O 4-5-1 da Seleção Brasileira sub-20, idêntico ao sistema de Dunga no time principal |
A Seleção Brasileira que estreou hoje com vitória sobre a Costa Rica a campanha no Mundial sub-20 do Egito se utiliza de um conceito defendido no Grêmio pelo técnico Paulo Autuori: disseminar nas categorias de base o mesmo sistema tático adotado pela equipe principal. Assim, sempre que necessário, os garotos convocados para o "time de cima" saberão exatamente como cumprir cada função, sem precisar se adaptar.
O Brasil sub-20 de Rogério Lourenço joga exatamente igual ao Brasil de Dunga. O sistema tático escolhido é o 4-5-1, com linha de quatro defensores, dois volantes à frente, três meias ofensivos e um centroavante de referência. A estratégia também é idêntica: segurança defensiva amparada na obediência tática, para sair rapidamente em contra-ataques. E há ainda outra característica originada na Seleção principal - a eficiência nas jogadas de bola parada.
E na sub-20, quem desempenha a função de Kaká é o meia Giuliano, do Inter. Com a camisa 10 e a braçadeira de capitão. É bom ressaltar para quem gosta de compreender errado as análises, levando para odiosas rivalidades, que não estou comparando tecnicamente Giuliano com Kaká. Não estou falando das características dos dois jogadores, que são bem diferentes. Mas sim da tática individual.
Neste espelhamento do sistema 4-5-1 da Seleção principal na sub-20, Giuliano é o meia-ofensivo central da segunda linha. Ao lado ele tem Paulo Henrique (um pouco mais recuado, como faz Elano), à direita; e Alex Teixeira, à esquerda (com o "pé invertido" e bem adiantado, como faz Robinho). Neste desenho, Giuliano é o responsável pela distribuição das jogadas, pela transição rápida para o contra-ataque, e pela aproximação com Alan Kardec, seu futuro companheiro de Inter, que cumpre o papel do Luís Fabiano.
Giuliano, como ponta-de-lança deste 4-5-1, brilhou na partida contra a Costa Rica. No 1ºtempo, concluiu a gol quatro vezes - acertou a trave em uma, e marcou um golaço em outra. E na bola parada, afirmou esta nova característica do futebol brasileiro, dando as assistências para os dois gols de Alan Kardec (uma cobrança de escanteio, e outra de falta lateral). Fez lançamentos longos, passes curtos, apareceu para o jogo, chamou tabelas, driblou. Jogou muito. Tite deve ter assistido, e lamentado muito esta convocação. Giuliano comprovou hoje a falta que faz ao Inter.
Uma diferença da sub-20 para a Seleção do Dunga é a inversão constante entre Giuliano e Paulo Henrique. Em diversas oportunidades o camisa 10 colorado passou do meio para a direita, trazendo o santista para a organização, principalmente quando foi necessário equilibrar a velocidade nos dois lados. Alex Teixeira oferece estadinâmica, já Paulo Henrique segura demais a bola, e aí o lado direito se torna lento na comparação com o setor oposto. Essa inversão costuma confundir a marcação, e às vezes acontece - muito pouco, é verdade - no time de Dunga.
Problemas: a sub-20 tem dois problemas, não táticos, mas técnicos. O primeiro é o pragmatismo dos laterais. Nem Douglas na direita, nem Diogo na esquerda, apoiam com qualidade. Sobem pouco, ao contrário do que fazem Maicon e André Santos. E nas raras investidas, deixam espaços - o que leva ao segundo, e principal problema: o lado esquerdo.
Há uma certa vulnerabilidade no lado esquerdo. Alex Teixeira posiciona-se espetado pelo lado, quase como um atacante. Maylson, do Grêmio, é o volante responsável por esta cobertura, mas sai muito, passa da linha da bola, pela origem que tem de meia mais adiantado. E Diogo é a legítima avenida - cometeu um pênalti não marcado, e passou boa parte do jogo sendo envolvido e sem cobertura. O problema é tão evidente que ainda no 1º tempo Lourenço inverteu Maylson e Souza, trazendo o jogador do Vasco - um volante mais típico - para a esquerda, na proteção a Diogo.
O mais interessante disso tudo é saber que há nas seleções brasileira o fortalecimento de uma cultura tática. Disseminar o 4-5-1 da principal de Dunga nas categorias de base é uma atitude coordenada e inteligente. Se perdurar a "era Dunga" na Seleção, com seu 4-5-1 consolidado, é possível que aos poucos a Seleção Brasileira assuma o 4-5-1 como sua tática, abandonando de fez o 4-4-2 em quadrado que nos caracterizou por muitos anos.
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