| 22/11/2008 18h52min
Duas pastas com informações confidenciais são depositadas sobre a mesa do técnico Celso Roth a cada semana. Os relatórios são elaborados por uma equipe de seis anônimos profissionais que trabalham à sombra do treinador como se fossem seus engenheiros e ajudam a sustentar a campanha de um Grêmio candidato ao título do Brasileirão.
Cada um deles tem função específica. O preparador físico Flávio de Oliveira e seu auxiliar, Luciano Ilha, fazem o time atropelar os adversários; o auxiliar técnico Beto Ferreira funciona como um Roth fora de campo; o preparador de goleiros Chico Cersósimo transforma Victor em destaque do Brasileirão; os auxiliares Rafael Vieira e Marcelo Rospide são os espiões que alimentam a estrutura com informações.
A primeira das pastas chega às mãos de Roth nas segundas-feiras. Ela contém a estatística de cada jogador na partida do fim de semana. Um software desenvolvido no clube analisa o desempenho coletivo e individual. A outra pasta, a das
quartas-feiras, é um dossiê sobre
o próximo adversário.
O levantamento sobre o rival é completo, do pé que o centroavante usa na cobrança de pênalti ao batedor de escanteios. Das táticas inimigas até as intrigas internas do rival. Tudo é detalhado por Vieira, 30 anos, quatro de Grêmio, e Rospide, 37, 15 vividos no Olímpico — ambos técnicos de futebol formados.
Nesta semana, Roth recebeu dados e um vídeo de 15 minutos com os principais lances dos últimos jogos do Vitória — o adversário deste domingo. Vieira e Rospide dispõem de arquivo de 4,4 mil horas de gravações (o equivalente a pouco mais de seis meses ininterruptos de filmagens) de jogos do Grêmio e de clubes das Séries A e B — em 2009, o projeto será estendido para as categorias de base do clube. Toda semana eles fazem uma varredura nos adversários.
— Daí a importância dos treinos fechados. Quanto menos informações ao inimigo, melhor — comenta Vieira.
Corre um jogo de informações a cada rodada. Mesmo que o
time tal mude dois ou três jogadores, isso não
quer dizer que vá alterar o sistema. Como há tudo catalogado, é possível saber que determinado técnico possui um método de trabalho e dele não abre mão. Até a variação é padrão.
Em jogos em casa, Beto Ferreira junta-se a Vieira e a Rospide na cabine 12, do Olímpico, e passam orientações a Roth no intervalo — o técnico não gosta de receber dados em meio ao jogo. Quando o Grêmio é visitante, porém, é deflagrada uma operação de guerra. Geralmente Vieira e Rospide permanecem em Porto Alegre dando treino para quem não viajou.
Mesmo de longe, acompanham noticiário de rádio e internet para precaver Roth de possíveis alterações no rival em cima da hora do jogo. Já Beto Ferreira mantém um radinho portátil à tiracolo, sempre sintonizado em rádio do local. Nenhum detalhe escapa ao trio.
Amigo e confidente de Roth, Beto vai mais longe. Foi a partir de uma dica sua no início do Brasileirão que a comissão criou a figura do Monte Everest. A idéia era comparar a
montanha de 8,8 mil metros de altura
entre o Tibete e o Nepal aos desafios do time: o alpinista Grêmio desafia a natureza e seus próprios limites para alcançar o topo.
O Everest pegou no vestiário do Olímpico. É presença obrigatória em todas as preleções que Roth faz antes das partidas: o técnico mostra a montanha aos jogadores e aponta o local onde o time se encontra.
Por exemplo: quando restavam nove rodadas do final do campeonato, o Grêmio estava acampado a 6,5 mil metros — local onde a temperatura atinge -50ºC e na maioria das vezes é necessária a utilização de tubos de oxigênio para seguir viagem. Agora, a três partidas do final do Brasileirão, restam 2 mil metros de subida até o cume, segundo a simbologia de Roth. A parada é fundamental para recuperar energias a fim de vencer o gigante. A partir de agora, a escalada ganha o nome de "ataque".
— Já cumprimos boa parte da escalada ao Everest. Resta chegarmos lá em cima antes do São Paulo — diz o atacante Reinaldo.
Muito do espírito cooperativo deste Grêmio se
exemplifica em Souza. Único medalhão contratado na temporada, o bicampeão brasileiro pelo São Paulo demorou a conseguir vaga na equipe. Perambulou pelo banco de reservas, meio-campo e pela ala-esquerda até encontrar um cantinho na ala-direita do time titular. Jamais complicou nem tentou dar um carteiraço. A razão disso é a definição de Oliveira:
— É porque somos um grupo sem vaidades, sem frescuras e de alta concentração.
Rafael Vieira, Flávio de Oliveira, Francisco Cersósimo, Luciano Ilha e Marcelo Rospido (Beto Ferreira não quis estar na foto) são os homens de Roth
Foto:
Mauro Vieira
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