| 15/11/2008 05h53min
No amor, na guerra e no Brasileirão, vale tudo. Mais ainda em reta final de campeonato, com cinco times disputando o título e oito fugindo do rebaixamento. Entra aí o bicho-extra, incentivo financeiro para que um clube ajude outro com vitória ou empate. A prática divide opiniões.
— Isso sempre existiu. Não vejo grande problema. É um incentivo — argumentou no início da semana o técnico do Palmeiras, Wanderley Luxemburgo.
O treinador não diz se o Palmeiras, candidato ao título e à Libertadores, irá oferecer dinheiro para quem jogar contra São Paulo, Grêmio e Cruzeiro, por exemplo. Segue a regra geral: em público, jogadores, técnicos e dirigentes são categóricos em afirmar que bicho-extra não é com eles. Como no Flamengo, outro time da ponta de cima da tabela. O presidente Márcio Braga jura que não daria nem receberia dinheiro de terceiros.
— É um doping financeiro. Não me sinto confortável. Pega mal, não combina com
profissionalização — critica.
O mesmo diz o
presidente do Vasco, Roberto Dinamite. Para ele, o próprio clube deve motivar os jogadores sem interferências externas. Técnico do Grêmio, Celso Roth argumentou na entrevista de terça-feira, no Olímpico, que desconhece a prática. Talvez porque não tenha ouvido a fala do meia Souza, concedida minutos antes na mesma sala. Para o jogador com maior salário do Estádio Olímpico, tudo o que for válido em busca de um objetivo deve ser feito – o que, fique claro, não inclui financiar derrotas ou corpo-mole. Souza cunhou uma metáfora:
— Se você tem um carro e um cara lhe dá gasolina, você vai colocá-la no carro.
Souza encontra concordância no presidente do Ipatinga, Itair Machado. O dirigente sugere até uma hipotética legalização do bicho-extra, apesar de desconhecer como fazê-lo. Se bem que o incentivo não é ilegal, como sustenta o volante Lauro, do Juventude. O jogador cita dois lados da questão: apesar de ser algo incrustado na cultura do futebol brasileiro, todos criam
barreiras para admitir a
prática. Menos quando existe o anonimato ou a proteção das paredes do vestiário. Aí, não existem meias-palavras ou testemunhos de que o bicho-extra só acontece com os outros.
— Mexeu com dinheiro? Todo mundo quer. Não tem jeito, é normal — comenta um jogador com passagem por times das séries A, B e C do Brasileirão.
Como se dá a operação
— Um jogador ou dirigente do time interessado em pagar o bicho-extra procura alguém da equipe que irá receber. Pode ser diretor ou um atleta mais experiente e com liderança de vestiário, como o capitão do time.
— É feita, então, uma oferta de dinheiro por vitória ou empate.
— O capitão ou outro jogador com influência avisa os colegas no vestiário. A questão não vai a debate para ver se será aceita: a concordância é automática.
— Por vezes, o bicho-extra é de conhecimento dos dirigentes do time que irá
recebê-lo. Até porque isso ajudaria a evitar um eventual calote.
— Se tudo der certo, o
pagamento pode ser feito ainda no estádio, após a partida. Mas também acontece alguns dias depois.
— Há várias formas para acertar: dinheiro vivo, cheque e até transferência bancária.
— O capitão/líder do vestiário pega o dinheiro e o divide com os colegas. Há uma hierarquia nos valores, conforme o esforço em campo: quem jogou ganha algo como o dobro de quem ficou no banco ou entrou nos minutos finais. Aqueles que não foram relacionados também recebem, ainda que menos. É para todo o grupo.
ZERO HORA
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