Diagrama tático do Palmeiras no jogo contra o Sport Recife, esquema que talvez seja mantido contra o Grêmio |
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É difícil se posicionar contrário à convicção tática de um treinador tricampeão brasileiro, e de forma consecutiva. Contestar as escolhas de Muricy Ramalho soa um contrasenso gigantesco, na velha máxima da teoria contrariada pela prática. Mas como o blog Preleção não se fundamenta na análise de resultados - bom quando ganha, ruim quando perde - mas sim na análise de desempenhos e no debate de ideias, preciso desabafar: lá vem o Muricy de novo...
Assisti ao Palmeiras no 3-6-1 contra o Sport Recife. Uma atuação burocrática, pragmática, chata, sonolenta. O Palmeiras entrou em campo para não sofrer gols. Para não perder. Temeu tanto a derrota que passou a impressão de que não tinha nenhuma vontade de vencer. Apenas fazia passar o tempo, defendia-se, dava chutões a esmo, trocava passes inócuos e sem objetividade. Resultado? Palmeiras 1 a 0 Sport, fora de casa. O gol, vale destacar, surgiu de um não-chute de Obina. O Palmeiras venceu marcando um gol sem chutar, neste lance, no gol.
No 3-6-1 bem brasileiro de Muricy, o Palmeiras tem quatro zagueiros (Maurício Ramos, Danilo, Marcão e Edmílson), dois laterais de atribuição defensiva (Armero e Wendell), um primeiro volante (Pierre), um apoiador-marcador (Cleiton Xavier), um ponta-de-lança (Diego Souza) e um atacante (Obina). Um dos zagueiros também é volante, e atua no meio-campo (o Edmílson).
A estratégia é a mesma do 3-5-2 de Muricy no São Paulo: priorizar a defesa, bloquear os lados do campo, sustentar uma fortaleza aérea defensiva, ceder posse de bola e recuar ao próprio campo com a intenção de especular em contra-ataques rápidos. A saída de bola se dá pela ligação direta, ou na combinação pelos lados entre zagueiros e laterais.
Contra o Sport, na direita Maurício Ramos subia, empurrando Wendell para frente. E na esquerda, Marcão fazia o mesmo movimento - alternado, nunca simultâneo ao outro lado - jogando Armero à frente. Edmilson e Pierre pouco apoiam, bloqueando a frente da área e transformando-se em zagueiros quando Marcão ou Maurício sobem. Cleiton Xavier é praticamente um segundo volante, enquanto Diego Souza faz a ligação possível entre o setor e Obina, sempre isolado, no pivô. Geralmente, Obina é acionado no lançamento longo de Edmílson, alto, para que Diego Souza pegue a segunda bola.
A marcação apresenta o mesmo problema do 3-5-2 brasileiro: é por função. Os alas marcam os laterais adversários, volantes pegam meias, meias pegam volantes, e por aí vai. Não se sabe, entretanto, se Muricy vai usar o 3-6-1/3-5-2 contra o Grêmio porque Armero foi expulso. Talvez ele escale Jefferson na lateral-esquerda, mantendo o sistema tático. Ou então coloque Marcão por ali, entrando Ortigoza ou Souza, e mudando a equipe para o 4-4-2/4-5-1.
Para o Grêmio, será excelente que o Palmeiras mantenha o 3-6-1. Graças à marcação defeituosa adotada. O Grêmio, no 4-4-2 ou no 4-5-1 (se Douglas Costa entrar) joga com os meias abertos pelos lados. E os alas palmeirenses marcam os laterais por função. Basta ao Grêmio segurar seus laterais no campo defensivo para atrair Jefferson e Wendell "para cima", abrindo um gigantesco espaço entre os alas palmeirenses e os zagueiros.
Neste espaço, Souza e Douglas Costa jogariam com campo para desenvolver velocidade, e em contato direto com os zagueiros Marcão e Maurício, eliminando a sobra - Maxi López ficaria sozinho com Danilo. E, como a marcação é por função, os volantes não podem sair para dar a cobertura, senão desmarcam Tcheco e Adílson, abrindo a frente da própria área. É um dilema: se o volante fica, os meias jogam às costas dos alas; e se o volante cobre, desguarnece o meio-campo. O Grêmio perdeu vários Gre-Nais este ano com Tite explorando a deficiência de marcação do 3-5-2 de Roth, exatamente assim.
Mas, vale lembrar, isso tudo é uma ponderação caso o Palmeiras siga com três zagueiros hoje à noite. Caso isso se confirme, aposto em bom resultado para o Grêmio. Mesmo sabendo que Muricy sabe como ninguém conquistar um golzinho fortuito, em contra-ataque ou bola parada, fechando-se e sustentando o resultado. Foi assim nos últimos três anos, foi assim contra o Sport Recife...
Ressalto que respeito as opiniões contrárias à minha, admito que minha crítica não se sustenta nos resultados, e que Muricy é um grande vencedor, e técnico muito competente. Mas me permito desgostar desta convicção tática.
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