No Avaí, Silas utiliza a diagonal do ala oposto como uma das principais armas ofensivas |
Hoje assisti à vitória do Avaí sobre o Flamengo por 3 a 0. Infelizmente, foi o primeiro jogo que pude ver do fantástico time de Silas, e ainda assim com algumas outras atribuições aqui na redação do clicEsportes. Por isso, a análise tática do Avaí que estou devendo há muitos dias aos leitores do blog Preleção está totalmente aberta a apontamentos, complementos e correções de todos que acompanham o Avaí há mais tempo. E restrita, claro, à minha observação de hoje.
Hoje (reitero), Silas amparou seu 3-5-2 na tática individual de seus alas. E pude perceber por diversas vezes um movimento muito utilizado por Celso Roth este ano, no Grêmio - movimento este que levou o então ala gremista Ruy a marcar muitos gols: a diagonal do ala oposto.
Essa diagonal do ala oposto é uma das prerrogativas mais fundamentais do 3-5-2 à brasileira. Afinal, se o sistema privilegia a articulação pelos lados do campo - na prática, resumindo o meio-campo à presença de três jogadores - estes alas precisam dar grande contribuição ofensiva. A lateralização dupla compensa a descentralização.
Funciona da seguinte forma: os alas precisam apoiar simultaneamente. Têm que ser assim. Um sobe com a bola, o outro sem ela. Quando um prepara o cruzamento pelo lado, o outro fecha na segunda trave, como um terceiro atacante, às costas da defesa - esta é a diagonal do ala oposto. No Grêmio, geralmente era Fábio Santos quem cruzava, e Ruy quem chegava no segundo pau - confiram aqui a análise deste movimento, que postei em 22 de fevereiro.
No Avaí, pelo que pude perceber, Silas prefere que Eltinho avance com a bola, e Luís Ricardo seja o responsável pela diagonal do ala oposto. Até porque Luís Ricardo é atacante. Silas "achou" ele como ala, descobriu no jogador características que poderiam se encaixar nas exigências da função. Esta é a famosa "mão do treinador", por isso que tanto mérito se atribui a Silas no sucesso do Avaí neste Brasileirão.
Mas o Avaí não tem só a diagonal do ala oposto. No meio-campo, Léo Gago faz muito bem o vai-vem. Ele é peça rara no futebol brasileiro: volante canhoto. O volante canhoto é quase um artigo de luxo. No 3-5-2, com apenas três jogadores no setor, ele preenche melhor os espaços, auxilia na cobertura de ala ou zagueiro do lado, e sai para o jogo. Equilibra a equipe. O time não fica "capenga" para um lado.
Marquinhos é o organizador. Centraliza a distribuição das jogadas. Com quatro alternativas principais: ou os dois alas, ou os dois atacantes. Na frente, por sinal, o Avaí se diferencia dos 3-5-2's brasileiros mais recentes - como o São Paulo de Muricy e o Grêmio de Roth. A equipe tem dois atacantes de velocidade. Hoje, foram Muriqui na esquerda e William na direita. Grêmio e São Paulo apostavam na combinação entre centroavante de referência, e jogador de movimentação.
Sem o "grandalhão", o Avaí joga mais com a bola no chão. No outro desenho, o 3-5-2 corre o risco de resumir sua articulação à ligação direta pelo alto. Como fazia o Grêmio com Marcel, por exemplo. Zagueiros ligam direto, grandalhão disputa pelo alto, atacante de movimentação pega a segunda bola. O time se torna previsível, burocrático, e sem nenhuma criatividade.
Com dois atacantes de velocidade, Silas força Marquinhos a distribuir o jogo pelo chão. Muriqui e William gostam de se infiltrar. Abrir pelos lados. Levando a marcação e tornando possível ao ala oposto entrar livre na área, ou ao volante Léo Gago aparecer desmarcado de surpresa, ou até mesmo a Marquinhos ingressar para a conclusão.
Isso é sincronia de movimentos. O sistema, a estratégia e a escalação parecem ter encaixado. Não sou fã do 3-5-2 brasileiro, mas sou obrigado a reconhecer que no Avaí a equipe vai muito bem se utilizando desta tática.
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