| 29/03/2010 19h19min
Faz uma eternidade que Armando Nogueira morreu aos 83 anos (1927-2010), vencido pelo câncer. Menos de 24 horas. Tempo demais sem ele. Li crônicas, depois reli, lembrei de comentários na TV, escutei textos esculturais em vozes perfeitas nas justas homenagens rendidas durante o dia.
Não ia dizer nada, porque nada teria a acrescentar diante de tudo o que se disse a respeito de um homem que teve o dom de revolucionar o que tocava, do telejornalismo à crônica esportiva.
Então lembrei de um aspecto singelo, mas crucial nestes tempos em que a sombra da intolerância avança sobre o futebol: o bom humor. Armando Nogueira tinha humor, condição básica das pessoas interessantes e inteligentes.
O futebol dele
não tinha espaço para cara feia, xingamentos, exagero de discussões que vão do nada ao lugar nenhum. Tudo
precisava ter graça. Da graça, nascia a leveza. E a paz.
O episódio da Portuguesa "namoradinha do Brasil" de 1996, por exemplo. A torcida do Grêmio irritou-se profundamente, mas foi uma sacada com humor. Naquele momento, a Portuguesa representava, aos seus olhos, o futebol sempre defendido em textos esculpidos em forma e conteúdo: talento, arte, beleza.
Não que o Grêmio de Felipão fosse um amontoado de brucutus. Até no infinito hoje se sabe que não era nada disso. O fato de ser um clube pequeno (a Portuguesa) contra um grande (Grêmio) ajudou na formação do estereótipo.
Não havia raiva na comparação de Armando Nogueira. Havia talento, com ou sem razão. Elegância. Detalhe: a expressão "namoradinha do Brasil" continha uma crítica ao Grêmio, mas em nenhum momento agressiva. Tanto assim que ele entrevistou Felipão dezenas de vezes depois e ambos trocaram louvores.
Ali, o mestre Armando pode ter
perdido o debate, mas nunca a classe e o espírito esportivo.
A morte de Armando Nogueira é um pouco a morte do bom humor. Nada pode ser pior do que perder um sorriso quando o futebol a cada dia torna-se mais casmurro, intolerante e, obviamente, violento.
ZERO HORA
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