| 28/12/2007 04h55min
Magrela, Fiapo e Seco por magro; Velho porque um dia ingeriu água contaminada e os cabelos lhe caíram e a pele do rosto se lhe secou e Abigail ficou com a aparência de ter muito mais idade do que na verdade tinha.
Abigail também era chamado de Bigual pelo seu grande amigo Tesourinha, maior astro de um time de astros, o maior time da história do Inter, o Rolo Compressor, campeoníssimo dos anos 40.
Ivo, Alfeu e Nena; Assis, Ávila e Abigail. O começo da escalação do Rolo era como um poema, até hoje recitado pelos mais velhos. Abigail era o alf esquerdo, mais ou menos correspondente ao que hoje é o lateral-esquerdo.
Naquela época, lateral não cruzava a linha divisória do campo, lateral servia era para marcar ponta. Por isso mesmo, lateral não fazia muitos gols. Abigail somou sete, em oito anos de Inter e um total de 230 jogos. Um deles, porém, teve importância especial. Foi um gol em Gre-Nal. Abigail descreveu-o assim no livro "Meu coração é vermelho",
de Ruy Carlos Ostermann:
—
Teve um jogo na Baixada em que eu senti muito medo. Sabe que eu me mandei? O jogo estava em 1 a 1, se desse empate o Grêmio era campeão e parece que faltava um minuto ou dois para terminar a partida. Eu e o Tesourinha treinávamos algumas jogadas e uma delas era o cruzamento bem aberto e no segundo pau, quase saindo da área. O Tesoura driblou o lateral, foi na linha de fundo e cruzou. O Vilalba entrou no primeiro pau e levou a marcação. O Nélson Adams pensou que a bola ia fora e baixou a cabeça, e eu entrei na corrida atrás dele. Peguei um sem-pulo e o Sérgio até hoje diz que deveria ter dado um soco em mim, a bola passou entre a trave e a cara dele. Dois a um, e a torcida desceu correndo a arquibancada atrás do gol. Saí correndo para o outro lado, apavorado, achando que eles queriam me pegar. Só parei de correr no meio do campo e aí vi que era a torcida do Inter, comemorando.
Abigail iniciou a carreira na época do amadorismo. Jogava no Força e Luz e trabalhava como lustrador na fábrica
Miguel
Stanckiewics. Ao ser contratado pelo Inter, em 1942, largou o emprego na fábrica. Era chamado de "o campeão da regularidade" porque jogava sempre da mesma forma, com grande disposição, correndo muito, sem jamais cansar. Foi campeão gaúcho seis vezes, de 1942 a 1945, e depois em 1947 e 1948. Perto dos 30 anos, considerado velho demais para jogar num clube de ponta, trocou o Inter pelo extinto Nacional de Porto Alegre.
Abigail morreu nesta quinta-feira, na Capital, aos 86 anos, de falência múltipla dos órgãos. Há seis anos, o ex-jogador havia sofrido uma isquemia cerebral e jamais se recuperou completamente. Morava em um casebre na Vila Farrapos. O corpo de Abigail foi velado ontem à noite e será enterrado hoje, às 10h, no Cemitério João XXIII. Em sinal de luto, o Inter colocou a bandeira a meio pau no Beira-Rio. A vice-presidência de comunicação social do clube enviou à família de Abigail uma coroa de flores e uma bandeira do Inter para ser colocada sobre o caixão. Do Rolo Compressor
ainda estão
vivos Nena (que mora em São Paulo) e Ávila (que mora no Rio).
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