Simulação da passagem da linha da bola de Adílson, que desguarnece a frente da área e expõe os zagueiros |
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Eu gosto muito dos conceitos de Paulo Autuori, respeito o trabalho dele, e acredito em sua competência. Sábado, entretanto, discordei de algumas decisões dele. A principal foi a escalação de Adílson como titular do Grêmio. Nada contra o Adílson, que tem virtudes e é um jovem relativamente promissor. Mas dos 11, procura-se sempre escalar os melhores em cada posição.
Adílson não é o melhor segundo volante do Grêmio. Ele também não é, definitivamente, primeiro volante. Mas com ele e Rochemback, o Grêmio entregou o meio-campo ao Vitória. Perdeu o controle do setor mais importante, consequentemente perdeu o controle da partida, e escapou da primeira derrota em casa depois de um ano de invencibilidade - mantida com o 1 a 1 conquistado no final.
Com Rochemback, Adílson é reserva. Por mais "comum" que seja Túlio, ele é o único primeiro volante do Grêmio. Não pode sair da proteção à área, passando a lateral, somente para que Adílson permaneça na equipe. Essa escolha de Autuori desestruturou o sistema de marcação do Grêmio, as coberturas dos laterais, e expôs os zagueiros ao contato direto com os atacantes Roger e Neto Berola.
Contra o Vitória, o Grêmio jogou em um 4-4-2 um pouco diferente do usual. Autuori abriu e adiantou Douglas Costa muito mais do que faz com Tcheco. Souza também se adiantou. O setor perdeu o desenho de "quase linha" que tinha com Tcheco-Souza, passando a ser escalonado em dois volantes bem centrais, e dois meias bem ofensivos. O que comprometeu a estratégia - além de outros problemas, é lógico - foi a movimentação de Adílson.
Adílson passa demais da linha da bola. Mas acrescenta quase nada ao setor ofensivo. Participa muito, produz pouco. Após 23 rodadas, não lembro de algum gol que tenha contado com a participação de Adílson - nem sequer de alguma conclusão dele, ou assistência, ou penúltimo passe. Posso estar sendo injusto, mas não consigo mesmo resgatar na memória alguma jogada ofensiva que tenha tido participação de Adílson, e terminado em gol do Grêmio.
Ou seja: o apoio de Adílson em nada contribui. E, para piorar, quando a equipe perde a posse de bola, há um buraco no meio-campo gremista. Um rombo estarrecedor. Ele passa da linha da bola, e no retorno está sempre atrás do contra-ataque. Obrigando Réver a sair da área. É um rastilho de pólvora, um efeito em cadeia, desorganizando todo o sistema defensivo.
Quero deixar claro, entretanto: não estou culpando especificamente o Adílson pela quase-derrota. Foi uma sucessão de movimentos sem sincronia da equipe. Se Adilson passou da linha da bola sem contribuir no ataque, e se assim a zaga se desguarneceu, algo houve que permitiu o erro. Faltou Autuori mandar Adílson parar de subir e guardar posição, ou trocá-lo por algum polivalente que faça a lateral-direita, trazendo Túlio de volta ao meio.
Houve ainda, no sábado, um outro problema - sem relação com este primeiro: Douglas Costa aberto bloqueando Lúcio pelo lado - movimento também descrito no diagrama tático que ilustra o post. Ao invés de triangular com o lateral-esquerdo, ele concorreu com Lúcio pelo espaço. Marcou Lúcio. Não fez nenhuma jogada de linha de fundo, não deixou Lúcio fazê-las, e não entrou em diagonal nenhuma vez para abrir caminho e arrastar a marcação, permitindo a Lúcio chegar. Outra oportunidade dada a Douglas Costa, outro jogo aquém desta imensa expectativa alardeada. Teria sido melhor, acredito, invertê-lo com Souza, que faria as diagonais para concluir, e abriria o corredor para Lúcio.
Parêntese fechado, reitero meu pensamento: com Rochemback - que tem melhor passe, e na passagem da linha da bola certamente contribuirá com assistências e conclusões a gol - o Grêmio precisa de um primeiro volante. Não é Adílson. É Túlio, a não ser que se descubra uma terceira opção no elenco. Com ambos - Adílson e Rochemback - seguirá este buraco, e a defesa desguarnecida.
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