Falando em filmes estranhos, o Douglas mandou uma dica muito legal: Mais estranho que a ficção (Stranger than fiction). Filminho muito legal mesmo. Um cara vive uma vidinha pacata, com todas as suas rotinas definidas e cronometradas, até que de repente começa a ouvir uma voz feminina narrando todas as suas ações. A situação piora quando ele descobre que a voz é de uma autora que está tentando escrever uma história em que ele é o personagem principal. E pior de tudo: esta autora é famosa por matar todos os personagens principais. Gostou? Então vai gostar ainda mais, pois além do roteiro muito legal do iniciante Zach Helm (depois deste filme, ele roteirizou e dirigiu A Loja Mágica de Brinquedos), o elenco é de primeira:
Will Ferrell é o protagonista e conseguiu dar um ar sério e ao mesmo tempo delicado ao seu Harold Crick. Conhecido pelo seu humor escancarado e caricato, Ferrell me surpreendeu com sua atuação nesta comédia dramática, que trata da solidão de uma pessoa afundada na letargia. E quando Crick conhece a bela Ana Pascal, ele tem ali a oportunidade de escapar da sua vida pacata infernal. Parece que Ferrell entendeu e, literalmente, encarnou o personagem. Grande atuação!
Emma Thompson vive a escritora Kay Eiffel, que sofre um bloqueio de criação e não consegue terminar a história de seu novo livro. Sobre Emma não é preciso falar muito. Ela é sensacional em tudo que faz, de comédias românticas, a filmes de época, passando por suspense e infantis. Em Mais estranho... ela transforma Kay Eiffel em uma pessoa sombria, estranha e engraçada, mas sem nenhum tipo de afetação. Na medida exata.
E tem também o mestre Dustin Hoffman. Ele interpreta um tipo excêntrico – o que tem sido comum em seus trabalhos ultimamente, mas nem por isso menos brilhante. Neste filme ele é o professor de literatura Jules Hilbert, que ajuda o protagonista no seu problema. Dustin Hoffman é sempre Dustin Hoffman e qualquer participação sua em qualquer filme é sempre uma grande participação. Neste filme não é diferente. Os diálogos inteligentes combinam perfeitamente com ar sarcástico que ele dá ao personagem. Brilhante!
O filme conta ainda com a fofa Maggie Gyllenhaal, sempre querida (assim como nosso protagonista, é impossível não se apaixonar por ela) e a participação fraca de Queen Latifah (confesso que ela nunca me chamou atenção).
Tudo isso sob a direção maravilhosa Marc Forster, que já havia nos presenteado com o denso A última ceia, o emocionante Em busca da terra do nunca, e recentemente mandou muito bem em O caçador de pipas e 007- Quantum of solace. Dá para perceber que o cara é versátil e consegue fazer bem em qualquer estilo. Em Mais estranho que ficção ele consegui um estilo nonsense com total sentido (me perdoem esta expressão horrorosa!), se aprofundando nas loucuras de seus personagens até o ponto certo para não perder o fio da meada. Forster soube tirar ao máximo de seus atores e explorar com inteligência as fragilidades e angústias humanas, sem clichês ou pieguices. Para aqueles que, assim como eu, são fãs do estilo Charlie Kaufman, vale a pena assistir a este filme. Não é tão intenso e maluco quanto Adaptação, mas é muito bom.
Obrigada pela dica Douglas.
Holly Golightly: You know those days when you get the mean reds? Paul Varjak: The mean reds, you mean like the blues? Holly Golightly: No. The blues are because you're getting fat and maybe it's been raining too long, you're just sad that's all. The mean reds are horrible. Suddenly you're afraid and you don't know what you're afraid of. Do you ever get that feeling? Cinema, cinema, cinema!
Por Ju Lessa
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