| 04/05/2009 04h04min
Direto de São Paulo
O fiasco promovido pela direção do Corinthians para festejar o título paulista invicto irritou Ronaldo. Ao final do empate em 1 a 1 com o Santos no Pacaembu, ele reclamou do excesso de gente dentro do campo, do gênio do marketing capaz de decidir misturar papel e fogos no pódio (o que resultou na camiseta de William incendiada) e de temas correlatos.
Deu o seu recado com personalidade, sem imprimir um tom agressivo em momento algum e, por certo, falando em nome do grupo, que detestou as pirotecnias da comemoração. Jogador gosta do simples nestas horas: volta olímpica, atirar o treinador para cima como se fosse cama elástica, ir até a arquibancada oferecer a camiseta para a torcida. Em resumo: ações
nas quais seja ele, jogador, o centro dos acontecimentos. Foi tudo o que não
aconteceu no Pacaembu.
Mas houve quem condenasse a iniciativa de Ronaldo. Que moral teria um jogador que já se apresentou gordo em uma Copa do Mundo e recentemente se viu todo enrolado em noticiário envolvendo travestis? Como poderia ele exigir organização e ensinar comportamento? Ronaldo tem moral para tudo isso?
Tem sim.
É preciso distinguir o joio do trigo. Quando Ronaldo apronta e decepciona o país, é criticado. Aliás, duramente criticado. Sem piedade. É o ônus de ser um homem público e, no seu caso, ídolo de um esporte que se confunde com a identidade nacional. Sendo assim, não há nada demais em dar-lhe razão quando diz a verdade e expõe mazelas históricas que ninguém ousa enfrentar, valendo-se dos seus 15 anos de experiência no organizadíssimo futebol europeu.
Assisti à final do Campeonato Paulista das cabines. Lá de cima, dava para ver uma multidão dentro do campo durante o jogo. Um mar de gente. Duvido que todos
estivessem lá cumprindo funções impossíveis de serem
executadas do lado de fora. Nessas horas, entra dirigente, amigo do dirigente, parente do patrocinador, filho do dono da produtora que organiza tudo, o genro do presidente da federação, conselheiro e assim por diante.
Mais: não precisa tanto repórter em campo. Qual o efeito prático daquela correria, se ali é a hora do jogador extravasar e a TV está registrando tudo? Mais produtivo seria reunir todos em uma zona mista e, ali, a imprensa ser atendida.
Ronaldo tem razão.
É por isso que teve gente que se sentiu incomodada.
Leia os textos anteriores da coluna No Ataque.
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