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 | 08/02/2008 04h05min

Guiñazu defende sacrifício nos treinos

Mania do argentino de usar moletom no verão vira folclore no Beira-Rio

Diogo Olivier  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

Lembra aquela propaganda em que o sujeito, no calor do deserto, provoca a sede comendo batata frita até não agüentar mais só para aumentar o prazer de tomar o refrigerante gelado até a última gota? É mais ou menos essa a lógica que faz Guiñazu treinar de moletom com o sol fritando o termômetro a 36,5ºC, como ontem à tarde.

A mania do volante argentino virou folclore no Beira-Rio, mas também serve de medida para o espírito guerreiro que volta ao time contra o Brasil, domingo. E olha que já foi pior. Assunção, capital do Paraguai, é uma cidade quente e úmida no verão. Faz 40º fácil. No Libertad, Guiñazu recorria a casacos de nylon para satisfazer a mania que nem ele sabe ao certo quando começou. O clube não oferecia camisa de treino de manga comprida.

— É psicológico. Dependo disso, Fenômeno (o argentino chama a todos pelo mesmo apelido: Fenômeno). Na hora do jogo, me sinto mais leve — explica Guiñazu, que ontem devia estar contente: além do moletom, os titulares treinaram de jaleco branco.

Intrigado, o fisioterapeuta Mauren Mansur arrumou um jeito de abordar o assunto com o jogador. Descobriu que a mania tem a ver com sofrimento:

— Ele diz: "Treino é para sofrer".

O fisiologista Luiz Crescente desistiu de se preocupar. Quando Guiñazu retornou de Dubai lesionado, percebeu que se tratava de um caso à parte na bibliografia médica. Mesmo de joelho torcido e os ligamentos com algum comprometimento, caminhava normalmente. Queria voltar a treinar. Quando lhe imobilizaram a perna direita, fez de tudo para dissuadir os médicos.

— Ele dizia assim: "Doutor, não precisa, não precisa, saio correndo agora, eu mostro!" — diverte-se Crescente.

A mania do argentino é o avesso do que recomenda a medicina e o bom senso. Em um calor como o de ontem, é fundamental reduzir a temperatura do corpo, sobretudo quando o suor não dá conta do recado.

— Mas ele se encasaca todo e resiste bem. Olha ali, é só olhar — afirma Crescente, apontado para Guiñazu no treino, correndo feito doido de um lado a outro.

O roupeiro Gentil Passos, 35 anos de Inter, nunca viu nada igual. Lembra do zagueiro Marinho Peres e do lendário atacante Escurinho, que nos anos 70 adotavam a tática do suadouro para vencer a luta contra o excesso de peso.

— Já deixo até o moletom dele separado. Senão ele me cobra — entrega Gentil sobre Guiñazu, o homem que sofre no treino para ser feliz no jogo.

 
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