| 26/03/2010 04h09min
– Eu estou demitido?
Com essa pergunta constrangedora e eivada de insegurança, já na madrugada de quinta-feira, Jorge Fossati foi ao encontro de Fernando Carvalho, no vestiário destinado ao visitante no Estádio Passo D’Areia. A goleada do São José retumbava na cabeça da comissão técnica e da direção, e o treinador uruguaio mostrava-se fragilizado.
O dirigente o deixou tranquilo àquela hora. Mas ainda havia dúvida sobre sua permanência. Na verdade, só bem depois, por volta das 3h, na mesa da churrascaria Garcias, no bairro Praia de Belas, a manutenção de Fossati acabou sendo definida. Estavam reunidos além de Carvalho, os homens do futebol: Roberto Siegmann, Cuca Lima e Newton Drummond.
Pesou a favor de Fossati o escasso tempo para contratar Muricy Ramalho, a uma semana da partida decisiva na Libertadores contra o Cerro, na próxima quarta-feira. Além disso, a apatia de alguns jogadores, e a falta de uma liderança forte dentro do grupo de atletas,
foram levadas em conta.
Dirigentes asseguram que o planejamento de Fossati para enfrentar o São José fora bem feito. Minuciosamente. Era considerado o jogo para vencer e espantar a crise que se avizinhava. Acabou num desastre, nas palavras de Fernando Carvalho.
A decisão tomada na madrugada foi repassada por Carvalho ao presidente Vitorio Piffero, ontem, durante almoço no BarraShoppingSul.
Além de não trocar o técnico, o Inter tomou outra decisão: deixou o Campeonato Gaúcho para o segundo plano. No domingo, apesar da crise, um time misto entrará em campo contra o Caxias. A ordem é salvar a Libertadores, mesmo que uma derrota no Centenário aumente a pressão sobre Fossati. A urgência é corrigir os graves problemas da equipe:
1) A defesa desprotegida pelos volantes que não guardam posição.
2) A zaga exposta e em linha.
3) O setor ofensivo inoperante na sequência de cinco jogos sem vitórias.
4) A volta do esquema
3-5-2 não é descartado.
Os jogadores se mostraram apreensivos
ontem. Alguns chegaram bem cedo para o treino das 16h, como D’Alessandro – que, em tratamento de uma pancada na coxa, foi o primeiro a ir embora, às 16h35min – e Wilson Mathias – com uma luxação no ombro. Fossati chegou ao Beira-Rio às 15h17min. Ao contrário de outros dias, passou direto pelos repórteres, sem cumprimentar ninguém. Vestia jeans, camiseta preta e óculos escuros. Estava mais abatido do que nunca.
– Oi, Banhinha, tudo bem? – limitou-se a saudar o massagista.
Fossati seguiu para a antesala do vestiário, onde fica o gabinete de Fernando Carvalho. Conversaram por mais de uma hora antes do treino. O dirigente assegurou a sequência do trabalho, mas cobrou resultados imediatos. Fossati sabe que sua sobrevida depende de vitória sobre o Cerro.
Os jogadores também serão cobrados. A atuação no Passo D’Areia foi considerada inadmissível.
Entre os jogadores houve conversas em pequenos grupos. Atacantes e meias reclamando dos
gols sofridos pela defesa, zagueiros e volantes
contestando a ausência de gols dos homens de frente.
Houve uma catarse no vestiário durante a tarde nublada de ontem.
– De nada adianta trocar a comissão técnica todo o mês se não vai ser fixada uma ideia. Precisamos seguir na mesma linha, corrigindo erros – disse Carvalho, justificando Fossati. – Sempre em momento ruim, se a gente fala, se a gente expõe o que pensa, é melhor. Eu saí da reunião bem melhor do que entrei. Uma coisa posso garantir: o Fossati não está perdido.
Sabedor da instabilidade de Jorge Fossati, o presidente da Federação Equatoriana de Futebol, Luis Acosta, deve voltar a procurar o uruguaio. Ainda precisa de um técnico para a seleção, e Fossati é o preferido.
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