Vendo as mulatas sambando, os intérpretes soltando a voz e a porta-bandeira rodopiando nos ensaios, é difícil imaginar que aquelas pessoas têm outra vida fora do Carnaval. Algumas profissões que seguem são tão diferentes da paixão pelo samba que chamam a atenção. Muitas dessas pessoas se vira nos trinta para conciliar as atividades.

A primeira porta-bandeira da Protegidos da Princesa Isabel, Hélida Freitas dos Santos, 27 anos, é formada no Magistério e leciona na escola Casa do Pequenino, no barirro Azenha. Além disso, ela está no 7° semestre de Direito. O objetivo é se tornar delegada. Casada e com uma filha de três anos, Hélida conta que, durante o Carnaval, é bastante complicado dar conta de todos os compromissos.

– Minha família me apoia muito em tudo que eu faço. Não é mole trabalhar o dia todo, estudar, ensaiar e ainda ser dona de casa. Mas amo muito tudo que faço e o Carnaval é o meu prazer – explica Hélida.

Tanto o apoio da família quanto o da escola é fundamental para conseguir conciliar o trabalho e a paixão. O segundo mestre-sala da Bambas da Orgia, Vinícius Silva de Souza, 30 anos, é outro sambista batalhador. Sua primeira formação foi como técnico de enfermagem. Hoje, sua rotina começa de manhã no Hospital Militar. À tarde, é hora de seguir para o Hospital de Clínicas. O dia termina na faculdade de Publicidade, no IPA Metodista.

– Além do apoio da minha esposa e meu filho de 10 anos, fiz um acordo com a escola. Nos primeiros ensaios eu estava no período de aula e não comparecia na quadra, mas passei a frequentar constantemente quando entrei em férias – conta Vinícius.
 
A primeira passista da Estado Maior da Restinga, Lisiane Matos, 29 anos, quebra o preconceito de quem rebola não tem conteúdo. Batalhadora, ela iniciou a faculdade Jornalismo, que precisou trancar por dificuldades financeiras. Sem desistir, ela iniciou um curso de graduação em marketing no Instituto Educacional do Rio Grande do Sul (IERGS). Consciente, Lisiane sabe da dificildade de estudar, trabalhar, cuidar do corpo e ensaiar.

– Procuro estudar na hora do almoço. Quando tenho não tenho show da Restinga, eu estudo aos domingos também.– conta Lisiane.