A perseguição ao adversário pode desorganizar a própria equipe |
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Após a vitória na partida de estreia como técnico do Inter, o técnico Mário Sérgio explicou uma correção que precisou fazer no intervalo do confronto com o Náutico. Com a equipe posicionada no 3-6-1, Mário Sérgio disse que no primeiro tempo os zagueiros colorados erravam ao dar espaço aos atacantes. Segundo ele, o correto é perseguir o adversário. Andar onde ele andar. Feita a correção, "encaixou" a marcação sobre os atacantes do Náutico.
Com essa explicação, Mário Sérgio dá oportunidade para falarmos no blog Preleção novamente, e de maneira mais específica, sobre o sistema de marcação nas táticas que envolvem três zagueiros - no Brasil, o 3-5-2 e o 3-6-1 (essa lógica não se aplica ao 3-4-3). Com três zagueiros, o sistema de marcação é por função.
Como funciona? Marcação por função é o famoso "ala-com-ala". A equipe tem como determinação, a cada jogador, perseguir o adversário da posição com quem ele se espelha. Na prática, formam-se nove marcações individuais, livrando apenas o goleiro e o famoso "homem da sobra" desta atribuição. No espelhamento, os atacantes pegam os zagueiros adversários, os alas pegam os laterais (ou alas), volantes marcam meias, meias atacam volantes, e zagueiros perseguem atacantes.
O problema é: para onde vai o adversário, o marcador vai junto. Marcação individual por função. E isso pode desorganizar a própria equipe no momento da transição entre marcação e posse de bola - o contra-ataque, a recuperação. Essa desorganização é provocada pela movimentação dos atletas adversários. Como há perseguição individual, eles levam os seus marcadores para onde quiserem.
O exemplo clássico deste problema, que eu sempre utilizo, é o Gre-Nal que custou a demissão de Celso Roth neste ano. O Grêmio deve ter tido algo em torno de 20, no máximo 30% de posse de bola. Criou chances de gol apenas em bola parada. E passou boa parte da partida encurralado na própria área, defendendo e devolvendo a bola ao Inter. Isso porque Tite fez seus apoiadores (Magrão e Guiñazu, à época) abrirem pelos lados, também lateralizou os atacantes, e segurou seus alas na intermediária ofensiva.
Resultado: Tcheco foi levado para a lateral-esquerda por Magrão, Guiñazu empurrava Adilson para a lateral-direita, Nilmar e Taison tiravam respectivamente Thiego e Léo da área, Andrezinho empurrava Réver e Rafael Marques (na sobra) para dentro, e Kleber-Bolívar mantinham Souza e Fábio Santos alheios ao jogo. Quando o Grêmio recuperava a bola, estava com seis jogadores abertos pelos lados, e no próprio campo. Não tinha como articular um contra-ataque. Uma verdadeira maçaroca, disforme. Apelava para a ligação direta com Jonas, cercado por Sandro e mais dois zagueiros. E assim o Inter vinha para cima.
Uma das soluções, encontrada pelo Goiás, e seguida por Mário Sérgio no Inter, é armar um 3-6-1 com meio-campo em quadrado, tentando agrupar melhor o setor e bloquear a articulação adversária. O problema será quando os dois meias da frente (no Goiás, Fernandão e Léo Lima, e no Inter, D'Alessandro e Andrezinho) não acompanharem os volantes adversários. Isso pode indefinir a marcação, afinal, os próprios volantes não podem abandonar a perseguição aos meias.
Em sistemas clássicos, como o 4-4-2 e o 4-3-3, a marcação se faz por ZONA. O jogador exerce pressão sobre o adversário apenas quando ele receber a bola dentro da área delimitada para sua ação defensiva. Segundo José Mourinho, aliás este é o único sistema de marcação inteligente:
"Marcação individual não existe. Por função, existe mas eu não acredito. Marcação por zona com pressão, esta sim é a marcação eficaz", defende, no livro "Porquê de tantas vitórias". Eu assino embaixo.
Em todo caso, o 3-5-2 e o 3-6-1 são os sistemas da moda, disseminados no Brasil, e com muito sucesso. Usam a marcação individual por função. E contra números, eu não posso brigar.
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