do outro lado é a realização de um sonho. Quando pequeno, D'Alessandro contentava-se com um autógrafo de Ortega e Crespo. Agora, ele se orgulha por ter jogado ao lado deles.

– Eu ganhava sanduíche e Coca-Cola para trabalhar. Apareço no vídeo da final da Libertadores de 1996, abraçando os jogadores – conta.

Vem novidade por aí

De personalidade forte, D'Ale sempre foi obstinado, não somente para correr atrás da bola. Com 17 anos, conheceu aquela que seria a futura mãe dos seus filhos: Erica. O namoro terminou quando ele foi jogar na Alemanha, em 2003, pelo Wolfsburg. Quando voltou, não perdeu tempo e a pediu em casamento.

Martina, quatro anos, nasceu quando jogava na Inglaterra, pelo Portsmouth. Santino, dois anos, é argentino, da sua passagem pelo San Lorenzo. Alheio a muita badalação, D'Alessandro gosta de curtir a família. Adora jogar videogame, sair para jantar e fazer churrasco com os amigos.

– O pessoal sabe como sou. Acredito que a torcida dá valor ao que faço dentro de campo e pelo que sou fora dele – afirma o meia, que conta receber nas ruas o carinho também de gremistas.

Para ficar mais próximo dos fãs, o jogador lançará sexta-feira uma página na internet (www.dalessandro10.com):

– Quis fazer o site porque o torcedor quer estar perto do jogador e eu também quero estar perto deles.
 

Perfil

Nome: Nome: Andrés Nicolás D'Alessandro
Data e local de nascimento: 15/04/1981, em Buenos Aires (ARG)
Comida preferida: "As massas que a minha nona fazia".
Filme preferido: Chamas da Vingança, com Denzel Washington
Último filme que viu: Avatar
Jogo inesquecível: "O Gre-Nal dos 4 a 1" (Brasileirão 2008, em que fez um gol e deu passe para outros dois).
Onde passa as férias: "Na minha casa em Buenos Aires".
Ídolo no futebol: Rubén Paz, ex-meia da seleção uruguaia
Ídolo na vida e por que: "Meus pais, Eduardo e Gladys, porque sempre me ajudaram e me deram a sustentação quando eu não tinha nada."
Se não fosse jogador de futebol, seria? "Não sei, estaria trabalhando, talvez até como motoboy, porque estudar não era o meu forte."
Grau de escolaridade: Ensino Médio completo
Pior situação por que passou em campo: "A fratura no rosto, quando precisei fazer cirurgia" (Gauchão de 2010, contra o Juventude.
Música preferida: La Nueva Luna (grupo de cumbia da Argentina)

DIÁRIO GAÚCHO
 

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