| 21/06/2009 15h33min
Éramos 90 milhões em ação na torcida por um escrete que faria história. Pra frente Brasil, do meu, do seu, do nosso coração... Era o que o país mandava de vibração para o México. E no dia 21 de junho de 1970, a taça do mundo era nossa, pela terceira vez, ao batermos a Itália por 4 a 1 naquela final de Copa do Mundo.
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E exatos 39 anos depois, quando brasileiros e italianos se enfrentam novamente, agora pela Copa das Confederações, o técnico e o capitão do Tri relembram aquele momento tão fascinante.
E em determinado momento desse bate-papo com Zagallo e Carlos Alberto Torres, uma surpresa.
Os Ronaldos foram colocados contra a parede por esses dois ícones e gigantes do futebol. O Velho Lobo, por exemplo, se abriu e admitiu que o
Gaúcho não é jogador de Seleção, enquanto o Capitão afirmou não acreditar que o
Fenômeno tenha condições de disputar mais uma Copa. Confira este e outros assuntos a seguir:
Dia 21 de junho de 1970. O que vem primeiramente à cabeça quando alguém lhe aborda sobre esse jogo?
Zagallo: O que aconteceu depois daquele título, inédito, por ter sido o primeiro tricampeonato mundial. E a própria televisão, que pela primeira vez transmitiu para vários países uma Copa. E isso fez com que a Seleção de 70 mostrasse toda a sua categoria para o mundo. Logo ela, que foi considerada a melhor seleção até então, da forma como conquistou o Tri.
Carlos Alberto Torres: É um jogo que até hoje a gente tem grandes lembranças. E muita coisa nova aconteceu ali. Foi quando começou essa coisa de a torcida acompanhar em grande número a Seleção Brasileira, talvez pela proximidade do México com o Brasil. Muitos brasileiros estiveram lá. Outro ponto foi a preparação física.
A gente vinha de um "fracasso" de 66, quando o Brasil foi surpreendido
pelo tal futebol força. E em 70 nossa grande preocupação era essa. Tanto que foi traçado um programa de treinamento inédito. Nós tínhamos a garantia da comissão técnica, principalmente do Chirol, no comando da preparação física, de que, se seguíssemos aquilo que eles organizaram, nós iríamos, já no início da Copa do Mundo, estar na ponta dos cascos.
Você tinha comandado a Seleção Brasileira antes do Mundial em cinco oportunidades. Além de fazer valer as suas convicções, foi um mérito seu dar voz a esses jogadores mais experientes, que puderam contribuir na formação do time?
Zagallo: Foi de grande importância, pois eu vinha como técnico do Botafogo, tive a felicidade de conquistar alguns títulos e sempre coloquei na cabeça: “poxa, está faltando alguém”. E esse alguém, no caso, seria o Zagallo. Por que estou dizendo isso? Porque na Seleção já tinha o Chirol, que trabalhava comigo no Botafogo, o Lídio Toledo, que
já era o médico que trabalhava comigo... Então,
estava faltando a minha parte. Depois que saiu o Saldanha, acabei sendo chamado e participei desse trio que fez essa composição dentro da Seleção.
C.A. Torres: Para completar o raciocínio do Zagallo... Nós encaramos a chegada do Zagallo como o nosso jogador mais experiente, porque a maioria dos jogadores que estava ali para a Copa de 70 jogaram com ele. Eu ainda era garoto, mas peguei o Zagallo na Copa das Nações. E nós tínhamos por parte dele toda a liberdade. Como um recém ex-jogador, ele dava liberdade para o Pelé, o Gérson, o Piazza...A admiração que tenho por ele é que nunca se colocou como dono total da verdade. Acho que essa foi a grande força daquela nossa Seleção sob o comando do Zagallo. Foi um dos melhores treinadores que eu tive, junto com o Tim.
Essa Copa de 70 foi um divisor de águas para o Brasil ser considerado o maior futebol do mundo, porque até então não havia um tricampeão?
C. A. Torres: Eu penso que sim, porque
foi quando um país ganhou uma Copa do Mundo pela terceira vez. E a Itália também jogava pelo tri. E ali o futebol brasileiro ratificou a sua posição pela qualidade individual dos nossos jogadores. E não posso deixar de destacar aqui a enorme admiração que tenho pela Seleção de 58, que, para mim, foi a melhor, pelos jogadores que tinha, sem querer fazer qualquer tipo de comparação.
Zagallo, lhe incomoda, ou já lhe incomodou alguma vez, falar sobre o fato de ter substituído João Saldanha no comando da Seleção, depois de toda aquela polêmica envolvendo o presidente Médici, que queria a convocação de Dadá Maravilha?
Zagallo: Não me pegou de surpresa, porque eu já tinha meu pensamento voltado que eu deveria ser, no caso, o técnico da Seleção. Pela situação do Chirol, que era o preparador físico do Botafogo, pelo Lídio Toledo e pelos títulos conquistados no Botafogo. Em relação ao problema político, nunca olhei
por este aspecto. Quando o Saldanha saiu, essa
história de que o Médici é que escalava o time não aconteceu de forma alguma. E se eu depois convoquei o Dario, e se fosse, entre aspas, a mando de um presidente, ele teria sido titular absoluto da Seleção. E ele nem sequer foi o reserva, que foi o Roberto Miranda.
Você acha que o Kaká está preparado para ser o grande jogador do Brasil na próxima Copa do Mundo? E acredita na recuperação do Ronaldinho Gaúcho?
Zagallo: Com relação ao Kaká, eu acho que ele deu uma grande demonstração no Milan. O valor que ele tem, pessoal. E conquistou Bola de Ouro, Chuteira de Ouro, foi considerado o Melhor Jogador do Mundo... Com relação ao Ronaldinho, eu acho que ele foi um grande jogador, no meu ponto de vista, no Barcelona. Ele fez tudo que um jogador poderia fazer no período em que foi campeão na Espanha em todos os sentidos. Agora, dentro da Seleção Brasileira, deixou a desejar. Como ele jogou, ele deve muito à Seleção.
Porque há uma diferença do Barcelona como jogador
para a Seleção.
Não quero aqui ter interferências em nada, mas eu tenho que expor o que eu vejo, o que eu sinto. A pessoa tem de ser sincera. O Kaká é muito mais jogador para qualquer situação, tanto para o Milan quanto para a Seleção. O Ronaldinho, não. Ele é tecnicamente muito bom, tem muita habilidade, mas dentro da Seleção o que me trouxe à mente foi o jogo contra a Inglaterra (Copa de 2002), em que ele jogou bem. Agora, num cômputo geral, não.
Ronaldo Está se recuperando e fazendo gols. Será que terá condições de disputar a Copa do Mundo de 2010 da África do Sul?
C. A. Torres: Sinceramente, não acredito. Ele voltou ao futebol brasileiro, está mostrando que já se recuperou totalmente da última contusão que teve, graças a Deus, mas para apresentar um futebol de alto nível, que a Seleção exige, eu não acredito. Ele vai fazer sucesso, como já está fazendo no Corinthians, mas não com aquele
futebol que o levou a vestir a camisa amarela e que fez o
Brasil ganhar uma Copa.
O Brasil vai enfrentar a Itália novamente neste domingo. Qual a maior dificuldade em se enfrentar os italianos. Claro que já se passaram 39 anos da final de 70, mas dá para fazer algum paralelo, traçar quais as maiores dificuldades?
Zagallo: O próprio futebol italiano é diferente, dentro da própria Europa. Não é como o futebol brasileiro e o argentino. É um futebol mais metódico. Se fizer 1 a 0, ficam nesse placar o tempo todo. É mais preso. Isso justifica a sua maneira de ser e também, apesar desse problema de jogar mais fechado, ganhou quatro títulos mundiais. Jogam defensivamente. A Itália é uma seleção que sabe jogar assim. Explora o contra-ataque e faz 1 a 0 e para chegar e descontar é difícil. Mas prefiro a moda da Seleção e da Argentina, pela qualidade, pela triangulação, pelo toque de bola. É o grande futebol do mundo.
Ronaldinho Gaúcho na chegada da Seleção Brasileira em Porto Alegre, no dia 30 de março
Foto:
Fernando Gomes
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