| 25/09/2010 18h03min
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O espanhol Rafael Benítez Maudes, 50 anos completados em abril, assumiu o comando técnico da Inter, de Milão, em junho, substituindo o português José Mourinho – campeão de tudo com o clube italiano. Sob a orientação de Mourinho, a Inter conquistou na temporada passada sua sexta Copa da Itália, seu 18º Campeonato Italiano (o quinto consecutivo) e sua terceira Liga dos Campeões da Europa, uma tríplice coroa inédita para o futebol italiano. Mourinho transferiu-se para o Real Madrid e deixou vago um cargo ao mesmo tempo atraente e desafiador: o de treinador de um supertime, aparentemente enfarado de títulos. Para encarar este desafio, a Inter buscou Rafa Benítez, que dirigia o Liverpool, onde conquistou o título da Liga dos Campeões de 2005. Benítez comandará a Inter no Mundial de Clubes da Fifa, em Abu Dhabi – se mantida a tradição, contra o Inter de Porto Alegre, atual campeão da Libertadores. Nesta entrevista, concedida no centro de treinamentos da Inter, em Appiano Gentile, ele fala sobre dois Inter, a seu e o provável rival:
Falcão – Como foi o desafio de assumir um clube que ganhou tudo com Mourinho?
Rafa Benítez – Eu estava há seis anos no Liverpool e a situação com os dirigentes mudara. Não havia o mesmo respaldo. Era o momento de mudar. A Inter estava disponível, e o presidente me queria. É evidente que era uma oportunidade, era um desafio, pegar uma equipe forte, que podia ganhar títulos. Isso é sempre uma motivação para um treinador.
Falcão – Você manteve o que vinha funcionando, ou já sentiu a necessidade de mudar?
Benítez – De início, porque coincidia com o período após o Mundial e com um par de partidas internacionais, mantivemos quase a mesma equipe, mantivemos quase o mesmo desenho do final do ano passado. A única coisa que fizemos foi adiantar um pouco mais as linhas e ter um pouco mais de posse de bola.
Falcão – Isso deu para ver. A Inter de Mourinho tinha um pouco menos de posse de bola. Quanto tempo foi preciso para mudar?
Benítez – Não é fácil, porque em futebol há necessidade de ganhar para reforçar as mensagens. Então, se vamos ganhando, é mais fácil para os jogadores assimilarem. O tempo da mudança depende muito da capacidade dos jogadores de aprender e da nossa capacidade de ensinar.
Arquivo Pessoal
Falcão – A Inter ainda é o melhor time italiano?
Benítez – A Inter é uma grande equipe, que fez tudo bem no passado e, creio que pela qualidade de seus futebolistas, o fará bem no futuro. Mas agora, tanto a Juventus, quanto a Roma, quanto o Milan, se reforçaram. Então, a equipe será melhor ou pior conforme o que fizer no campo, não pelo que dizem os jornais.
Falcão – Qual é a importância de um treinador numa equipe como a Inter?
Benítez – Creio que o mais importante sempre serão os jogadores. Esta é uma equipe que ganhou quando o treinador era Mancini, ganhou quando era Mourinho e ganhou a Supercopa com um que acabou de chegar. Isso demonstra que os jogadores são bons. Evidentemente, temos de conseguir com que a equipe mantenha o nível anterior enquanto mentalidade, caráter, ambição, e, se puder, melhorar um pouco no nível dos atletas.
Falcão – Não é mais difícil manter este nível numa equipe habituada a vencer?
Benítez – É preciso distinguir entre vencer e como se vence. Esta equipe venceu, mas todos coincidem, inclusive os futebolistas, que se pode melhorar em nível de jogo. O desafio é seguir ganhando até onde se pode, porque as outras equipes se reforçam e também são boas.
Falcão – O que você sabe do Inter de Porto Alegre?
Benítez – Hoje, pouco. Porque cheguei numa equipe nova, e a gente tem que configurar a equipe. Vi alguma coisa por TV, vi que tem um jogador com bastante habilidade e velocidade. Para nós é um pouco cedo. Tenho algumas vantagens, jogadores brasileiros que conhecem muito bem o rival e que pouco a pouco me darão mais informações. Porém, neste momento, minha preocupação é com minha equipe, conseguir que todos nos conheçamos e trabalhemos bem. Só então, pouco a pouco, conhecer o rival.
Falcão – Neste momento você pensa no Mundial de Abu Dhabi?
Benítez – Fizemos uma planificação de trabalho. Mas a prioridade é a melhora do dia a dia da nossa equipe, não pensamos para daqui a dois ou três meses.
Falcão – Lúcio jogou no Inter de Porto Alegre. Você espera informações dele?
Benítez – Seguro. Maicon, Lúcio, Coutinho, Júlio César, todos me ajudarão. E Lúcio seguramente tem mais informações do Inter.
Paulo Franken, BD - 10/11/1999
Falcão – Você viu o jogo final da Libertadores contra o Chivas?
Benítez – Não, mas temos o vídeo. Já comentamos sobre a partida, pelo que vimos na TV, mas ainda não a analisamos.
Falcão – O Inter tem jogadores que já atuaram na Europa, como Tinga e o argentino D’Alessandro. O que você pensa deles?
Benítez – D’Alessandro (que atuou pelo Zaragoza) parece ter recuperado o nível. Eu o conheço bem e creio que está fazendo as coisas muito melhor. É um jogador de qualidade e será sempre perigoso. Há dois ou três futebolistas que temos visto, com muita qualidade e velocidade. O número 7...
Falcão – Taison?
Benítez – Este.
Falcão – Não está mais. Está jogando em outra equipe.
Benítez – Melhor. Teremos tempo suficiente para analisar o Inter.
Gaspar Nóbrega, VIPCOMM
Falcão – Em que momento começará a pensar no Mundial?
Benítez – Temos gente observando as partidas. O mais importante é que a tua equipe vá analisando para que, no final, se possa pegar as coisas concretas. Uns 10 ou 15 dias antes estaremos mais concentrados nisso.
Falcão – Qual é a importância do Mundial de Clubes para você?
Benítez – Para qualquer treinador, sempre é importante ganhar. Neste caso, coincide que a Inter nunca ganhou este troféu. É o título que falta na galeria da Inter.
Falcão – Onde se joga o melhor futebol da Europa?
Benítez – Nestes três países, o futebol é totalmente distinto. Na Espanha é mais técnico. O exemplo do Barcelona chama a atenção. Muita técnica individual e coletiva. Na Inglaterra é mais físico, mais velocidade, mais intensidade para tudo. Na Itália, é mais tático. Todos os treinadores estão atualizados, sabem o que devem fazer. Os jogadores têm de decifrar mais os problemas do campo. É mais difícil.
Falcão – Qual é o seu esquema preferido? No Liverpool, jogava num 4-4-2, não?
Benítez – Iniciamos no 4-4-2, depois passamos ao 4-2-3-1, terminamos no 4-2-3-1 e também no 4-3-3. Eu gosto mais do 4-2-3-1, pois se pode variar para um 4-4-2 e também para 4-4-1-1.
Falcão – Quais as principais diferenças entre o futebol sul-americano e o europeu?
Benítez – A própria grama faz com que o futebol seja mais lento. Na América do Sul, há maior técnica individual. Na Europa, com a grama mais curta, o futebol é mais veloz. Aqui, é mais importante a técnica coletiva. Isso significa que na Europa há situações de futebol mais rápido e lá há situações de um contra um, de drible.
Falcão – Por que treinadores brasileiros fracassam na Europa?
Benítez – Não sei se a mentalidade, se a morriña (palavra galega que significa saudade) também afeta os treinadores e não só os jogadores. Mas eu creio que tem a ver mais com a intensidade com que se joga o futebol aqui. E a maneira de vê-lo na América do Sul, sobretudo no Brasil. É mais difícil a adaptação.
Falcão – A Inter está pronta?
Benítez – É uma equipe em fase de adaptação, de aprender o que queremos ensinar. E queremos manter o que aprendeu antes. É questão de um mês, dois meses. Não vai ser em uma semana que as coisas ocorrerão como esperamos. Para o Mundial estaremos preparados.
Falcão – É só uma questão de aprimorar a posse de bola?
Benítez – Sim, a primeira ideia é de posse, de poder jogar mais na frente. É uma equipe que jogava no contra-ataque. E o fazia bem. Mas depois de um primeiro ano com Sneijder, com Lúcio, com Milito, quando as outras equipes sabem que joga sempre no contra-ataque, fica mais difícil.
Falcão – É muito difícil manter o emocional de uma equipe?
Benítez – É difícil motivar uma equipe que ganhou os três torneios que podia ganhar. E inicia com o mesmo grupo de jogadores. Não é fácil, pois os jogadores têm um status, têm uma posição, e se dão conta de que o que ganharam, ganharam com muito esforço. E a maneira de voltar a ganhar é seguir esforçando-se.
Falcão – Como Rafa Benítez faz para manter o emocional alto?
Benítez – Nós, humanos, aprendemos quando erramos. Na partida contra a Roma, fomos bem, e ganhamos a Copa Italiana. Na partida contra o Atlético de Madri, não fomos bem, perdemos a Supercopa Europeia. Espero que isso tenha servido para aprendermos. Cometemos erros, voltamos a nos equivocar, mas na terceira vez aprendemos.
Falcão – E o futebol brasileiro, você acompanha?
Benítez – Sim. Nós trabalhamos com Oliveira (Ricardo Oliveira, seu jogador no Betis), Barata (atacante potiguar que conheceu Benítez na Espanha), Lucas Leiva (ex-Grêmio, volante do Liverpool), de muito nível técnico. Na relação com Maicon, com Júlio César, com Lúcio, falamos muitas vezes. Creio que o futebol brasileiro é muito bonito e espetacular. Sempre gostei de Pelé, Falcão, Jairzinho, Gérson, Tostão, Clodoaldo, Rivellino...
Falcão – Você viu alguma inovação tática na Copa do Mundo?
Benítez – O futebol às vezes muda pouco, porém o que vimos foi uma equipe como a Espanha, com muito toque, posse de bola, um reflexo do Barcelona. Muita gente vai tentar imitar, porém é um trabalho de anos.
Falcão – E esta Espanha, que esquema utilizou?
Benítez – O sistema não é importante na Espanha, porque Iniesta tanto joga na esquerda, como joga por dentro, num 4-3-3 ou num 4-2-3-1 com certa liberdade. Se jogam Villa e Torres, joga diferente. Mais do que o sistema, o importante da Espanha é a ideia de jogo.
Falcão – Os jogadores aceitam bem a mudança de esquema?
Benítez – Sim, porque na Espanha se trabalha muito isto. Em geral, sempre é mais difícil, porque depende da cultura do país. Na Itália também se trabalha muito o nível tático, na Inglaterra é mais difícil.
Falcão – O futebol europeu sempre usou atacantes brasileiros. Na Inter, é a defesa que tem jogadores brasileiros. Por quê?
Benítez – Creio que é mais fácil comprar atacantes porque é difícil encontrá-los no teu próprio país. Então, quando se olha em todo o mundo, se vai buscar o que é mais difícil de formar. O defensor é mais fácil de formar à base de trabalho. Contar com defensores brasileiros, que têm qualidade, é um luxo para nós. Lúcio, Júlio César e Maicon são jogadores básicos e têm qualidade. São defensores, mas sobretudo são jogadores que sabem jogar.
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