| 28/09/2009 05h30min
Várias questões afligem Inter e Grêmio na hora em que o Campeonato Brasileiro começa a se decidir (veja o comentário em vídeo). Mas ao menos uma é idêntica, medonhamente idêntica, no Beira-Rio e no Olímpico.
Tite e Paulo Autuori não têm lateral-direito.
Ontem, boa parte da derrota azul no Serra Dourada por 2 a 1 se explica pelo desempenho sofrível de Thiego na posição. Não apenas pelo passe esquisito no gol de Felipe. Falo do conjunto da obra mesmo. Pelo seu lado, ainda que a cobertura tenha sido falha, o Goiás atacou com liberdade e confiança durante a calorenta tarde de Goiânia. A derrota passou por ali.
No caso do Inter, o
pólo-aquático do Beira-Rio impede qualquer análise tática sensata. Inter e Flamengo nadaram atrás da bola. A pior atuação foi a do árbitro Sandro Ricci, que deu condições a um gramado impraticável. Deveria ser punido por colocar em risco a integridade física dos jogadores, expostos a toda sorte de carrinhos e quedas por absoluta incapacidade de parar em pé. Mas a questão da lateral-direita existe. E ainda é mais dramática, pois Bolívar volta e meia está suspenso. Danilo Silva não consegue manter o mesmo padrão, que já não é satisfatório com o titular.
Nos dois casos, o problema é um só. No Brasil, a cultura tática exige do lateral que também vá ao ataque. E os quatro jogadores utilizados pela Dupla Gre-Nal no momento são zagueiros improvisados: Mário Fernandes e Thiego (Grêmio) e Bolívar e Danilo Silva (Inter).
Na hora de defender, tudo bem. Mas na hora de se somar ao setor de meio-campo e de ataque, é um martírio. É difícil lembrar
qualquer um do quarteto driblando para
dentro em busca de um chute de fora da área. Ou indo ao fundo com tabelas curtas para desferir um cruzamento certeiro.
Não há como ser diferente. Eles não têm o cacoete, o reflexo, a iniciativa ofensiva. São peixes fora d´água.
Mesmo que os técnicos os escalem para liberar Kleber e Bruno Collaço (ou Lúcio), ainda assim o time fica capenga. E, o que é pior, previsível. Basta o adversário concentrar a força de marcação do outro lado e as opções de ataque ficam bastante diminuídas.
Portanto, Grêmio e Inter cometem erros de avaliação na lateral-direita.
O primeiro, dos dirigentes: desistiram de contratar um jogador do ofício para a função. O segundo erro têm a assinatura de Autuori e Tite, ao optarem por zagueiros improvisados, quando deveriam ter buscado um jogador de meio-campo no grupo. É mais fácil para volantes e meias agregarem o aprendizado defensivo,
assim como é complicado fazer zagueiro ser driblador, ter ginga e exercer o
lançamento preciso.
Arce e Cláudio Duarte, dois dos maiores jogadores que exerceram este ofício no futebol gaúcho, comungam da mesma opinião. Arce começou como meia no Paraguai para depois brilhar na lateral-direita gremista nos anos 90. Cláudio era volante, mas sentou moradia no lado direito e ali fez história no time colorado dos anos 70.
Para o ano que vem, Inter e Grêmio deveriam dar importância à lateral-direita em vez de tratá-la tão mal. Uma parte do que não está dando certo na temporada tem origem aí, com todos os problemas decorrentes.
Não há como negar: no erro da lateral-direita, a Dupla Gre-Nal anda de mãos dadas.
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