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O desafio da alfabetização plena

Antônio Matias*

A publicação do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope e pela Ação Educativa, evidencia um triste diagnóstico cujo conhecimento é de fundamental importância para mobilizar a sociedade a desenvolver estratégias que superem esse grave problema: o aumento de escolarização, embora tenha sido essencial nas últimas décadas, não foi suficiente para assegurar a alfabetização plena.

A análise da série histórica do estudo mostra que apenas um em quatro brasileiros atinge nível pleno nas habilidades de leitura, escrita e matemática. Ou seja, é capaz de ler e interpretar textos mais longos, analisa e relaciona suas partes, realiza inferências e sínteses, além de resolver problemas que exigem maior planejamento e controle.

Além disso,apesar de ter ocorrido uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar, só 62% dos que têm curso superior e 35% dos que têm Ensino Médio completo estão no patamar dos plenamente alfabetizados. Em ambos os casos, essa proporção é inferior à observada no início da década. O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o Ensino Fundamental II ainda está classificado no nível rudimentar, sem avanços em todo o período.

Olhar a estagnação dos dados de plena alfabetização entre 2001 e 2011 nos permite vislumbrar a situação de uma geração: são poucas as chances de um jovem que já concluiu o Ensino Médio ter alterado na última década sua proficiência linguística, adquirindo desta forma condições para se desenvolver no mundo profissional, social e desfrutar todas as possibilidades de uma sociedade que exige cada vez mais capacidade de expressão e de absorção de conhecimento.

A constatação de que mais anos de escolaridade não têm representado maior aprendizado nas competências de alfabetização plena aponta a necessidade de repensar formas de ensino para aqueles que frequentam hoje as escolas públicas.

Nesse ponto, institutos e fundações empresariais podem ser parceiros importantes do poder público para contribuir com o desenvolvimento de metodologias inovadoras, aproveitando sua possibilidade de trabalhar com pequenos grupos, sem o compromisso inicial de ganho de escala.

Importante ainda estruturar estratégias de mobilização social em favor do tema e o fortalecimento de ações de advocacy junto ao poder público, com o intuito de contribuir para dar suporte a boas iniciativas políticas, que passam a ser respaldadas pela demanda qualificada da sociedade.

O conhecimento dos dados do Inaf aponta para uma reorientação importante na forma de atuação do investimento social privado na educação. É necessário investir com foco em resultados, com a expectativa de gerar retorno. O retorno social esperado do investimento na área educacional é a boa formação humana das novas gerações. E nosso país somente será plenamente desenvolvido se enfrentar seu mais importante desafio, colocando a educação como a grande prioridade nacional.

  • * Vice-presidente da Fundação Itaú Social e membro do Conselho de Governança do Todos pela Educação

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Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho

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