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 | 24/11/2010 06h32min

De carteiro do Interior a capitão da América

Ele queria entregar correspondências, mas o sangue de boleiro falou mais alto. Quem sabe o líder do grupo colorado traz uma encomenda dos Emirados Árabes Unidos?

Christiane Matos  |  christiane.matos@diariogaucho.com.br

Imagine uma criança de seis anos que já participava das concentrações antes dos jogos, dos treinos e das viagens da equipe em que o pai jogava. Qual a chance de não virar jogador de futebol? Pequena, claro. Saiba, contudo, que antes de Fabian Guedes brilhar nos gramados como Bolívar, seguindo a trajetória do pai, o guri pensava em ser carteiro.

Aos 16 anos, Bolívar estagiou nos Correios de Santa Cruz do Sul, onde nasceu. Durante um ano, o hoje capitão do Inter divertiu-se entregando cartas.

– Foi o máximo! Andava de bicicleta para fazer as entregas, vestia calça azul e tudo – relembra, com saudosismo.

- Semelhanças vão além do nome

O futuro no futebol, porém, já estava traçado. Acompanhando de perto a rotina do pai, que se chama Bolívar e cedeu o nome quando o filho começou na carreira, o guri trocou a bicicleta pela bola.

– Estava sempre junto do meu pai. Minha infância sempre foi ligada ao futebol – conta.

A identificação entre eles, entretanto, vai além de dividirem o nome. Como o pai, Bolívar começou no meio-campo, virou lateral e consagrou-se zagueiro – a diferença é que joga pela direita. Até a vocação para liderar foi herdada. Em Limeira, na Inter, Bolívar pai ficou conhecido como o Xerife de Limeira. No Internacional, o filho é o General Colorado.

- Irmão teve de desistir

Numa família de quatro irmãos – Tatiana, Monize, Marcel e Bolívar –, os guris tentaram seguir os passos do pai. Marcel, porém, largou o sonho para servir o Exército. Hoje, trabalha em uma grande multinacional. Já Bolívar, aos 16 anos, conseguiu vaga no juvenil do Guarani de Venâncio Aires, clube que o pai defendia. A partir dali, não parou mais.

Jogou nas categorias de base do Grêmio, de 1998 a 2001, mas foi pouco aproveitado. Voltou para o Interior e profissionalizou-se, mas foi no Beira-Rio que deu o salto na carreira.

Sagrou-se campeão da Libertadores, em 2006, e foi vendido para o francês Monaco. Voltou em 2008 para levantar, dois anos depois, a taça do bi e ter a oportunidade de ganhar seu primeiro Mundial de Clubes.

- Vermelho também de Papai Noel

O pai, boleiro, não ganhava as cifras de hoje, o que não dificultou a infância do menino Fabian. Nem por isso ele era um garoto alheio aos sofrimentos de outros. Hoje, além de ajudar a família, dá uma de Papai Noel para crianças carentes. Mesmo sem vestir o traje do bom velhinho, Bolívar realiza sonhos:

– Nas férias, vou sempre a alguma creche ou berçário distribuir presentes.

Há quatro anos ele faz, voluntariamente, essa ação, mas não gosta de alardear. Perto do Natal, escolhe uma instituição carente de Porto Alegre ou Santa Cruz para visitar:

– Desde que comecei, recebo em dobro. Ver o sorriso de uma criança não tem preço!

- Terceira geração promete

Assim como Bolívar acompanhava o pai, Tales, dez anos, faz o mesmo. A pequena Victoria, quatro anos, não frequenta o estádio, mas o piá é companheirão do zagueiro. Na final da Libertadores contra o Chivas, no México, uma conversa entre os dois foi profética.

– Ele estava louco para falar comigo. Liguei e ele contou que sonhara com meu gol – disse o zagueiro, autor do gol da vitória por 2 a 1.

A história repercutiu e Tales apareceu na tevê, deu entrevistas e encheu o pai de orgulho. E já que a premonição foi certeira, Bolívar planeja:

– Vou passar um filme comigo levantando a taça, para ver se ele sonha no Mundial...

 - Na fila

- Amanhã, confira o perfil do goleiro Renan

Conheça mais do ídolo
- Nome: Fabian Guedes
- Data e local de nascimento: 16/8/1980, em Santa Cruz do Sul (RS)
- Comida preferida: churrasco
- Filme preferido: “De terror. Gosto de Jogos Mortais.”
- Último filme que viu: Tropa de Elite 2
- Jogo inesquecível: “Da Libertadores, contra o Chivas, lá, em que fiz o gol da vitória.”
- Onde passa as férias: Santa Cruz do Sul
- Ídolo no futebol: “Meu pai, Bolívar.”
- Ídolo na vida e por que: “Meu pai e minha mãe, Leilani, por terem me dado educação e a base para ser quem sou.”
- Grau de escolaridade: Ensino Médio
- Pior situação por que passou em campo: “Ter de trocar de calção, rasgado, diante do estádio lotado na estreia pelo Monaco, em 2006.”
- Se não fosse jogador de futebol, seria? Carteiro
- Música preferida: “Sou muito eclético. Goste de pagode, rap, pop.”

DIÁRIO GAÚCHO
Fernando Gomes / 

Bolívar ergue a taça da Libertadores no pódio, ao lado do filho, Tales
Foto:  Fernando Gomes


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