| 17/01/2009 01h57min
— Perdi meu pai muito cedo. O sentimento de perda é quase o mesmo — desabafa o xavante Róger Valente de Souza, 32 anos, antes de perder o controle sobre o choro até então contido.
A torcida que vibra perdendo ou ganhando teve de aprender a chorar de tristeza nesta sexta-feira, quando amanheceu tentando assimilar o acidente que matou seu maior ídolo e outros dois companheiros no final da noite anterior. De Porto Alegre, integrantes da Onda Xavante, grupo de torcedores do Brasil-Pe que se reúne desde 2005 na Capital, acompanharam as notícias da tragédia por rádio e internet durante toda a madrugada.
— Eu estava de plantão no hospital e soube do acidente pelo fórum de discussão na internet. Imediatamente, comecei a trocar torpedos e e-mails com os amigos. Não estava acreditando. Quando deu que o Milar tinha morrido... Nossa... Hoje (ontem) mesmo é que caiu a ficha — conta o médico Fernando José Nogueira Filho, um dos fundadores da Onda, que só não foi a Pelotas ontem por
causa de um novo
plantão.
Trocando mensagens pelo MSN com gente de todo o Estado, a presidente da Onda, Nieli Campos Severo, 40 anos, não dormiu na noite de quinta-feira. Chegou ao seu escritório de advocacia ontem pela manhã e, em vez de trabalhar, improvisou em sua sala o encontro sagrado da torcida na última sexta-feira do mês, sempre em uma churrascaria da zona norte da Capital. Na companhia de oito dos mais de cem amigos do grupo, pensava formas de ajudar o clube.
— É um sentimento que nasce com a gente. É inexplicável para quem vê, simplesmente tem que sentir — tenta definir o que move a torcida gaúcha.
Alguém entende essa paixão indescritível? Os colegas de Róger, sim. Quando o engenheiro elétrico chegou para trabalhar ontem pela manhã, na Capital, depois de uma noite insone, foi recebido com solidariedade.
— Todos perguntaram como eu estava, se tinha condições de ficar. Acabei indo para casa porque era impossível me concentrar — relata.
Por volta das 15h30min, Róger se tocou
para Pelotas pela mesma estrada que tantas vezes o levou a assistir aos jogos do Xavante em casa. Pelo menos outros quatro integrantes do grupo da Capital o seguiram, a fim de participar do enterro do zagueiro Régis e do preparador de goleiros Giovani Guimarães. Em vez de embarcarem alegres num dos ônibus das 30 excursões organizadas no ano passado, cada um foi no seu carro, em silêncio.
Fotógrafo de Zero Hora em Pelotas, Nauro Júnior acompanhou de perto os trabalhos de resgate ao ônibus do Brasil-Pe.Ouça o relato:
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