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 | 23/09/2009 00h04min

Futuro do Figueirense está nas mãos de Paulo Prisco e Nestor Lodetti

Dirigentes coordenam momento de transição no futebol do clube

A última segunda-feira pode entrar para a história do futebol de Santa Catarina como o dia que não terminou. Uma versão mané para 1968, que ficou famoso como o ano que não terminou, eternizado a obra de Zuenir Ventura com fatos que mudaram o Brasil e o mundo.

O que o futebol de SC acostumou-se a reconhecer como exemplo, ganhou feição obsoleta desde a histórica reunião do Conselho Deliberativo do Figueirense realizada no primeiro dia desta semana.

O encontro que começou a mudar o destino do Figueira, deixou uma certeza: o clube vencedor, que virou exemplo recente para o Brasil de administração e gestão, ganhou prazo de validade para achar um caminho alternativo. O encontro entre conselheiros e dirigentes plantou, contudo, uma grande dúvida: qual será a nova realidade a ser perseguida?

A resposta a esta indagação ainda não existe, mas já está em construção, desde a última segunda-feira, em duas frentes. O futuro passa por dois homens — Paulo Prisco Paraíso e Nestor Lodetti — que detêm a chave do destino alvinegro. E estão coordenando como e para quem as portas do clube se abrirão daqui por diante.

Na retaguarda, num luxuoso escritório de advocacia, no Centro de Florianópolis, urdindo sustentação para a nova realidade do clube, está Nestor Lodetti.  No front de batalha, já em São Paulo, para onde embarcou às pressas, o presidente da Figueirense Participações, Paulo Prisco Paraíso, tenta alinhavar a transição para uma gestão do futebol aliada a uma nova parceria, com mais poder de investimento.

Encontro em restaurante selou pacto de dirigentes

Antes dos caciques partirem para suas missões, a totalidade da cúpula do clube, dirigentes de todas as alas, se encontraram no restaurante Lindacap, no Centro de Florianópolis. Ali, pouco ligaram para o bufet à disposição. Alguns, sequer almoçaram. O momento foi de conversa para certificarem-se de que todos estarão lutando no mesmo lado nesta "guerra" por garantir um departamento de futebol mais forte financeiramente.

Dali, houve a carta branca para os dois homens que detêm a chave do destino alvinegro. Se é um passo atrás para dar dois à frente, ou uma novo caminho, totalmente diverso, que o clube optou por trilhar, a realidade emergirá a partir das ações dos principais atores deste processo, deflagrada justamente na reunião que "não terminou".

Lodetti cuida para as forças políticas do clube se manterem unidas, mesmo que com algumas divergências de procedimento, mas mantendo um fim em comum. E Prisco aplicará suas forças para alavancar a capacidade de investimento no futebol, apostando na associação com um grupo investidor forte.

Presidente Boppré vê ação necessária

E a busca da parceria já começou. Grupos poderosos como o Sonda e a Turbo Sports, entre outros são o alvo. A única descartada é a Traffic, e o motivo não ficou claro, já que a empresa capitaneada por J. Hawilla teve, sim, relações próximas com o Avaí, mas que hoje em dia não são mais tão intensas.

O presidente do conselho administrativo, Nórton Flores Boppré, acredita que a mudança está mais relacionada aos resultados do futebol que aos rumos da instituição como o todo:

— Há necessidade de renovação de um ciclo no futebol, que foi muito vencedor desde 2004, mas não estava alcançando os mesmos resultados, portanto a nova realidade trazida na época para gestão do futebol precisa, agora, ser potencializada, e é o que se está buscando, mas projetos como a construção do estádio e de busca da volta à Série A seguem como prioridade — destaca.

Descontentamento de ex-presidentes é moderado

Ficou claro que o fim da "Era Prisco" está relacionada ao futebol do clube. Não há uma oposição formal. Grandes nomes alvinegros não levantam a bandeira do enfrentamento, como os ex-presidentes Gercino Corrêa da Costa e José Carlos Silva.

O primeiro, à frente do Figueira que encerrou um jejum de 20 anos sem título, em 1994, garante estar preocupado com o atual momento, mas interessado em ajudar e não preocupado em articular uma oposição:

— Todo nosso foco e nossa experiência estão direcionados em ajudar os presidentes Nórton, Prisco e Lodetti — garante Gercino.

O segundo, que antecedeu a entrada de Prisco, na gestão entre 1997-1998, que encaminhou o saneamento do Figueirense, não se diz opositor. Mesmo com diferenças de princípios e pensamentos em relação a atual gestão do clube, ele concorda com a guinada dada pela direção:

— Acho que o modelo merece adequação, reflexão, não mudança. O grupo que está lá deve continuar. As críticas tem que ser assimiladas por todos. Se perder um jogo ou dois ou um campeonato não se pode atacar um trabalho.

E conclui com uma dica:

— Só acho que o clube, não só o Figueirense, tem que assimilar a paixão do torcedor. Esse é o problema da gestão profissional.

A segunda-feira que começou e não vai mais terminar deixou, então, um roteiro ainda a ser construído no futuro e o personagem principal é a reinvenção de um Figueirense vencedor. O sucesso ou o fracasso da trama vai garantir à nação alvinegra tensão e expectativa por muito tempo.

Os últimos 15 anos...

1994 — Figueirense conquista o título do Catarinense depois de 20 anos

1997 a 1998 — José Carlos Silva assume a presidência do clube e começa uma gestão mais profissional no Figueirense 

1999 — Com o novo modelo de gestão em curso, com ênfase à reorganização e modernidade administrativa, o Alvinegro conquista o título do Catarinense. Paulo Prisco Paraíso estava no comando do clube

2001 — Figueirense conquista o acesso à Série A

2002, 2003 e 2004 — Paulo Prisco Paraíso continua à frente do Figueirense, e o clube conquista o tricampeonato estadual

2004 — Muda-se a gestão. Surge a Figueirense Participações, formada por um grupo de empresários, que assume o comando do futebol 

2006 — O Figueirense conquista o título do Catarinense, seu 14º na história, e ultrapassa o rival Avaí. No Brasileiro, chega a 7º colocação, a melhor de um clube catarinense até então

2007 — Figueirense vai à final da Copa do Brasil, mas perde para o Fluminense, no Estádio Orlando Scarpelli

2008 — O Figueirense conquista o título da Copa São Paulo de futebol júnior e o Catarinense. Só que o time cai para a Segunda Divisão do Brasileiro depois de sete anos e vê o rival Avaí ascender à elite

2009 — Os laterais-esquerdos André Santos e Filipe, formados na base do Alvinegro, chegam à Seleção Brasileira

2009 — Clube luta para voltar à elite do Brasileiro e anuncia a intenção de fazer um novo modelo de gestão, com a entrada de investidores ligados ao futebol

DIÁRIO CATARINENSE
 

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