| 14/07/2009 04h42min
O que está por trás da decadência técnica do Inter? Para os jogadores, as razões estão dentro de campo. A queda de rendimento, dizem, tem raiz no abalo emocional provocado pela perda da Copa do Brasil, nas convocações de Kleber e Nilmar, nas lesões e no cansaço das viagens.
Nos últimos 11 jogos, houve apenas duas vitórias, contra três empates e seis derrotas. O atenuante é que, de 11 partidas, só quatro foram no Beira-Rio. Também é evidente que o time perdeu a unidade do discurso. Ao reclamar que só a defesa é criticada ao sofrer gols, o goleiro Lauro foi cobrado no vestiário pelo argentino Guiñazu. Os constantes episódios em que D'Alessandro se envolve, como o da decisão da Copa do Brasil, também provocam reclamações no grupo.
O que é negado com veemência é um possível boicote ao técnico Tite. Bem como incursões noturnas, que minariam a resistência física.
- De novo esse papo? Isso nunca vai mudar no futebol. Não adianta ficar falando porque não
aceitam - reclama Índio, rechaçando
suspeitas de noitadas.
Boicote a Tite
Os jogadores rechaçam com veemência a relação da queda de rendimento com possível boicote ao técnico Tite. Mesmo tendo perdido a posição no primeiro jogo contra a LDU, pela Recopa Sul-Americana, o zagueiro Álvaro garante que seria o primeiro a se posicionar contra um levante.
– Eu até ficaria feliz se o grupo se mostrasse solidário comigo. Mas não permitiria desrespeito em relação ao técnico. Quando ele me avisou que eu sairia do time, disse que aceitava, mas pressionaria nos treinamentos para voltar – afirma.
Outro reserva, o centroavante Alecsandro, elogia Tite. Considera-o um dos melhores treinadores com quem trabalhou em 11 anos de carreira.
– Não existe boicote. Se quiséssemos boicotar, nem teríamos nos esforçado para chegar à final da Copa do Brasil. Espero que ele fique aqui pelo menos até o fim do ano.
Vestiário rachado
Segundo Alecsandro, é normal que, nas derrotas, as
entrevistas não tenham a mesma unidade das vitórias. Isso, segundo ele, explica o fato de Guiñazu não ter gostado de ouvir o goleiro Lauro afirmar que a defesa não pode ser responsabilizada sozinha pelos gols sofridos.
– O grupo não está rachado – garante o centroavante.
Álvaro rejeita a existência de sentimento de vaidade entre os jogadores. Para ele, os jogadores considerados mais técnicos, como D’Alessandro, Taison e Nilmar, aceitam com naturalidade quando lhes são exigidos maior empenho na marcação:
– Quando a coisa aperta, todo mundo sabe que é preciso botar a bunda no chão e ralar que nem pedreiro.
Fórmula gasta
Taison admite que os times descobriram a fórmula do Inter jogar e passaram a marcar com maior competência.
Álvaro recorre à série de lesões sofridas por alguns titulares e às convocações de Kleber e Nilmar para a Seleção como razões para os maus
resultados. Para o centroavante Alecsandro, nenhum time consegue atuar sempre em alto
nível.
Pacto por sete pontos
A derrota de domingo em Curitiba gerou um processo de remobilização no Inter. Um pacto: nos próximos três jogos em Porto Alegre, contra Fluminense, Grêmio e São Paulo, serão necessários somar de sete a nove pontos. Só assim o Inter poderá voltar à liderança do Brasileirão. Ainda no vestiário, na Arena, Tite avisou aos jogadores:
– Vamos retomar as vitórias em Porto Alegre. É hora de recomeçar.
Muitos acreditam que o grupo tenha saído fortalecido da conversa após a derrota por 3 a 2 para o Atlético-PR.
– Estamos vivendo uma fase negativa, mas, ainda assim, estamos em segundo lugar no Brasileirão – argumentou o capitão Guiñazu. – Tite sabe que daremos a vida por ele aqui – completou.
Refém de Gre-Nal
Fernando Carvalho deixou o vestiário por volta das 19h30min. Antes da reunião diária
com Tite havia passado por uma sessão de fisioterapia no joelho direito, operado 20 dias atrás. Garante que o
técnico será mantido – mesmo que perca o Gre-Nal.
– O Tite e o Inter não são reféns de resultados. De 2003 para cá, Inter e São Paulo foram os clubes que menos trocaram técnico (seis vezes) e os que mais venceram – disse o vice de futebol.
Carvalho fala em “decréscimo coletivo de rendimento”. Entende que alguns jogadores receberam mais cartões e caíram de produção devido à pressão de decisões em série.
– Não estou tranquilo, mas também não quero falar em crise. Quando chamaram Inter de Rolo Compressor, no começo do ano, fui o primeiro a rechaçar o título para evitar o salto alto – afirmou Carvalho.
Depressão
Um dos poucos jogadores que ainda rende em meio à crise, Nilmar ficou fora de sete das 11 partidas que marcam a queda de rendimento do Inter. Enquanto estava na Seleção, era abastecido de informações do time pelo preparador físico Fábio Mahseredjian, que falava todos os dias
com a comissão técnica.
O atacante confirma que após o 2 a 2 com
o Corinthians, os jogadores ficaram abatidos:
– Ali o grupo sentiu.
D’Ale, cabeça quente e suspensão por 60 dias
O argentino foi suspenso ontem pelo STJD por 60 dias (tentativa de agressão ao zagueiro William, do Corinthians, na final da Copa do Brasil) e um jogo (suposto chute no volante Cristian, na mesma partida). O resultado do pleito reflete o momento ruim do argentino. Ele teve problemas de tendinite na coxa direita, foi afastado e, quando retornou, mostrou desempenho abaixo do normal. Além disso, trocou o jeito caladão por entrevistas bombásticas, como quando convocou coletiva para afirmar que sofria perseguição no futebol brasileiro por ser argentino. Pessoas próximas de D’Alessandro dizem que ele anda falando demais e jogando de menos. Mas até no âmbito pessoal é complicado conversar certos assuntos com o jogador pelo temperamento explosivo dele.
Além de D’Alessandro, o lateral Kleber também
foi suspenso por ato de hostilidade ao puxar Cristian pela
camisa para retirá-lo de campo. O técnico Tite foi absolvido pela expulsão de campo ocorrida no segundo tempo da decisão.
– Serão três requerimentos: o efeito suspensivo e dois para transformar os jogos em medida social – explica Daniel Cravo, advogado do Inter.
Cabeça prejudicada
Fábio Mahseredjian, preparador físico do Inter, lembra que em 1999, então no Corinthians, ele passou por crise parecida. O time perdeu cinco jogos em sequência, o trabalho continuou, e a equipe encerrou o ano com o título brasileiro e o do Mundial.
– Todos os times oscilam ao longo do ano, a nossa oscilação veio agora. Nosso time foi o que mais jogou na temporada, os demais entrarão em nosso ritmo de dois jogos por semana agora, quando o desgaste deles será igualado ao nosso – afirmou o preparador.
Mahseredjian lembrou que antes de enfrentar o Atlético-PR a delegação teve 62 horas desde a derrota para a
LDU. Nesse período, quase 11 horas foram dentro de um avião, retornando
de Quito para Porto Alegre.
Lauro admite: perder dois títulos em oito dias abalou o grupo.
– O desgaste mental é o que te arrebenta. Para o corpo, temos remédio, alimentação e até suplementos que aceleram a recuperação. Mas é a cabeça que sofre. Essa sequência de jogos decisivos foi pesada, ainda estamos nos recuperando – disse o goleiro.
E, ainda que o Inter volte a engrenar no Brasileirão, não escapará de nova sequência de jogos. No dia 1º de agosto, a delegação viajará para o Japão, onde no dia 5 disputará a Copa Suruga contra o Oita Trinita. Voltará no dia 8 e, em seguida, terá pela frente partidas atrasadas contra Santos, Sport e Atlético-MG.
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