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 | 18/11/2010 07h12min

Galatto: "Por mim, ficaria no Grêmio pelo resto da vida"

Afirmando não guardar mágoa, o goleiro mira carreira sólida na Europa antes de voltar ao clube do coração

Lucas Rizzatti  |  lucas.rizzatti@zerohora.com.br



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Toda semana, o clicEsportes conversa com ex-jogadores da dupla Gre-Nal que hoje brilham em gramados distantes do Rio Grande e do Brasil. Hoje, a série resgata as lembranças de Galatto, herói do Grêmio no retorno do clube à Série A.


Com a camisa 13 do Málaga, Rodrigo José Galatto, 27 anos, já enfrentou a fúria de um ataque estrelado por Cristiano Ronaldo, Higuaín e Di Maria. No entanto, o principal duelo de sua vida foi com o então anônimo Ademar, do Náutico, em 2005. Naquele histórico 26 de novembro, seu sobrenome viajou da garganta do narrador Pedro Ernesto até a memória de cada torcedor do Grêmio. Com 22 anos, Galatto tornou-se o expoente maior da Batalha dos Aflitos.

— Nunca vamos esquecer o que Galatto fez pelo Grêmio — promete Antônio Carlos Verardi, supervisor de futebol tricolor e testemunha do milagre em Recife, há cinco anos.

— Esse jogo é comentado até hoje, e é muito bom. Até aqui, na Espanha, me perguntam sobre a Batalha dos Aflitos — afirma o goleiro.

Foto: Divulgação


Mesmo festejado pela defesa no jogo da vida do clube, Galatto acabou deixando o Grêmio em 2008. Antes de chegar ao futebol espanhol, passou pelo Atlético-PR e se aventurou pelas terras quase secretas da Bulgária. Há três meses, ocupa o gol do Málaga. Mesmo separado por um oceano, Galatto não se esquece do Grêmio. Nem esconde sua vontade de defender o time do coração.

— Por mim, ficaria no Grêmio pelo resto da vida. Já disse para todos, sou um torcedor gremista. Não escondo de ninguém.

Com o contrato chegando ao fim em 2007, Galatto diz ter ficado "sentido" à época, pela demora da direção em se manifestar sobre uma eventual renovação.

— O Grêmio deixou tudo para a última hora. Daí surgiu a proposta do Atlético-PR — explica o jogador, que assegura não guardar mágoas do clube que o projetou, pelo contrário: — Saí bem amigável, sem ressentimentos. Vi que meu espaço havia diminuído e resolvi respirar novos ares.

Apesar de estar iluminado na Batalha dos Aflitos, os anos seguintes foram de problemas para Galatto. Ele sofreu com lesões. Para o goleiro, elas atrapalharam a sua ascensão no Tricolor.

Uma das contusões Galatto não esquece. Por coincidência, se deu também num dia 26, mas de março, em 2006. Um choque contra um atleta do Veranópolis provocou uma lesão na cabeça, que o deixou 30 dias parado. Ao retornar, o goleiro ainda falhou num 4 a 4 com o Fluminense. Em 2007, perdeu o posto para Saja.

Longe dos pais, perto dos craques

Mais do que renovar o escudo no uniforme, a saída do Grêmio simbolizou uma mudança na trajetória de Galatto fora dos gramados. O menino que chegou ao estádio Olímpico com apenas 13 anos, alimentando o sonho de viver de futebol, agora é um homem com bagagem e histórias de vida para contar.

— Saí da casa dos meus pais, casei, conheci outras culturas. No fim das contas, a saída do Grêmio me ajudou a crescer.

O guri criado em Cachoeirinha sumiu. Galatto tomou gosto pela Europa. Com cinco meses de Bulgária e até agora pouco mais de três de Espanha, ele quer mais. Seu futuro aponta para o Velho Continente.

— Vai fazer apenas um ano que saí do Brasil — justifica o goleiro, vinculado ao Málaga até 2013. — Vou fazer o meu trabalho para almejar coisas maiores, quem sabe outros países desse eixo europeu, jogar com grandes jogadores.

Sufoco no campeonato espanhol


Foto: Divulgação


Galatto enfrenta um misto de contentamento e pesar ao lembrar seus tempos de Bulgária. Complicou-se com o idioma, um verdadeiro tormento em sua rotina quando defendia o Litex Lovech. O entrave, todavia, não o atrapalhou em campo. Lá, venceu o campeonato nacional e disputou a fase preliminar da Champions League.

Na Espanha, ele se sente em casa. Fica feliz só por entender o que um nativo fala. Compara os povos, afirma que os espanhóis são muito mais receptivos do que os búlgaros. Mas os resultados em campo ainda não surgiram. Galatto começou como titular, porém passou por duas lesões. Ocupou a reserva de Arnau nos últimos jogos — inclusive na partida mais recente, na vitória diante do Levante. Fundamental, o triunfo por placar mínimo tirou o Málaga da zona de rebaixamento.

"Torço pelo Victor" 

Ao ver o experiente Verardi, 76 anos, embargar a voz e desarmar o olhar firme quando lembra de Galatto, é possível confirmar que os portões do Olímpico estarão sempre abertos para o goleiro. Galatto pensa no mesmo sentido e pretende voltar ao clube pelo qual torce. Ele lembra um episódio na sua saída, que jamais saiu de sua mente:

— Quando fui assinar uns papéis no Olímpico, o vice de finanças da época, o Túlio Macedo, olhou para mim e disse: "É um 'até logo', não um 'adeus. Você vai voltar, guri". E vou mesmo, mas não agora, nem no ano que vem ou em dois anos. Daqui a um tempo, quem sabe.

Além do desejo de esticar sua estada europeia, Galatto entende que o momento no gol tricolor é de Victor, o que diminuiu suas chances de retorno. Contratado do Paulista, Victor se consagrou como o melhor goleiro do país e hoje ostenta a camisa 1 da Seleção Brasileira.

— Eu torço por ele até porque sou gremista e torço pelo clube. Logicamente, por isso, quero o bem do Victor também — argumenta, deixando claro que acompanha o Grêmio pela internet: — Vejo as notícias, ouço os jogos, quero ficar por dentro sempre.

Sempre a Batalha


Foto: Ricardo Duarte


Mesmo depois de cinco anos, Galatto não se cansa tampouco se incomoda em tocar no assunto da Batalha dos Aflitos. Munido da mesma serenidade com que evitou o pênalti de Ademar, o goleiro convive entre o presente na Espanha e as inevitáveis recordações do dramático retorno tricolor à elite do futebol brasileiro.

Hoje, Galatto até consegue rir de certas histórias, depois de estar perto de permanecer na Série B. Isso porque Ademar atua na Bulgária e poderia ter enfrentado Galatto pelo campeonato local, durante os meses do goleiro naquele país. Justo no embate entre as duas equipes, o lateral esquerdo estava alijado da partida, devido a uma lesão:

— Os outros brasileiros do time dele até brincaram, dizendo que ele fugiu, com medo de mim naquela época. Mas tudo pura brincadeira, claro — conta Galatto, abrindo um largo sorriso, típico de quem sabe que fez história e está marcado para sempre na vida de um grande clube.

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