Toda a história de Susan Boyle parece fantástica, mas verossímilFoto: AP |
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Claro, tem gente dizendo que foi tudo combinado e que a “esquisitona” Susan Boyle não era uma desconhecida do trio julgador do Britain’s Got Talent, o popular programa de revelação de novos cantores e novas divas, levado ao ar no Clyde Auditorium, em Glasgow. Quando abriu a boca para cantar um hit de Os Miseráveis, I Dreamed a Dream, deixou o mundo literalmente de boca aberta.
Neste caso, caberia a Susan mais um reconhecimento: o de uma brilhante atriz, proprietária do mais amplo domínio da arte de bem representar...
Olhar tímido, ansiedade contida, mãos consolando uma a outra, o cabelo desgrenhado, a silhueta de obesa desleixada, o vestido espremendo suas adiposidades, a conversa desajeitada com os apresentadores e julgadores, sua reação ao descrédito geral. Tudo era genuíno, não havia acting.
Susan veio do distrito de West Lothian, na Escócia, onde sua vida se resumia a cuidar da mãe enferma e frequentar uma ou outra festa de aniversário da família, como titia que cantava, de vez em quando, para o restrito aplauso do círculo íntimo.
Seu pai, Patrick, vendia veículos para a fábrica da British Leyland e sua mãe, Bridget, era datilógrafa, na cidade de Blackburn. A menina tímida e esquisita gostava muito de ir ao teatro da escola e a musicais no cinema, teve aulas de canto na juventude e, em 1999, já aos 37 anos, gravou o seu único CD, um disco com renda reservada à caridade, no qual interpreta a canção Cry Me a River. A gravação reverteria para uma escola distrital da cidade de Whitburn, próxima da Blackburn, onde morou com a mãe até o falecimento de Bridget, aos 91 anos.
Ela resistia ao público
Durante anos, e contra a vontade da mãe, Susan mantinha em segredo o seu talento, dizendo que “aparecer em público para cantar era coisa para artistas bem apessoados e para mulheres lindas”. E ela, coitada, nunca arranjara um único namorado...
Um velho professor de canto, Fred O’Neil, insistia para que Susan participasse do Britain’s Got Talent, mas ela sempre dizia que não estava preparada, sentindo-se “inadequada”.
Sua história vai virar filme (poupem-nos, no entanto, da já cogitada Demi Moore no papel-título), tomara que acertem na escolha da atriz — quem sabe uma outra gordinha, desconhecida como ela.
O que Susan perdeu, definitivamente, foi o controle sobre sua vida. Foi só a moça pintar e ajeitar os cabelos (com uma discreta cor castanha) e tomar um “banho de loja”, para o velho preconceito aflorar.
Quer dizer que um senador velho pode pintar o cabelo de acaju e a Susan não pode se arrumar um pouquinho?
Ouvindo a revelação cantar outras canções imorredouras — além de I Dreamed a Dream, Jesus Christ Superstar, My Heart Will Go On (o tema de Titanic), Killing Me Softly with His Song, e tantas outras, a maioria com o seu vozeirão afinado, e sempre a capela — toda a sua história parece fantástica, mas verossímil.
Susan Boyle, “a esquisita”, pode estar resgatando o humanismo no sentimento de que nem só o belo é sublime e que nem só de aparências pode viver a humanidade.
>>> O vídeo com a performance de Susan está no YouTube
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